30 de setembro de 2015
FONTES E SUGADOUROS. Tudo o que nos órgãos de comunicação social é notícia com base em fontes anónimas (ou não identificadas, se preferirem) é, para mim, pouco fiável. Sabendo-se a salvo de qualquer punição (que o anonimato garante), as fontes anónimas podem dizer tudo o que lhes apetecer (verdades, meias-verdades, puras mentiras), e os jornalistas sem escrúpulos podem inventar os «factos» que muito bem lhes convier e atribuí-los a fontes anónimas. A lei de imprensa prevê, e bem, que os jornalistas possam recorrer a fontes anónimas em casos excepcionais. O problema é que os casos excepcionais se tornaram regra, e a fiabilidade da informação daí resultante nunca é escrutinada.
29 de setembro de 2015
SABER DE EXPERIÊNCIA FEITO. Um juiz, personagem de Belos Cavalos (Teorema, tradução de Graça Margarido), cujo nome nunca é referido, comenta após escutar o depoimento de John Grady, figura central do livro de Cormac McCarthy: «O problema para um mentiroso é que não consegue lembrar-se do que disse.» Quem já não foi confrontado com um caso destes que ponha o dedo no ar.
11 de setembro de 2015
DESLUMBRAMENTOS DE ESTIMAÇÃO. Costumo dizer que houve três escritores fundamentais na minha vida: primeiro, Fernando Pessoa (de que li toda a poesia então publicada e talvez a maior parte da prosa); depois, Eça de Queirós (de que li praticamente tudo); a seguir, Cardoso Pires (só não li alguns textos dispersos por várias publicações que nunca foram publicados em livro, e A Cartilha do Marialva). Isto a propósito de duas boas notícias: a reedição da obra de Cardoso Pires, agora pela Relógio D’Água, e de uma editora (E-Primatur) que promete editar grandes livros, que por uma razão ou outra nunca foram editados em português. Apesar do lixo que por aí se vai publicando, cada vez mais numeroso, é gratificante saber que ainda há quem edite «por amor à camisola», quem aposte em livros e autores que não são, em princípio, um bom negócio.
10 de setembro de 2015
ISABEL DOS SANTOS. Qualquer jornalista que hoje se atreva a dizer mal de Isabel dos Santos arrisca-se a ser despedido. Porque Isabel dos Santos é proprietária do jornal onde o jornalista trabalha. Porque pode vir a sê-lo. Porque os investimentos de Isabel dos Santos onde o jornalista trabalha são de tal modo importantes que não resta aos proprietários outra saída que não seja meter a ética no bolso e o jornalista na rua. Daí que sejam cada vez menos os jornalistas que se atrevem a dar uma simples notícia onde Isabel dos Santos não sai com a imagem que certamente gostaria. Veja-se a mais recente. O Estado angolano, por acaso presidido pelo pai Eduardo dos Santos, comprou 40% de uma sociedade liderada por Isabel dos Santos. Em nome da «necessidade da realização de investimentos estratégicos», justificou. Ora, não duvidando da legalidade da transacção, esta operação merecia, no mínimo, ser conhecida com alguma profundidade. Com excepção do Observador e do Diário Económico, que se limitaram a transcrever uma notícia da Lusa, ninguém falou do assunto. É um silêncio eloquente.
PRESO POR TER CÃO, PRESO POR NÃO TER. Só Passos Coelho saberá se está a usar a doença da esposa para fins eleitorais. Como o caso pode ser visto de duas maneiras, na dúvida não o acuso. Mas se não for assim, se estiver a usar a doença da esposa para fins eleitorais, não é seguro que ganhe algo com isso. Se é provável que o gesto lhe renda dividendos por parte de quem vê a atitude como genuína, é igualmente provável que perca os de quem não vê assim. Somados os ganhos e subtraidas as perdas (na prática impossíveis de contabilizar), não é seguro, como meio mundo garante, que ganhe alguma coisa com isso.
9 de setembro de 2015
AFINAL, ANGELA MERKEL É PIOR DO QUE SE PINTA. Numa primeira fase, Angela Merkel foi aplaudida pela generalidade da esquerda, até pela mais radical. Agora, parece que Angela Merkel resolveu abrir as portas da Alemanha a 800 mil refugiados porque vê neles mão-de-obra barata — que ela, Alemanha, precisa. E que fizeram os restantes países da União Europeia? Empurrados pelo exemplo alemão, começaram por fazer vagas promessas, depois avançaram para um número ridículo de refugiados que estariam dispostos a receber — que um dia depois triplicaram e no dia seguinte «enuplicaram», e que após uma curta estadia nos seus territórios seguirão, maioritariamente, em direcção à Alemanha. Os países europeus estão a perder população? Há muito que isto é sabido, há muito que nada se move. Detesto a palavra, que hoje em dia parece remédio para toda a espécie de calamidades, mas a Europa podia, se estivesse preparada, transformar a tragédia dos refugiados em oportunidade — como, aliás, pretende fazer a Alemanha. Seria bom para a Europa, seria bom para os refugiados.
O NÚ «PERFOMÁTICO» DE JOANA AMARAL DIAS. Estava a gente posta em sossego a contemplar a bela capa da Cristina, eis que se anuncia a libertação de José Sócrates (passou de prisão efectiva para prisão domiciliária). Só podem ser manobras de diversão para nos distrair do que realmente importa — a ex-deputada Ana Amaral Dias em pelota na capa da Cristina. Um «momento perfomático único», como escreveu João Urbano no Facebook. Somos, definitivamente, um país moderno. Mais por fora que por dentro, mas isso é outra conversa.
3 de setembro de 2015
AFINAL, ANGELA MERKEL NÃO É TÃO MÁ COMO SE PINTA. Quem diria que a sra. Merkel, ainda há um mês execrada pelo mundo em geral e pelas esquerdas em particular, seria elogiada pelo Bloco de Esquerda? Ainda por cima por causa de um tema tão «querido» às esquerdas, sobretudo às mais radicais, que se reclamam os guardiões da Humanidade?
1 de setembro de 2015
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