21 de setembro de 2004

Eu sempre tive respeito e admiração por Manuel Alegre, embora cada vez me reveja menos nas ideias que ele defende — e, já agora, nos métodos de as pôr em prática. E tenho admiração e respeito porque ele é um homem frontal, que pensa pela sua própria cabeça, mesmo que isso lhe custe alguns dissabores. Custa-me, por isso, ver Manuel Alegre manifestar preocupação com o processo eleitoral no PS, porque «toda a gente sabe que há 40 militantes a morar na mesma casa e até num cemitério, que há uma rua onde há mais militantes socialistas do que eleitores». Custa-me porque isto quer dizer que Manuel Alegre conhecia a situação mas nunca se ralou. Pelo menos nunca o ouvi protestar, e seguramente que eu me lembraria caso ele protestasse. Bem sei que ele já veio dizer que, caso perca, aceitará o resultado — e, presume-se, não usará o argumento para justificar a vitória do adversário. Mas não lhe fica bem na mesma vir, agora, falar acerca do que dantes calou. Por duas razões: em primeiro lugar, porque não deixa de insinuar que a suposta aldrabice favorece um dos adversários (José Sócrates); depois, porque já o devia ter dito há mais tempo.