23 de setembro de 2003

Sempre que as autoridades anunciam uma apreensão recorde de haxixe — como parece ter sido o caso na semana passada, com a apreensão de não sei quantas toneladas — vem-me à memória Maria Filomena Mónica, que diz estar convencida de que terá sido Eça de Queirós quem introduziu o haxixe em Portugal, pelo menos nos meios intelectuais. Não sei se assim foi ou não foi. Do que me parece não haver dúvida é de que Eça tomou contacto com o haxixe durante uma viagem ao Egipto, como relata a seguinte passagem de «O Egipto — Notas de Viagem»:

Fomos apenas uma vez ao bazar das drogas: procurávamos hachisch.
Hachisch?, — disse-nos Jonas Alli, — mas é proibido!
— Mas deve-o haver... sobretudo sendo proibido!
— Em primeiro lugar — respondeu ele gravemente — há três qualidades de hachisch: há hachisch em pastilhas...
— Pois venham as pastilhas!
— Há hachisch em bolo...
— Pois venham os bolos!
— Há hachisch em geleia...
— Então, venha a geleia!
Jonas Alli encolheu os ombros — e o olhar que nos lançou era cheio de um infinito desdém...