20 de novembro de 2012

CUIDADO COM A TROPA. Otelo Saraiva de Carvalho avisou, há duas semanas, que pode haver uma revolução popular apoiada pelas forças de segurança e pelos militares caso o Governo não recue nas medidas de austeridade, embora o eventual apoio dar-se-ia, segundo ele, apenas «para evitar um surto de violência extremo». Como estarão lembrados, Otelo alertou, há um mês, para uma revolução «latente» (que não deverá, como o 25 de Abril, ser pacífica), e para o facto de ser diariamente confrontado com «anónimos» que lhe pedem uma nova revolução, «agora sem cravos», porque os limites foram, segundo ele, «ultrapassados», e há um ano defendeu um golpe de Estado para derrubar o Governo caso os limites fossem ultrapassados. Também Vasco Lourenço considerou há pouco que o actual Governo «perdeu a legitimidade há muito tempo», e ainda há coisa de três semanas deu como inevitável uma guerra na Europa. Entretanto, os militares no activo saíram à rua em protesto contra «as malfeitorias» de que dizem ser alvo, e também eles não se inibem de fazer ameaças mais ou menos veladas ao regime e a quem nele manda. Dirão alguns que a democracia não está em causa, que a União Europeia encarregar-se-á de a repor caso as coisas corram para o torto. Aparentemente, assim será, embora uma intervenção militar destinada a repor a ordem se arrisque a aumentar a desordem — e mesmo que as coisas corram como se espera uma intervenção deste tipo não impedirá que estes e outros senhores percam, um dia, a cabeça, e desatem aos tiros. Se isso suceder, enquanto o pau vai e vem, enquanto a Europa devolve os militares aos quartéis, seguramente que uns quantos acabarão na paz dos cemitérios. Como diria Vergílio Ferreira, serão os que terão a paz verdadeira.