30 de março de 2012

SEGURO, MAS POUCO. Não foi a primeira vez que António José Seguro veio dizer ao país que prefere não discutir determinados assuntos em público, alegando questões de Estado, que devem ser discutidas em privado. Anteontem voltou à carga: não se deve discutir em público a eventual aprovação de uma regra constitucional que prevê um limite ao défice. Ora, por que não? Portugal está na eminência de ser invadido pelos espanhóis e há uma estratégia de defesa que convém não divulgar? Por que não se pode discutir publicamente um assunto (a «regra de ouro») que deve ser discutido publicamente? Imagino que os cidadãos gostariam de saber o que pensam os políticos sobre tão delicada matéria, nomeadamente os dois principais partidos políticos, e que os seus dirigentes esgrimissem publicamente as suas divergências caso existam divergências. Se o secretário-geral do PS se sente mais confortável a discutir política em privado, como já ouvi quem dissesse, então seria melhor dedicar-se a outra actividade.
TIRO AO SÓCRATES. A história do canudo de Sócrates foi, desde o início, mal contada, e complicou-se à medida que surgiram novos detalhes. Por mais voltas que dê, o ex-primeiro-ministro ficará para sempre com a fama de ter obtido uma licenciatura de maneira, digamos, pouco ortodoxa, para dizer o mínimo. Outros histórias há que levantam dúvidas, como o caso Freeport, mas a verdade é que as notícias foram tão contraditórias desde o início que se torna difícil perceber o que se terá realmente passado, quem fala verdade e quem mente. Dito isto, não haverá, em Portugal, assuntos mais importantes que o tiro ao Sócrates? Esqueceram-se que Sócrates já não é primeiro-ministro, nem, sequer, líder da oposição? Ignoram que Sócrates já não tem o poder de outrora, que hoje pouco mais é que um cidadão como os outros, e que até Vasco Pulido Valente já lhe escreveu o epitáfio? Como em tempos escrevi, Sócrates nunca me mereceu simpatia. Nem como primeiro-ministro, nem como líder da oposição, nem como pessoa. Mas parece-me demasiado toda esta histeria à sua volta e à volta de quem hoje nega o que disse ontem desdizendo o que disse anteontem, e entristece-me que gente que admiro se meta, nos media, a fazer insinuações sem a mais leve prova. Há coisas mais importantes com que o país se entreter, e parece-me evidente que é cedo para o julgar.

28 de março de 2012

BATER NO CEGUINHO. O tiro ao Crato que o professor Castilho semanalmente pratica no Público desde que Nuno Crato é ministro da Educação deve-se a um de dois motivos: ou Nuno Crato é mesmo mau, e tirando o professor Castilho não se tem visto grandes críticas por aí; ou o professor Castilho tem um problema com Nuno Crato que transcende largamente a política educativa. Como já perceberam, inclino-me para a segunda hipótese, que o desempenho do ministro, tirando os suspeitos do costume (que até têm estado mais calmos do que o habitual), não tem sido alvo de grandes críticas. Li que o professor Castilho contava ser ministro da Educação, e que a certa altura aconteceu não sei quê e foi descartado. Vai daí, é um destilar veneno que até mete dó. As crónicas do ilustre professor, invariavelmente a criticar Nuno Crato, são puro ressentimento. É pena que o cavalheiro não perceba que estar sempre a bater no ceguinho acaba por ser contraproducente. Por mais razões que lhe assistam, o que nem me parece o caso.
MILLÔR FERNANDES, 1924-2012. «De todas as taras sexuais, não existe nenhuma mais estranha do que a abstinência.»
PROBLEMA DE AMORES? Vá ao Consultório Sentimental.
FERREIRA FERNANDES. «Ontem não cumpri uma das leis do jornalismo, a da proximidade, e não me interessei pela transmissão da Champions onde jogavam seis ou sete portugueses. Em vez desse jogo em Chipre, Apoel-Real Madrid, estive a ver o Benfica-Chelsea, apesar de só terem aparecido três portugueses e, esses, morando no Oeste de Londres.»

27 de março de 2012

DESPENALIZEM-NO. Provavelmente o ciclismo é o desporto profissional que mais usa substâncias proibidas para aumentar o rendimento dos seus atletas — ou, então, é o desporto profissional mais vigiado. Não há época velocipédica que não se detecte o chamado doping em figuras de primeira linha, e são tantos os exemplos que não é exagero suspeitar-se que a generalidade dos ciclistas consome substâncias proibidas. A diferença é que uns são apanhados, outros não. Não faço ideia se o espanhol Alberto Contador, último caso conhecido, é inocente do que foi considerado culpado, como o ciclista reclama, mas a verdade é que não me lembro de um único ciclista admitir o consumo de substâncias proibidas, mesmo depois de todas as evidências, e também não me lembro de um recurso dar razão ao acusado. Defendo, por isso, o fim do controlo anti-doping, que cada atleta ingira livremente o que muito bem lhe apetecer — antes, durante ou depois de competir. Afinal, o doping sempre existiu — antes e depois do controlo, antes e depois de novas substâncias passarem a constar da lista de produtos proibidos. Apesar da vigilância cada vez mais apertada, o doping continua a existir, e salvo um ou outro percalço o crime compensa. Aliás, como saber se os inventos de Thomas Edison não resultaram da ingestão de químicos que mantinha por perto, nomeadamente cocaína, morfina, estricnina e ópio, além de um tal vinho Mariani, que entre outros ingredientes conteria cocaína? Como saber se a teoria da relatividade de Einstein não resultou do consumo de coca ou LSD, este último detectado no sangue após a sua morte? Como saber, afinal, se os grandes feitos da Humanidade não resultaram, todos eles, da ingestão de substâncias que potenciaram o desempenho do corpo ou da mente, proibidas ou não? E mudam o quê se vier a demonstrar-se que assim foi?

23 de março de 2012

BANALIZAR A GREVE GERAL. O líder da CGTP justificou o fracasso da greve geral de ontem (muito menos adesão do que desejava, mesmo em empresas onde as adesões costumam ser elevadas) com o argumento de que «os trabalhadores estão com medo de fazer greve», e porque houve «intimidação no local de trabalho». Dando de barato que isto é verdadeiro, que benefícios teriam alcançado os grevistas caso o número fosse significativamente maior? Quais eram, já agora, os objectivos desta greve geral? Que eu saiba, a ideia foi protestar por protestar, e o resultado foram incalculáveis prejuízos para o país e zero benefícios para os trabalhadores. Pior: banalizou-se a greve geral, uma espécie de bomba atómica que apenas devia ser usada pelas centrais sindicais em circunstâncias excepcionais.
COISAS EVIDENTES. José Manuel Pureza no DN de hoje: «O facto de serem os juízes a interpor uma ação judicial [contra membros do anterior Executivo] que eles próprios vão julgar causa engulhos a qualquer defensor do princípio básico da separação dos poderes.» Vasco Pulido Valente no Público de hoje (disponível só para assinantes): «Nada explica que a Procuradoria-Geral da República e os tribunais tomem sobre si o encargo de fazer justiça em matéria política: um serviço que obviamente lhes não compete e que, levado ao extremo, pode alterar o equilíbrio constitucional da República.»

22 de março de 2012

QUE A COLUNA NUNCA LHE DOA. Até ver, António Costa é o mais forte candidato a candidato à Presidência da República — apesar de Santana Lopes, de Marcelo Rebelo de Sousa e Durão Barroso, todos hipóteses a não desprezar. Deve ser por isso, portanto, que o João Gonçalves já mudou de opinião sobre o edil lisboeta, sobre quem ainda há pouco disse cobras e lagartos, como aqui lembra o Filipe Nunes Vicente. Quem sabe se o actual assessor do ministro da propaganda assim transite directamente do gabinete de Miguel Relvas para um qualquer gabinete de António Costa caso António Costa seja, evidentemente, candidato, e sendo candidato vença as eleições. Só não muda de opinião quem nunca teve uma opinião, como também lembra o Filipe — e é costume dizer-se que só os burros não mudam de opinião. E burro é coisa que o João Gonçalves não é.
O PGR JÁ ABRIU UM INQUÉRITO? FC Porto queixa-se ao Ministério da Educação por causa de professora "ayatollah"

21 de março de 2012

POETAS DE ÁGUA DOCE. Terminaram cedo as minhas veleidades poéticas, logo após a leitura de Pessoa, e depois de Cesário, Sophia, Herberto e do senhor O’Neill, quase senti vergonha de ter feito uns versinhos. Reza a lenda que somos um país de poetas, embora desconfie que também outros países reclamem o mesmo estatuto. Mas quando alguém diz que somos um país de poetas, apetece-me acrescentar que somos um país de poetas de água doce, expressão como o dicionário define os poetas de maus versos. Os exemplos são muitíssimos, e há-os para todos os gostos. Qualquer analfabeto que conhece uns rudimentos da língua em que diariamente se expressa consegue alinhavar uns versinhos em que a bota emparelha com a perdigota, e por isso se julga à altura de dar à estampa ou mesmo de antologia — e é vê-lo como incha de gozo quando alguém o trata por poeta ou adjectivos assim. Mas não me refiro apenas à poesia popular — ou ao gosto popular, ou como lhe queiram chamar. Refiro-me também à poesia que passa por ser erudita, mas que no fundo é um mero jogo de palavras que tem tanto de erudito como a Modestine de Stevenson — e se destina, claro está, a impressionar os pategos. Sim, hoje é Dia Mundial da Poesia, soberana ocasião para nos embebedarmos de versos e cantarmos as musas. Mas eu permaneço sóbrio, estranhamente sóbrio, e talvez mais logo leia as últimas páginas de um livro divinamente escrito por um cavalheiro que nada sabia de versos.
VÍRGULAS. «Há sempre uma vírgula [no sistema legislativo português], um artigo, um parágrafo a acrescentar. Todos conhecemos o resultado final. A complexidade do nosso sistema legislativo paralisa-o e é uma das principais causas da morosidade e da ineficácia do sistema jurídico», lê-se no editorial do Público de hoje (disponível só para assinantes), que louva a iniciativa de criar uma comissão para simplificar a legislação produzida pelo Parlamento. Ora, a que se deve o excesso de vírgulas ou as vírgulas fora do lugar? Estão lá por incompetência de quem redigiu as leis (ou as aprovou, ou as duas coisas), ou foram lá postas de modo a gerar equívocos, buracos muitíssimo oportunos em certas ocasiões, interpretações de toda a ordem e feitio, que depois são explorados em benefício próprio por uns senhores que, certamente por coincidência, são os mesmos que fizeram essas leis?

19 de março de 2012

PÉSSIMOS EXEMPLOS. Depois da TAP, porque o Governo entendeu que a TAP é «uma empresa em concorrência e que está em fase de privatização», também na Caixa Geral de Depósitos não serão feitos os cortes salariais previstos para a generalidade das empresas do Estado, ao que parece por razões idênticas. E mais excepções virão, como se viu poucos dias depois, com os trabalhadores da Casa da Moeda a exigir o mesmo tratamento. Ora, o que significam as excepções? Significam, antes de mais, que o Governo recuou, atitude que por si só não me parece condenável. O problema é que este recuo significa despenalizar alguns dos trabalhadores do sector empresarial do Estado que mais privilégios têm, e isso é inaceitável. Inaceitável, e escandaloso. O sr. Presidente da República, que ultimamente tagarela por tudo e por nada, não tem nada a dizer sobre esta matéria?

16 de março de 2012

SENSO COMUM. De economia pouco mais sei o que vem nos dicionários, mas como aguentar a austeridade em curso (e o mais que se adivinha) sem crescimento económico? A austeridade em vigor produz inevitavelmente falências e desemprego, logo menos receita para o Estado — que mais tarde ou mais cedo ver-se-á obrigado a ir buscar mais dinheiro aos bolsos dos portugueses, de que resultarão ainda mais falências, ainda mais desemprego, e ainda menos receita. Com a economia a não crescer (nem se vê como possa crescer no actual cenário), e como consequência as receitas do Estado a diminuírem (ou a manterem-se à custa de ainda mais sacrifícios), a política em curso não pode acabar bem. Mais do que uma querela entre entusiastas da intervenção do Estado na economia e defensores do mercado livre, teorias aplicadas com sucesso em alguns casos e desastrosas noutros, parecer-me-ia útil pôr de lado as cartilhas e encarar a questão pelo senso comum. E o senso comum diz-me que por aqui não vamos lá, embora também eu não saiba por onde ir.

14 de março de 2012

O FIM DO MUNDO. Desde que me conheço que me lembro de pairar sobre as nossas cabeças uma qualquer ameaça, real ou imaginária, prometendo mandar a nossa insignificante vidinha para o maneta. Agora é a Grécia que ameaça dar cabo do que resta da Europa, ontem foi a gripe das aves que ameaçou dizimar meio mundo, amanhã será o Irão que varrerá Israel do mapa se entretanto não suceder o contrário. Atribuo, por isso, escassa importância às catástrofes anunciadas, e lembro-me invariavelmente de quem, há séculos, já dizia que Portugal estava à beira do abismo, e a verdade é que ainda aqui estamos. Aliás, terão notado que as catástrofes de que temos sido vítimas (catástrofes naturais, económicas, políticas) ninguém as previu ou anunciou, ao passo que as catástrofes previstas, geralmente anunciadas com grande alarido, nunca se concretizam. Claro que a vida sem dramas e perigos eminentes seria demasiado monótona, e sem estas profecias os media ver-se-iam ainda mais aflitos do que já andam. Mas convém não entrar em alarmismos infundados, que a realidade já nos assusta que chegue.

13 de março de 2012

BIOGRAFIAS. Percebo que as biografias invariavelmente comecem pelos mais verdes anos dos biografados, mesmo pelos antepassados mais remotos, mas a verdade é que raramente vislumbro interesse nos verdes anos e nos antepassados, e quando isso sucede (e sucede quase sempre) geralmente canso-me antes de chegar ao que me interessa, acabando por adiar a leitura para melhores dias. Dos biografados apenas me interessa o que respeita à obra, a não ser que as origens dos biografados os tenham marcado de forma determinante, o que, admito, sucede em alguns casos. Mas tirando o que me parecem excepções, os verdes nada acrescentam. Quando muito acrescentam dezenas de páginas, às vezes centenas, que biografia que se preze tem largas centenas de páginas, que há que encher a todo o custo. Sou dos que lê vários livros ao mesmo tempo, mas nem isso explica as dezenas de biografias começadas e só meia dúzia acabadas.

9 de março de 2012

LAMENTÁVEL. Já aqui defendi a necessidade de ajudar o Presidente da República a terminar o mandato com dignidade. Como hoje voltou a demonstrar-se, não vai ser fácil. Cavaco insiste em protagonizar episódios lamentáveis e despropositados, que apenas servem para distanciar ainda mais os cidadãos dos políticos em geral e dos governantes em particular, e desbaratar o escasso respeito que os portugueses lhe reservam. A «falta de lealdade institucional histórica» do então primeiro-ministro José Sócrates para com ele, Presidente da República, de que Cavaco se queixa no prefácio de um livro, poderá ter acontecido, mas quem já se esqueceu das escutas que a Presidência insinuou que o Governo lhe terá feito que terminaram com Cavaco a meter os pés pelas mãos na mais lamentável declaração ao país de que há memória? O Presidente Cavaco não tem, de facto, autoridade moral para se queixar de falta de lealdade. Nem autoridade, nem sentido de Estado. Afinal, o episódio mais não é que um mero ajuste de contas, que só o diminui como Presidente.

8 de março de 2012

ORTOGRAFIA E IDEOLOGIA. Quem tem seguido a polémica à volta do Acordo Ortográfico, antes e depois de ser aprovado, há-de ter reparado que a generalidade da esquerda foi, e continua a ser, a favor, e a generalidade da direita foi, e continua a ser, contra. Há-de ter reparado mais: tirando um caso ou outro, geralmente porque as publicações onde trabalham (ou colaboram) adoptaram a nova grafia, os nossos melhores cronistas (falo apenas do ponto de vista estilístico) escrevem como se o Acordo não existisse. Porque têm dificuldade em adaptar-se à nova grafia? Porque a mudança implica um esforço que não estão dispostos a fazer? Porque sempre escreveram assim? Não me parece. O que significa, então, esta disputa entre esquerda e direita a propósito do Acordo? Que a esquerda, adoptando o Acordo, é moderna, e a direita, recusando-o, é retrógrada? Que os nossos melhores praticantes da língua a escrever na imprensa (para não falar dos blogues) são de direita ou andam lá perto, é um facto indesmentível, concorde-se, ou não, com as ideias que defendem. Já a esquerda parece adoptar o Acordo porque é moderno, porque será uma atitude progressista, porque sim. Convenhamos que os argumentos são tão incipientes que nem vale a pena rebater, embora, há que dizê-lo, nada surpreendentes. Afinal, há muito que a esquerda nos habituou a vê-la defender ideias que nem como tal se aguentam, e quase sempre impraticáveis. Estou à vontade para dizer o que digo: ao contrário do que muitos julgarão, sou, como sempre fui, independente. E ser independente significa, para mim, concordar com a direita em todos os casos que achar que a direita tem razão, e discordar da esquerda em todos os casos que achar que a esquerda não tem razão. Ou o contrário. Tenho, em política, um princípio sagrado: sou a favor do que julgo estar certo, contra o que julgo estar errado. Implique isso estar ao lado da esquerda ou contra ela, implique isto estar ao lado da direita ou contra ela. A política é demasiado complexa para que possa ser vista a preto e branco, como tende a ser vista pelos fiéis de ambos os lados — embora eu nada tenha contra quem esteja de um lado ou do outro, e não me custe reconhecer que há quem lá esteja e pense pela sua própria cabeça.
ORTOGRAFIA. É lamentável que o jornal que provavelmente melhor trata a língua portuguesa, e que até tem um provedor especialmente atento a ela, tenha trocado o por que pelo porque, embora já lá tenha visto erros bem mais grosseiros. Mas aproveitar o erro para lembrar que o Público aderiu ao novo Acordo Ortográfico, como fez o Filipe, é uma inverdade que o Público não merece. Então o Filipe ignora que o Público, benza-o deus, é dos poucos jornais portugueses que não só não adoptou o Acordo como se opõe a ele? E que é o jornal que mais tem contribuído para o debate sobre o dito, sem o qual provavelmente já o teríamos aceite como uma inevitalidade? Oh Filipe, preste lá um pouco de atenção ao Público, que diabo. Nem que seja para lhe detectar os erros e arrear-lhe em conformidade.

6 de março de 2012

COISAS ESTRANHAS. De facto, são muito estranhos os números da GfK, empresa alemã que substituiu a Marktest na medição das audiências televisivas. Estranhos porque a incompetência é tanta que se duvida que seja só isso, e mais estranho se torna quando é só a RTP a queixar-se de ter perdido, segundo a nova empresa, um terço das audiências. Não sou entusiasta das teorias da conspiração, mas cheira-me que isto traz água no bico. Resta saber se os números da Marktest eram mais rigorosos ou apenas mais generosos.
ISLÂNDIA. Não faço ideia se o ex-primeiro-ministro islandês é culpado pela falência da banca do seu país, nem se o tribunal que o julga por esse motivo será capaz de o condenar caso se demonstre que Geir Haarde é culpado. Mas agrada-me a ideia de haver um tribunal que pode julgar os governantes — ou ex-governantes — pelos seus actos.

2 de março de 2012

AO CUIDADO DA ASAE. Acabo de receber dois pares de mouras lá da terra (em alguns sítios também conhecidos por chouriços de sangue), que tenciono despachar daqui a pouco com uns grelos da Califórnia, duas batatas do Idaho, um fio de azeite da Toscânia, e um tinto do Cartaxo. Se tudo correr bem, no final haverá pão-de-ló, e um vinho fino que eu cá sei. Depois falamos de colesterol, de tofu, de ginástica, coisas assim.

1 de março de 2012

DO RESPEITO. Os políticos ignoram as perguntas dos jornalistas? Riem-se deles? Acusam-nos de deturpar o que dizem? Está mal, mas se calhar o primeiro culpado são os próprios jornalistas. Quem já não ouviu, nas televisões e nas rádios, perguntas parvas? Quem já não assistiu a directos que não acrescentam um milímetro ao que é dito em estúdio? Vem nos livros que para ser respeitado é preciso dar-se ao respeito, e os jornalistas nem sempre se dão ao respeito. Verdade que a culpa nem sempre é deles, que muitas vezes é de quem manda neles, também eles pressionados por «objectivos» que é preciso cumprir. Só que o jornalismo que abdicou de se dar ao respeito acabará por perder tudo o que dantes possa ter ganho. É que o respeito, uma vez perdido, jamais se recuperará.