1 de fevereiro de 2006

A sensação com que fico após assistir à polémica da crítica literária é que ninguém faz fretes a ninguém, que não há capelinhas ou arranjinhos, que não se fazem omissões deliberadas ou se sobrevaloriza quem não merece. Mas devo dizer que o facto de os críticos se pronunciarem sobre os livros dos amigos — a questão que está no centro desta polémica — nunca me perturbou, até porque nunca soube quem é amigo de quem. Os meus problemas com a crítica literária (sim, também eu tenho problemas com a crítica literária) são os argumentos (quase sempre fraquinhos ou incompreensíveis) usados pelos críticos para defenderem este ou aquele livro. Que me falem bem do livro do amigo ou mal do livro do inimigo, é-me indiferente. O que eu quero realmente saber é o que pensam dos livros e com que fundamento. É que eu estou farto de críticas literárias que não dizem rigorosamente nada sobre os livros que é suposto criticarem, e de críticas que defendem uma ideia que os exemplos contrariam. São tantos os exemplos do que digo que sempre que ouço falar de crítica literária me vem logo à memória García Márquez quando, instado por um jornalista brasileiro a dizer o que pensava acerca dos críticos que analisavam a sua obra, respondeu deste modo: «A mi me gustan mucho los críticos, principalmente quando jugan fútbol.»