19 de maio de 2019

FAKE NEWS. Numa altura em que os políticos começam a discutir o problema das chamadas fake news, e eventualmente propor legislação para lhes pôr cobro, o Parlamento russo começou por aprovar uma lei que condena, com prisão ou pesadas multas, quem, online, divulgar fake news ou fizer comentários «desrespeitosas sobre o governo», e poucos dias depois aprovou outra lei que permite ao Presidente Putin desligar a internet no país sempre que exista uma «ameaça à segurança nacional». Escusado será dizer que estas medidas servirão para que todas as notícias contra o Governo possam ser consideradas «desrespeitosas», e uma «ameaça à segurança nacional» será quando Putin quiser. Apesar das movimentações que se têm visto, ainda ninguém descobriu o remédio para as fake news, até porque o «fenómeno» não é novo. Graças às redes sociais, nomeadamente ao Facebook, multiplicaram-se astronomicamente nos últimos anos, porque o poder das fake news é enorme e muitíssimo barato. Encontrar-se-ão, quando muito, receitas que atenuem os seus efeitos, que reduzam o volume, que até ver o único remédio realmente eficaz é a censura. Sim, a censura, que os portugueses mais velhos ou sentiram na pele e abominam, ou não sentiram na pele e agora glorificam — porque a censura de Salazar e Caetano lhes mostrou um país que nunca existiu, e de que têm, naturalmente, saudades. Gostaria de estar enganado, mas as fake news só serão reduzidas à insignificância quando se preferir a verdade à «verdade» que convém. Enquanto houver quem se disposta a acreditar no que lhe interessa, haverá quem se disponha a dar-lhe o que lhe interessa. Não por passatempo, divertimento ou assim. As fake news tornaram-se uma arma de destruição maciça nas mãos de extremistas e de regimes autoritários, que as usam com grande eficácia e proveito. Urge, por isso, inventar a receita que cure a doença sem matar o doente.

1 de maio de 2019

BOAS NOTÍCIAS. Conhecido grande parte do relatório Muller, demonstrou-se, desde já, que a generalidade dos media fez o que lhe competia. Não há, até ver, um único episódio no relatório que não tenha sido prévia e certeiramente noticiado, excepto pelos media do costume. Mas se isto não surpreende, é bom que a sociedade tenha motivos para que possa confiar na generalidade dos media, tão enxovalhados têm sido nos últimos tempos. As «fake news» e os «inimigos do povo americano», como Trump designa tudo o que seja notícia que lhe desagrada e todos os meios que considera hostis, não passam, afinal, de tentativas malsucedidas de Trump calar vozes incómodas, como os episódios do CEO da Amazon e do tablóide National Enquirer bem o demonstram. Não é preciso ir muito longe para ver que o dono da Amazon é o mesmo do Washington Post, jornal que, fazendo o que se espera que faça, não lhe tem feito a vida fácil — e quanto ao Enquirer, que deu à estampa um affair de Bezos com o objectivo de o prejudicar, demonstrou-se que Trump tinha o hábito de comprar o silêncio do pasquim sempre que este desencantava uma história que não lhe convinha, e não custa a crer que fez publicar histórias que lhe convinham usando idêntico expediente. O pior é que o relatório do procurador-especial pouco mudará na sua base eleitoral, avessa aos media e entusiasta de propaganda. Começa-me até a parecer que são bem capazes de defender Trump mesmo que o sujeito fique impune por matar alguém em plena Quinta Avenida, como sugeriu, a brincar, na campanha eleitoral, mas o ex-advogado Michael Cohen já avisou que deve ser tomado a sério.