28 de novembro de 2014

JORNALISMO DE CACA. O aparato montado para a detenção foi, aparentemente, anormal, e o facto de alguns órgãos de comunicação social terem sido avisados para testemunharem o acto é inadmissível. Mas nada disto muda o essencial. E o essencial é que José Sócrates foi constituído arguido por suspeitas de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção, e que o juiz Carlos Alexandre considerou arriscado deixá-lo à solta enquanto aguarda julgamento — decisão, suponho, que não se toma de ânimo leve, e sem indícios seguros. Dito isto, é lamentável o circo mediático montado por alguns media, por sinal os mesmos de sempre, e vergonhoso algum «jornalismo» que por aí se pratica. É normal escrever que fulano é suspeito de práticas gravíssimas sem citar uma única fonte? Pelos vistos, a «jornalista» Felícia Cabrita e seus editores acham que sim. Não pode revelar as fontes, que pediram para não serem identificadas? Nesse caso, faz parte das regras informar-nos desse facto. Não ignoro que as fontes ditas «anónimas» servem para tudo e o seu contrário. Servem, por exemplo, para os autores das peças atribuírem a terceiros informações que eles próprios forjaram, e para as fontes realmente anónimas, sabendo-se a salvo de eventual punição, revelarem não o que sabem mas o que lhes convém que se saiba. Claro que nem tudo o que reluz é ouro, que as fontes anónimas são, por vezes, cruciais para se chegar à verdade — embora hoje em dia as fontes anónimas, que só deveriam ser usadas em casos excepcionais, banalizaram-se, e quase se tornaram a regra. Mas o ponto é que nada, absolutamente nada, dispensa o jornalista de sinalizar as fontes. Anónimas ou identificadas, credíveis ou nem por isso.