24 de dezembro de 2015

E AGORA O BANIF.

1. Perante a venda do Banif, segundo o primeiro-ministro a solução menos má, o anterior governo encolheu-se em toda a linha. A única coisa que se lhe ouviu foi que precisava de saber mais detalhes sobre o negócio com o Santander para se poder pronunciar, que tinha algumas dúvidas, e perante o anúncio de um inquérito parlamentar não manifestou a mais leve discordância. Tudo o resto foram explicações atabalhoadas, silêncios comprometedores. Se isto não é um claro assumir de culpas, vou ali e já venho. Aliás, viu-se ontem de novo, quando o PSD, num gesto humilhante que tentou passar como magnânimo, foi obrigado a abster-se para que o Orçamento Rectificativo (resultante do buraco do Banif) fosse aprovado, quando todos os outros partidos, à excepção do PS, votaram contra, incluindo o CDS-PP, ex-parceiro de coligação. Percebendo que não seriam necessários os seus votos para viabilizar o Orçamento, Partido Comunista, Bloco de Esquerda e CDS-PP deixaram que o PSD, que ainda há dias jurava nada fazer para sustentar este Governo, pagasse a conta. Para quê sujar as mãos com tão malcheiroso assunto se não havia necessidade?

2. Parece que o governador do Banco de Portugal garantiu, em 2013, que o Estado ganharia 10 por cento com o empréstimo que o mesmo Estado fez ao Banif. Como é sabido, a parte boa do Banif acaba de ser vendida ao Santander, e a parte má (ao que parece 2,255 mil milhões de euros) vai ser paga pelos contribuintes. Como o governador, por esta e por outras, não tem a dignidade de sair pelo seu próprio pé, que tal darem-lhe uma mãozinha?

3. Obviamente que os bancos não são todos iguais. Mas são cada vez mais os bancos que ontem eram seríssimos e à prova de bala e acabaram da forma que se conhece. Agora foi o Banif, ontem foi o BES, anteontem o BPN e o BPP, provavelmente amanhã será quem hoje é seríssimo e à prova de bala. Todos pelas mesmas razões: negligência, incompetência, vigarices de toda a espécie, às vezes tudo isto junto.

4. Quem é o responsável (ou responsáveis) pela hecatombe do Banif? Li várias notícias em vários jornais e não consegui vislumbrar. Vi que o banco foi para o maneta por razões várias (por causa da conjuntura, do sistema, do efeito sistémico, talvez do aquecimento global), mas responsáveis, até ver, é que não há. Se tudo correr como habitualmente, esta gente que hoje não tem nome nem rosto há-se estar, daqui a um mês, já devidamente reciclada, à frente doutra manjedoura qualquer.

5. O meu dinheiro sempre estará mais seguro no banco que debaixo do colchão, mas começo a duvidar. E não falo de investimentos, contas-poupança, produtos assim. Falo de contas à ordem, que pelo caminho que as coisas estão a levar, corro o risco de um dia passar um cheque sem fundos por me terem desviado os ditos para um esquema qualquer. Sei, apesar de tudo o que por aí vai, do que já se passou e do que estará para vir, que os bancos continuam a merecer, se não a confiança total, o benefício da dúvida. O problema é que a dúvida, num banco, já é má que chegue.