4 de janeiro de 2006

Não havia mapas, nem sinais nas estradas: só trevas e confusão. Perdemo-nos uma dúzia de vezes. Outras tantas fizemos marcha-atrás. Encontrávamo-nos de repente em verdadeiros becos sem saída. Batíamos então à porta de casais sonolentos, onde ladravam cães, indagando se «aquela» era a estrada do Porto: não era. E andávamos nisto. A única vez que nos pusemos de acordo, incluindo eu, foi para enfiarmos por uma estrada que nos teria levado a Oliveira do Hospital ou até Espanha, se a certa altura o estado do pavimento, onde o Chevrolet roncava e balançava como no mar alto, não nos tivesse feito sentir que por aquele andar nunca mais chegávamos à Capital do Norte. Para tudo tornar mais melancólico e desolador, a chuva desabou de súbito, torrencial. Houve gritos de protesto contra a doçura lendária do nosso clima. O limpador do pára-brisas, enferrujado, não funcionava. Um dos faróis pôs-se a tosquenejar. Em breve a carripana metia água pelo tejadilho, e as rodas afundavam-se até aos eixos em poças turvas. Íamos em primeira. O Fonseca irritou-se com a esposa e mandou-a onde ele nunca tinha ido, apesar de gostar de viagens e de ter aquele Chevrolet capaz de tudo.
Rodrigues Miguéis, Uma Viagem na Nossa Terra