28 de março de 2014

NA DESPEDIDA DE MÁRIO CRESPO. Alertado para uma «entrevista demolidora» de Mário Crespo à ministra da Agricultura e do Mar, fui ver. E que vi eu? Sinceramente, nada que me surpreendesse. Conheço mal o desempenho de Assunção Cristas, mas o pouco que sei não abona a seu favor. Mas se o que Mário Crespo fez é jornalismo, eu vou ali e já venho. De um entrevistador espera-se que faça perguntas, e os possíveis para as ver respondidas. Não se esperam opiniões ou comentários, como sucedeu inúmeras vezes. Quem vê uma entrevista quer saber o que o entrevistado tem a dizer, não o que pensa quem lhe faz as perguntas. Crespo passou a entrevista a fazer o contrário. Pior: passou o tempo a tentar que a entrevistada respondesse de modo que ele, Mário Crespo, pretendia. A sorte dele foi a ministra ter sangue frio para lhe aguentar as provocações, os constantes julgamentos sem direito a contraditório. Fosse outro o entrevistado, e tê-lo-ia deixado a falar sozinho. Mário Crespo, que ontem pôs fim à carreira, tem idade (e experiência) para controlar o que lhe vai na alma — além de esqueletos no armário que lhe retiram autoridade para dar lições de moral seja a quem for. Surpreende-me, por isso, que sempre tenha sido visto pela generalidade dos fazedores de opinião como um jornalista que vai do mau ao excelente conforme os amores ou desamores que Crespo tem pelas «vítimas» ou «felizardos» que lhe saem na rifa, e que ninguém lhe tenha questionado o profissionalismo. O profissionalismo, ou a falta dele.