10 de janeiro de 2014

JORNALISMO ANEDÓTICO. Forçado pelas circunstâncias a pronunciar-se sobre Eusébio, José Sócrates terá feito uma investigação apressada — e acabou a dizer que se lembrava muitíssimo bem do memorável Portugal-Coreia do Norte onde Eusébio foi rei e senhor, pois nesse mesmo dia o ex-primeiro-ministro estava na escola. O resultado desta revelação é conhecido: alguém se deu ao cuidado de «investigar» (ele há gente para tudo), e logo descobriu que o Portugal-Coreia do Norte foi, afinal, a um sábado, dia em que não há escola. Perante isto, a reacção só podia ser uma: risota geral. Sócrates foi novamente apanhado a mentir, coisa a que já nos habituou e alguns garantem estar-lhe na massa do sangue. Houve, porém, um percalço: um amigo de infância confirmou que nesse dia houve, de facto, escola, onde esteve na companhia de Sócrates e outros colegas. Resumindo, Sócrates não mentiu. Se a história tivesse moral, a moral seria esta: há sempre um desmancha-prazeres disposto a dar cabo de uma bela teoria com a mania dos factos, e um jornalista a omitir os factos se lhe derem cabo da história. (Ler, a propósito, as duas últimas crónicas de Ferreira Fernandes.)