19 de junho de 2021

RONALDO METEU ÁGUA. Parece-me consensual que Cristiano Ronaldo é um dos dois ou três melhores futebolistas da actualidade, se não o melhor. Qualquer apreciador de futebol lhe reconhece, como desportista e profissional, um desempenho excepcional, só ao alcance de quem é, de facto, excepcional. Pessoalmente, devo-lhe alguns momentos felizes, não só ao serviço da selecção, pelos quais agradeço. Já o desempenho como cidadão é questionável, e como figura pública, nem sempre se comporta como modelo a seguir — como muitos exigem e eu, por motivos que não cabem aqui, sempre discordei. Dito isto, o episódio da Coca-Cola, em que Ronaldo surge numa conferência de imprensa a recomendar que se beba água em vez de refrigerante, teve graça, soou bem e foi muito elogiado, mas não me comoveu. Entre outras empresas, Ronaldo é patrocinado pela Nike, várias vezes acusada, sempre com razão, de utilizar mão-de-obra escrava e infantil. Não me consta que o jogador alguma vez se tenha mostrado desagradado com tais práticas, muito menos que tenha boicotado os produtos da Nike — da qual, segundo a Der Spiegel, receberá 162 milhões de euros até 2026. Acresce que Ronaldo conhece bem as regras do universo em que se move, e não me consta que no Europeu tenham mudado. Participar num evento como o Europeu significa, à partida, aceitar as regras, pelo que se percebe mal o gesto de Ronaldo, na minha opinião irreflectido. Até porque é injusto criticar, de um modo geral, os patrocinadores, que estão lá porque foram convidados a contribuir com milhões. Não que o tenham feito por filantropismo, como é óbvio, mas porque os patrocinadores acharam um bom negócio — como achou um bom negócio quem os convidou.