24 de junho de 2016

JORNALISMO NO CHARCO. O Correio da Manhã (CM) resolveu ameaçar quem, nas redes sociais, espalhou «boatos, calúnias e mentiras» contra o jornal a propósito de Cristiano Ronaldo, suponho que na sequência do microfone que o futebolista arremessou para um charco. Desconheço a gravidade do que foi dito para o jornal ameaçar com os tribunais, mas se chegou onde chegou, presumo que foi grave. Acontece que o CM poderá ter todos os motivos para processar quem o terá difamado, mas não tem autoridade moral para se queixar de boatos, calúnias e mentiras. Afinal, o CM vive disso, por regra impunemente. Não aplaudo o comportamento de Ronaldo — que tem, é bom não esquecer, um longo historial de problemas com o CM, que a generalidade dos media ignorou. Mas que o episódio do microfone foi um atentado à liberdade de imprensa, como diz o CM e o presidente da Comissão da Carteira de Jornalista (que estranhamente não se tem pronunciado em casos bem mais graves), vou ali e já venho. É preciso ver que o repórter que se aproximou de Ronaldo violou os regulamentos para que isso fosse possível, pelo que em matéria de atentados foi o repórter quem começou. E, já agora, violou os regulamentos porquê? Porque teria uma pergunta cujos meios justificassem os fins? Como pudemos ouvir, a pergunta foi sobre nada, pelo que a resposta só poderia ser coisa nenhuma. Um microfone afocinhado na lama no fundo de um charco acabou, assim, por se tornar uma caricatura, a meu ver bastante benévola, do «jornalismo» que se pratica no Correio da Manhã.