18 de agosto de 2020

VIVO E DE BOA SAÚDE. Não sou ingénuo a ponto de pensar que o jornalismo e os jornalistas são um mundo de virtudes, que não cometem erros e pecados, por vezes grosseiros. Mesmo o jornalismo e os jornalistas sérios, e não me refiro ao jornalismo que se engana, corrige o erro e se penitencia. Refiro-me ao jornalismo que tem uma agenda para lá dele, que se dispõe a contar os factos de modo a construírem a narrativa que mais lhe convém. Mas também não sou ingénuo a ponto de pensar que isto é prática corrente. Muito pelo contrário. É graças ao jornalismo e aos jornalistas que em democracia sabemos o que se passa, apesar de o poder do dia, mesmo o poder democrático, fazer os possíveis e os impossíveis para mostrar o que lhe interessa e esconder o que não lhe interessa — e em alguns casos chegar a intimidar quem se atreve a incomodá-lo. Dito isto, o jornalismo e os jornalistas não são heróis. Fazem o que lhes compete fazer, embora por vezes heroicamente. Nunca foi — nunca será — fácil fazer jornalismo (diria jornalismo a sério não fosse uma redundância), porque fazer jornalismo tem custos, por vezes demasiado altos — como ser votado ao ostracismo, o despedimento, a prisão, por vezes a morte. Como jornalista num jornal despretensioso, nunca estive exposto a estes cenários. Talvez por isso admire tanto os jornalistas que arriscaram — e continuam a arriscar — fazer jornalismo apesar dos constrangimentos. Não são poucos, e é graças a eles que o jornalismo está melhor que nunca. Se os jornais estão numa agonia sem fim à vista, nunca o jornalismo esteve tão vivo, apesar de se ver obrigado a competir com o falso jornalismo que prolifera nas redes sociais que tantos levam a sério.