12 de abril de 2021

O QUE SE PÔDE ARRANJAR. Face ao que foi dito ao longo dos últimos sete anos, as acusações a José Sócrates na chamada Operação Marquês revelaram-se um fiasco monumental. A ser verdade o que disse o juiz Ivo Rosa, a acusação foi de uma incompetência difícil de explicar. Recordo pelos jornais o que disse o juiz Rosa sobre os fundamentos de grande parte das acusações: «Só especulação e fantasia»; A acusação tem «pouco rigor e consistência»; «Total falta de prova»; A acusação «é pura especulação»; «A acusação não prima pelo rigor necessário»; «Apenas com recurso à criatividade e à especulação será possível sustentar uma conclusão dessa natureza». E por aí fora. Dos 31 crimes de que Sócrates era acusado pelo Ministério Público, o juiz pronunciou-o, apenas, por seis: três por branqueamento de capitais e outros tantos por falsificação de documentos. Os mais graves, de corrupção, caíram, segundo o juiz, por erros grosseiros nas acusações, e outros por terem prescrito. Dito isto, não acho que Sócrates esteja inocente, mesmo do que não foi pronunciado. Também não acredito que o juiz manipulou (deturpou, enviesou, como queiram) as provas que a acusação lhe pôs nas mãos, como já vi quem dissesse. Por mais voltas que desse, parece-me que o juiz não poderia ter feito outra coisa. Teve, além disso, a coragem de o dizer cara a cara aos portugueses. Que mais podia ter feito? Permitiam os dados de que dispunha concluir outra coisa? Não sei. O que ficou claro é que a justiça portuguesa é de grande competência a produzir julgamentos mediáticos e de grande incompetência a produzir prova nos tribunais.