3 de julho de 2014

CLARA E OS EMBUSTES. Por falar em Clara Ferreira Alves (CFA) e em ideias pré-concebidas, na mesma edição do Expresso onde publicou o provincianismo chique assinou uma entrevista a Carlos Cruz, a cumprir uma pena de prisão por abuso sexual de menores. Para começo de conversa, CFA afirma logo no preâmbulo: «Estou convencida, pela leitura do processo e do acórdão, de que não devia ter sido condenado. O que torna a prisão da Carregueira uma brutalidade e uma negação de justiça pelo Estado português.» E foi-o repetindo ao longo da entrevista, nomeadamente quando pergunta ao entrevistado: «Ele [juiz Rui Teixeira] parece ser alguém que gosta de dar nas vistas. Fazia-se fotografar de moto, no género aventura, sem perceber que um juiz não faz aquela figura nos tablóides.» Infelizmente, CFA não demonstrou por que está convencida da inocência de Carlos Cruz, muito menos avançou qualquer argumento que apontasse nesse sentido. Como escrevi quando foi conhecido o desfecho do caso, não sei se Carlos Cruz é culpado, ou inocente. Sei, todos sabemos, que foi condenado por vários juízes e pelo menos dois tribunais, e que o processo passou por demasiadas mãos para que a tese da conspiração ou assim seja uma hipótese a considerar — ou que tenha sido, como alguns garantem, um erro judiciário. Ao que parece, CFA terá evidências que outros não têm, mas infelizmente resolveu guardá-los para ela. É pena, em primeiro lugar, para Carlos Cruz, para quem qualquer ajuda seria, decerto, bem-vinda. Depois, uma entrevista que pretende demonstrar a visão da entrevistadora sobre determinado assunto (no caso coincidente com a do entrevistado), não é bem uma entrevista: é um embuste.