12 de julho de 2016

RESCALDO APÓS O RESCALDO. Agora que toda a gente se desfez em elogios e a poeira parece ter assentado, devo dizer que não dava um tostão por Fernando Santos, até por chegar à selecção com vários jogos de castigo para cumprir numa fase em que o apuramento para o Europeu estava em risco. Como se viu, enganei-me, e aqui me penitencio. Digo mais: embora agora seja fácil dizer isto, fez bem o seleccionador em colocar a fasquia lá em cima ainda antes do início da fase final. Se as coisas podiam não ter corrido bem, qualquer aprendiz de psicólogo também saberá que só colocando a fasquia lá em cima seria possível ultrapassá-la. Depois houve Éder, que ninguém sabe por que foi seleccionado (nem depois do golo que nos valeu o caneco me convenceu), e Renato Sanches, que toda a gente incensou e não foi, para mim, mais que uma vaga promessa. As boas surpresas foram Raphael Guerreiro, um luso-francês até há pouco a jogar numa obscura equipa francesa, e Rui Patrício, que por várias vezes evitou o pior. De resto, Pepe e Ronaldo confirmaram o que deles se esperava. O primeiro porque quando não se mete em sarilhos é um gigante. O segundo por tudo o que já demonstrou, inclusive no jogo da final, onde não foi decisivo dentro do campo (saiu lesionado) mas foi decisivo fora dele. Bem sei que, somado o que tivemos de melhor, não passámos de uma selecção mediana, que se limitou a cumprir sem brilho mas com eficácia. Mas o futebol bonito, que outrora também praticámos, há muito que não é eficaz. Os jogadores e os treinadores de hoje não são contratados para jogar — e fazer jogar — bom futebol, ou um futebol, digamos, vistoso. São contratados para ganhar. Como em tempos disse Mourinho, quem aprecia arte que vá ao ballet. De facto, o futebol ao mais alto nível sacrificou a arte no altar da eficácia. Para grande pena minha, devo dizer.