16 de janeiro de 2006

«Os dois principais culpados por estas crises [da justiça] e incidentes [fugas de informação, violação do segredo de justiça, etc.] são a menina da fotocópia e o rapaz da informática. Ela é nova, morena, filha de pais rústicos, usa calças justas, tem moralidade duvidosa, masca pastilha elástica, já trabalhou num centro comercial, fuma às escondidas do patrão, pertence a um grupo de esquerda, dá-se bem com a gente da comunicação social, dorme com um jornalista de direita, trabalha numa instituição nacional por onde passam segredos e informações delicadas, exerce funções menores de assistente de secretariado e arredonda os fins de mês com umas fotocópias que fornece à imprensa, a advogados, a polícias e a um ou outro juiz. Ele é novo, alto, filho de pais divorciados, desgrenhado, nunca usou gravata, fuma uns charros à noite, é capaz de penetrar em qualquer computador, navega nos sistemas herméticos dos bancos e dos partidos, frequenta os estádios de futebol, simpatiza com um grupo de direita, dorme com uma jornalista de esquerda, diverte-se a mandar vírus a uns inimigos seleccionados, trabalha numa grande empresa de comunicações, é considerado um talento excepcional para a electrónica, frequenta os bares povoados por assessores de gabinetes ministeriais e, por divertimento e dinheiro, vai coleccionando uns ficheiros informáticos que comercializa cuidadosamente. A menina especializou-se em papel. O rapaz em disquetes e CD.» António Barreto, Público