29 de janeiro de 2008

Evidentemente que se esperaria do bastonário dos advogados que não se ficasse por insinuações quando disse haver, em Portugal, quem ocupe «cargos relevantes no Estado» que comete crimes sem que haja forma «de lhes tocar». Afinal, Marinho Pinto não ocupa um cargo qualquer, e o facto de ser jurista deveria afastá-lo de situações que não ajudam quem pretende pôr-lhes termo. Como não bastasse, o bastonário ainda teve o desplante de dizer que falou na qualidade de «provedor do cidadão», como se o bastonário não fosse o cidadão e o cidadão o bastonário — ou como fosse possível perceber quando fala o bastonário ou quando fala o cidadão. Mas parece que o episódio, para alguns, não tem importância. Afinal, quem já não disse que os políticos são um bando de criminosos? Como se vê, a lógica do raciocínio demonstra que um erro justifica outros erros. Se outros disseram que há «cargos relevantes» a cometerem crimes sem que nada suceda, por que não pode o bastonário da Ordem dos Advogados dizer o mesmo? É aquilo que eu designo por lógica da batata, que há-de levar a que tudo acabe em nada, apesar do inquérito da Procuradoria-Geral da República e o mais que se anuncia.