10 de agosto de 2012

FÉRIAS (1). Como os leitores terão reparado, os posts têm vindo a ser cada vez mais espaçados. É já o espírito das férias, que começam hoje mesmo. Se tudo correr como espero, serão escassos — ou nulos — os posts durante esse período. Regressarei a 3 de Setembro.

9 de agosto de 2012

MENTIRAS DE VERÃO. Como estivesse necessitado de leitura para férias e não tivesse nas estantes demasiados livros que ainda não li, acaba de me chegar mais meia dúzia, que sempre aguardo com a excitação e a impaciência com que ontem, criança, aguardava um novo brinquedo. Trata-se de My Life, de John Leonard, Italian Journey, de Goethe, Under the Sun, de Bruce Chatwin, Surreal Lives, de Ruth Brandon, Closing the Circle, de Auberon Waugh, e The Banquet Years, de Roger Shattuck. Se não mudar de ideias à última hora, acompanhar-me-ão, nos cinco dias que tenciono ausentar-me, The Banquet Years, de que já li metade, Doutor Fausto (Thomas Mann) e Servidão Humana (Somerset Maugham), que também vão a meio, além de algumas centenas no iPad. Perguntar-me-ão a que propósito vem isto, que só a mim interessará. Respondo com outra pergunta: a quem interessarão os livros que por esta altura a imprensa costuma recomendar como apropriados para ler no Verão? Como é evidente, interessam à imprensa, e apenas à imprensa, que nesta altura está sem assunto. Quem lê regularmente sabe o que há-de ler, no Verão e fora dele, e não precisa de recomendações de ocasião. Quem não lê, obviamente que não é no Verão que vai mudar de hábitos, muito menos vai ler o que dizem os jornais sobre tão entediante assunto. Como a «literatura de Verão», ou a literatura apropriada para ler no Verão (seja lá isso o que for), o aparente interesse dos leitores de jornais por leituras de Verão é uma falácia. Mais: ao contrário do que também se diz, nas férias lê-se menos que no resto do ano, e quem garante reservar para as férias não sei que livros, ou é ingénuo, ou mente.

7 de agosto de 2012

TELHADOS DE VIDRO. Se bem me lembro, Arons de Carvalho em tempos escreveu que Mário Crespo, então correspondente da RTP em Washington, lhe pediu que intercedesse em seu favor junto da administração da RTP num processo disciplinar de que então foi alvo, e que acabou por ditar o regresso de Crespo a Lisboa. Face à gravidade do que disse o actual vice-presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, na altura do pedido Crespo secretário de Estado da Comunicação Social, o actual jornalista da SIC não tugiu, nem mugiu. Posteriormente noticiou-se que Crespo tentou regressar a Washington pela mão do actual ministro que tutela a comunicação social, novamente como corresponde da RTP, processo que não terá corrido bem e cujos contornos não se perceberam (Crespo não era, como não é, jornalista da RTP, e ao que parece o cargo estará reservado a jornalistas da RTP). Não espanta, portanto, que Mário Crespo, que no tempo de Sócrates tanto pregou a favor da liberdade de expressão e na Assembleia da República chegou a protagonizar um episódio que envergonhou o jornalismo e os jornalistas, venha agora dizer que o ministro Miguel Relvas tenha, coitado, sido «a única vítima» no caso do canudo da Lusófona (via A Douta Ignorância), e que há uma campanha contra o ministro que tutela a comunicação social (via Vida Breve). Como dizia o outro, cada um trata a coluna vertebral como bem entende, e não se pede a Crespo que faça outra coisa. Escusava era de agir como se fôssemos estúpidos.
DESPERDIÇAR DINHEIRO PÚBLICO. Não tenho uma opinião definitiva sobre o futuro da RTP. Não sei se deve manter-se no Estado, se deve passar para os privados. Todos os canais, ou parte dos canais. Mas agora, que o Governo se prepara para vender um canal, a pretexto de que o Estado não deve possuir uma televisão (ou tem demasiados canais) e se torna imperioso reduzir as despesas (e de caminho encaixar uns milhões), insisto na pergunta que já aqui fiz: alguém me explica por que razão a RTP necessita de um correspondente em Washington? Haverá lá matéria que justifique uma delegação permanente? Considerando os custos que isso comportará, não ficaria mais barato à RTP deslocar de Lisboa uma equipa sempre que tal se justifique? Não será a delegação em Washington um claro desperdício de dinheiros públicos?

3 de agosto de 2012

A OBSESSÃO DE CASTILHO. Segundo o professor Castilho, não há nada, absolutamente nada, que o ministro Nuno Crato tenha feito como deve ser. Como julgo ser prática do ilustre professor, não acompanho ao detalhe o que se passa no Ministério da Educação, as medidas que têm sido tomadas, e o impacto que terão tido. Mas há, desde logo, uma evidência: quando se acusa um ministro de fazer tudo mal, torna-se claro que não é bem assim. Por mais incompetente que alguém possa ser, seguramente que não faz tudo mal. Há mais evidências: Castilho terá estado na lista dos ministeriáveis, precisamente para o Ministério da Educação, e por razões que desconheço não foi escolhido. Vai daí, nunca mais recuperou, e se não tem um problema pessoal com Nuno Crato, parece. A obsessão cresceu de tal modo que já não enxerga o óbvio: quanto mais bate no ministro, mais razão dá ao ministro. Uma pena. Porque não faltarão razões para questionar com seriedade as políticas do Ministério da Educação e quem o dirige.

2 de agosto de 2012

ROMNEY. É cada vez mais provável que votarei, de novo, Obama nas próximas Presidenciais, novamente porque Obama me parece, como há quatro anos, o menos mau. Como não bastassem os inúmeros erros já cometidos e as constantes mudanças de opinião sem que se vislumbre outro motivo que não seja oportunismo, Romney resolveu deslocar-se a Israel e deitar ainda mais gasolina na fogueira. O tradicional voto judeu no Partido Democrático, que as sondagens dizem estar a deslocar-se para o Partido Republicano, não explicam o desvario, muito menos a irresponsabilidade. Um sujeito que age como Romney agiu face a um problema tão sensível como o conflito israelo-palestiniano, que lida com a pólvora como quem lida com o mais trivial dos assuntos, só pode causar apreensão. Bem sei que as declarações de Telavive se destinaram a consumo interno, no caso ao eleitorado judeu. Mas nada disso apaga o que disse, e o que disse não se pode dizer. Aliás, parece-me evidente que Romney não dá grande importância à política externa, um erro que a história americana já demonstrou ser clamoroso.