29 de outubro de 2009

TÃO BOM QUE ELE ERA. Parece que o empresário a quem a Justiça deitou a unha era «um generoso apoiante das colectividades locais», «um homem de coração grande» que «fez muito» pela cidade que o viu nascer, e que ajudou «muitas pessoas da terra que se encontravam em situação difícil». Valerá a pena lembrar que também os traficantes que controlam as favelas do Rio de Janeiro são generosos para com as colectividades locais, que ajudam as pessoas que se encontram em dificuldades, e que os residentes os preferem às autoridades?
A GRANDE MÚSICA (2)

28 de outubro de 2009

26 de outubro de 2009

MALABARISMOS. Lembram-se do episódio da TVI, em que alguém se encostou a Marcelo e Marcelo atirou-se para o chão? Pois bem, está em marcha uma manobra idêntica na RTP. Como na bola, onde estes truques são corriqueiros, geralmente a dúvida beneficia quem está no chão, e Marcelo sabe bem como estas coisas funcionam.
EXIBICIONISMO. O Telejornal da última sexta passou uma «peça» sobre os conflitos no Rio de Janeiro antecedida de uma chamada de atenção para as condições em que ela foi produzida. Segundo o pivot, a equipa da televisão pública no Rio passou um mau bocado, e o mau bocado incluiu risco de vida. Vista a «peça» com redobrada atenção, não vislumbrei que mais-valia trouxe tão arriscado exercício, nem que informação relevante terá acrescentado. O que se viu, lamento dizê-lo, foi um exibicionismo perfeitamente escusado, que poderia ter acabado mal.
REGRESSO À VACA FRIA. Sobre a polémica saramaguiana, um excerto de Caim:

«O jardim do éden era ubérrimo em frutos, aliás não se encontrava lá outra coisa de proveito, até aqueles animais que, por natureza, deveriam alimentar-se de carne sangrenta, pois para carnívoros vieram ao mundo, haviam sido, por imposição divina, submetidos à mesma melancólica e insatisfatória dieta. O que não se sabia era donde tinham vindo as peles que o senhor fizera aparecer com um simples estalar de dedos, como um prestidigitador. De animais eram, e grandes, mas vá lá saber-se quem os teria matado e esfolado, e onde. Casualmente, havia água por ali perto, porém não era mais que um regato turvo, em nada parecido com o rio caudaloso que nascia no jardim do éden e depois se dividia em quatro braços, um que ia regar uma região onde se dizia que o ouro abundava e outro que rodeava a terra de cuche.»

Outro excerto d’A Viagem do Elefante:

«A caravana de homens, cavalos, bois e elefante foi engolida definitivamente pela bruma, nem sequer se distingue a mancha do extenso vulto do ajuntamento que formam. Vamos ter de correr para alcançá-la. Felizmente, considerando o pouco tempo que ficámos a assistir ao debate dos hércules da aldeia, o pessoal não poderá ir muito longe. Em situação de visibilidade normal ou de bruma menos parecida com puré que esta, bastaria seguir os rastos das grossas rodas do carro de bois e do carro da intendência no chão amolecido, mas, agora, nem mesmo com o nariz a roçar a terra se conseguia descobrir que por aqui passou gente.»

Ainda outro d’O Evangelho Segundo Jesus Cristo:

«O sol mostra-se num dos cantos superiores do rectângulo, o que se encontra à esquerda de quem olha, representando, o astro-rei, uma cabeça de homem donde jorram raios de luz e sinuosas labaredas, tal uma rosa-dos-ventos indecisa sobre a direcção dos lugares para onde quer apontar, e essa cabeça tem um rosto que chora, crispado de uma dor que não remite, lançando pela boca aberta um grito que não poderemos ouvir, pois nenhuma destas coisas é real, o que temos diante de nós é papel e tinta, mais nada. Por baixo do sol vemos um homem nu atado a um tronco de árvore, cingidos os rins por um pano que lhe cobre as partes a que chamamos pudendas ou vergonhosas, e os pés tem-nos assentes no que resta de um ramo lateral cortado, porém, por maior firmeza, para que não resvalem desse suporte natural, dois pregos os mantêm, cravados fundo.»

Será preciso invocar deus e o diabo para vender prosas destas? Como concluirão pelas amostras, é preciso. É que elas soam a redacção doutros tempos, e não me venham com relativismos. Discutir deus e o diabo sempre que dá à estampa um novo livro, como Saramago gosta de fazer, é puro marketing, curiosamente um produto por excelência do sistema político que Saramago tanto abomina mas que não dispensa. Do essencial quase nunca se fala, e o essencial é que as prosas de Saramago não valem um caracol.

23 de outubro de 2009

O ERNESTO. Interessados na polémica saramaguiana? Então não se esqueçam do Ensaio sobre a toleima e do Ernesto.

21 de outubro de 2009

BALELAS SARAMAGUIANAS. Não sei se a Bíblia é um «manual de maus costumes e um catálogo do pior da natureza humana», como diz Saramago, e se Caim poderá «incomodar os judeus», como suspeita ou deseja. Duma coisa, porém, não duvido: Saramago é melhor na promoção dos seus livros que a escrevê-los, coisa, aliás, que não é difícil. (Ler o restante aqui.)

20 de outubro de 2009

LI E GOSTEI (7)

A gala mais memorável de todas foi a que os venezianos prepararam para a visita de Henrique III de França, em 1574 — um evento que, embora sem particulares consequências políticas, ficou de tal forma gravado na memória da cidade que é quase sempre incluído nas listas de datas importantes de Veneza. Palladio desenhou arcos triunfais de boas-vindas, que Tintoretto e Veronese decoraram, e Henrique III (na altura com 23 anos) foi transportado pela cidade num barco impulsionado por 400 remadores eslavos, com uma escolta de 14 galés. Durante a travessia da laguna, a frota foi acompanhada por uma enorme balsa, onde vidreiros criavam objectos de vidro para recreação d'EI- Rei ao lado de uma fornalha que mais parecia um monstro marinho gigantesco a vomitar fogo pelas mandíbulas e narinas — em breve se lhe juntou uma segunda armada de barcos com curiosas decorações, fantasiosos ou simbólicos, repletos de golfinhos e deuses marinhos ou adornados com ricas tapeçarias. Em Veneza, o palácio que dá pelo nome de Ca’Foscari, e que fica no Grande Canal, foi especialmente preparado para a visita real. Ornamentaram-no com pano de ouro, tapeçarias orientais, mármores raros, sedas, veludos e pórfiro. Os lençóis eram bordados a seda carmesim. Os quadros, adquiridos ou encomendados especialmente para a ocasião, eram da autoria de Giovanni Bellini, Ticiano, Paris Bordone, Tintoretto e Veronese. Para o banquete principal, que teve lugar na gigantesca Câmara do Grande Conselho do Palácio dos Doges, suspenderam-se temporariamente as leis sumptuárias, e as mulheres mais belas de Veneza lá apareceram com trajes de um branco deslumbrante, «adornadas», como nos diz certo historiador, «com jóias e pérolas de grande tamanho, não só ao pescoço, mas também sobre o penteado e as capas que traziam pelos ombros». Da ementa constavam 1200 pratos, mil convidados comeram em baixela de prata, e as mesas estavam decoradas com estátuas de papas, doges, deuses, virtudes, animais e mores, todas feitas de açúcar, desenhadas por um arquitecto eminente e moldadas por um boticário talentoso. Quando Henrique III pegou no seu guardanapo de pregas elaboradas, descobriu que o mesmo também era feito de açúcar. Quando a refeição se aproximou do seu término, serviram-se 300 tipos diferentes de bombons, e depois do jantar El-Rei assistiu à primeira ópera representada em Itália. Quando Henrique III saiu finalmente para a noite, descobriu que uma galé de que lhe haviam apresentado as partes componentes no início da noite fora montada durante o banquete no cais em frente: a galé foi lançada à laguna aquando da sua saída do palácio, juntamente com um canhão de sete toneladas que os venezianos fundiram entre a sopa e o suflê.
Segundo alguns historiadores, o pobre e jovem rei, que se vestia de forma muito simples e gostava de passear anónimo por cidades desconhecidas, nunca mais voltou a ser o mesmo e viveu o resto da vida num perpétuo deslumbramento.


Jan Morris, Veneza

19 de outubro de 2009

EU NÃO LIGO A ESSAS COISAS. Concordo que o caso Maitê Proença não tem importância, e também me parece evidente que exigir-lhe desculpas, ou que lhe proíbam a entrada em Portugal, ainda é mais ridículo que o vídeo. Escusavam era de andar para aí a escrever quilómetros de prosa a dizer que o caso não tem importância, pois isso demonstra que se dá importância ao que se diz não ter importância.
CONSPIRAÇÃO. O pior é se o bruxo não deixa.
LINKS. No Pocinho, por Rentes de Carvalho, e Dramas de que a ONU não cuida, por Ferreira Fernandes.

16 de outubro de 2009

DE COITADA A COITADINHA. A catraia do vídeo resolveu desculpar-se, mas aproveitou a boleia para dizer que não percebe a «falta de sentido de humor das pessoas» (leia-se portugueses), o que equivale a dizer, de novo, que os portugueses são umas bestas, pois não conseguem descortinar a subtileza humorística da boçal criatura. Não percebe, nem admira que não perceba. Afinal, quem é capaz de uma fita daquelas e de ainda se rir da proeza dificilmente perceberá o que quer que seja. Diz Miguel Sousa Tavares que os portugueses reagiram de forma «provinciana» e «saloia», que «somos um povo sem capacidade de humor e autocrítica», e que «só um povo com complexos é que se sente melindrado com uma coisa destas». Acontece que Miguel Sousa Tavares anda de amores com a donzela (dizem os jornais), e os portugueses sabem bem, apesar da burrice, como os amores cegam qualquer um.

14 de outubro de 2009

POST CHATO E COMPRIDO. Algumas notas sobre o recente Prós e Contras: 1) José Manuel Fernandes não conseguiu fundamentar, de forma convincente, a notícia do Público sobre as escutas. Pior: visivelmente irritado, o ex-director do jornal da Sonae revelou ter aceitado ir ao programa na condição de o tema das escutas ser, apenas, «uma nota de rodapé» («negócio» prontamente desmentido por Fátima Campos Ferreira), deixando a ideia de que não teria aceite o convite caso soubesse que o tema iria ser abordado da forma que foi abordado. E por que não queria ele discutir o assunto da forma que foi discutido? Como ficou demonstrado no decorrer do debate, porque não tinha substância que fundamentasse a notícia; 2) O director do Expresso, que se fartou de meter os pés pelas mãos e se revelou perito em dar uma no cravo e outra na ferradura, reconheceu que a notícia do Público carecia de sustentação, e chegou mesmo a admitir que a dita não tinha pés nem cabeça. Monteiro insistiu e voltou a insistir em quem (e com que intenção) enviou o e-mail às redacções, como se isso fosse mais importante que o e-mail propriamente dito. Depois de grande parte do tempo a interromper toda a gente a propósito de tudo e de nada, introduzindo ainda mais ruído em já tão ruidoso debate, o director do Expresso terminou a sua intervenção a dar lições de jornalismo, nomeadamente ao director do Diário de Notícias, a quem acusou de não ter currículo e procurou diminuir por vir do jornalismo desportivo; 3) A forma como o e-mail foi obtido pelo Diário de Notícias, e se devia, ou não, ter sido divulgado, gerou uma discussão longa e cansativa, chegando a ficar a impressão de que a forma como ele chegou às redacções (do DN e do Expresso, pelo menos) era mais importante que o seu conteúdo; 4) Os jornalistas deram uma péssima imagem do jornalismo que temos. Pior: talvez a imagem corresponda ao jornalismo que temos. A peixeirada que reinou na segunda parte, e que se terá prolongado para lá do final do programa, foi a triste constatação de que o chamado «jornalismo de referência» não merece confiança.

13 de outubro de 2009

COITADA. Não me parece que o vídeo de que tanto se fala seja uma ofensa a Portugal e aos portugueses. Pelo contrário. A fita é uma ofensa à inteligência dos brasileiros, os quais a donzela tratou como se fossem atrasados mentais.

12 de outubro de 2009

PERDEDORES. Elisa Ferreira fez os possíveis e os impossíveis para não ser eleita para a Câmara do Porto. Primeiro foi a promessa de ir a Bruxelas dar o nome e voltar, depois disse que o Parlamento Europeu é um «trampolim inconfessável» e uma «gamela», finalmente insinuou que Rui Rio tinha «o apoio de seis milhões de benfiquistas». O resultado só podia ser a estrondosa e merecida derrota.
BOAS NOTÍCIAS, MÁS NOTÍCIAS. Quatro boas notícias sobre as autárquicas: as derrotas de Ana Gomes, Elisa Ferreira, Fátima Felgueiras e Avelino Ferreira Torres. As primeiras porque trataram de assegurar que as suas carreiras políticas não ficariam em risco quando se candidataram às câmaras de Sintra e do Porto, os segundos por razões que todos sabemos. As más notícias dizem que Isaltino Morais ganhou, e que ganhou por margem folgada. Isaltino, recorde-se, acaba de ser condenado a sete anos de cadeia por corrupção (repito: corrupção), e duvido que haja um só único eleitor que não saiba disso. Talvez a coisa se explique como diz o André Abrantes Amaral: «Há muitos anos que os tribunais fazem pouco dos cidadãos. Agora recebem o troco.» De facto, a (eventual) falta de concorrência à altura não explica tudo.

9 de outubro de 2009

NOBEL DA TRETA. O que é que Barack Obama fez, até agora, pela paz no Mundo? Ou estou a ver mal, ou o que fez não passou dos discursos e das boas intenções. O Iraque continua. O Afeganistão complicou-se. Guantânamo continua por fechar. Nada mudou com o Irão. Obama acaba de se recusar a receber o Dalai Lama, que me conste não em nome da paz. Como se vê, a falta de currículo em matéria de paz e derivados é flagrante e notável, e não deve ter sido por acaso que o prémio causou tanta surpresa. Votei em Obama nas Presidenciais, como já disse e repeti. Mas o Nobel da Paz que lhe foi atribuído desvaloriza o simbolismo do prémio e ridiculariza quem lho atribuiu.

8 de outubro de 2009

NOBEL DA LITERATURA. A avaliar pela ausência de comentários praticamente um dia depois do anúncio, nomeadamente nos blogues da especialidade, o Nobel da Literatura deste ano foi, de novo, uma surpresa. Uma surpresa a ponto de ninguém — ou quase ninguém — conhecer a premiada, o que à partida não significa que o prémio foi mal entregue. Aguardemos o que vai ser dito nos próximos dias sobre Herta Müller, que a Academia sueca considerou uma escritora que «pinta as paisagens dos desfavorecidos», deixando a ideia de que o critério foi, outra vez, mais político que literário.
RULFO E CARPENTIER. Não imaginam as voltas que eu dei, recentemente, em busca de edições portuguesas de Alejo Carpentier e Juan Rulfo. Na FNAC da Santa Catarina disseram-me que nunca ouviram falar, mas depois lá descobriram Rulfo (esgotado) na base de dados. Na Leitura disseram-me o que eu já sabia: só tinham em espanhol, e só o escritor mexicano. Dois alfarrabistas garantiram-me que nunca ouviram falar (parece que já não há alfarrabistas como antigamente), e na Lello informaram-me, de memória, que ambos estavam, há muito, fora do mercado, e duvidaram que eu conseguisse encontrar qualquer um deles mesmo no mais remoto alfarrabista. Conhecida a realidade, pelos vistos há muito detectada, pergunto: os editores portugueses andam distraídos, ou não há leitores para Rulfo e Carpentier?
POLÍTICOS. O João Gonçalves diz que os políticos «que andam o ano todo de carro com motorista» deviam experimentar os transportes públicos «às horas a que as pessoas "normais" os têm de apanhar» em vez de andarem para aí a «armar ao pingarelho». Como julgo a maioria, subscrevo. Subscrevo, e acrescento: os políticos que passam a vida arredados dos eleitores (quase todos) e, de repente, porque há eleições, se vêem na rua aos beijos e abraços, fingindo que amam o «povo» mas de que logo se «desinfectam» mal termine a campanha, deviam ser recebidos pelos eleitores com o gesto imortalizado por Bordalo Pinheiro.

6 de outubro de 2009

TRADUÇÕES. Lida uma dezena de páginas de A breve e assombrosa vida de Oscar Wao, de Junot Díaz, editado pela Porto Editora, considerei pôr de parte a tradução portuguesa e optar pela língua em que foi escrito. Por uma razão simples: a tradução roça o miserável. Aliás, só levei o livro até ao fim porque quis ver até onde iam os disparates — que são inúmeros, e quase sempre grosseiros. Pior: a língua portuguesa chega a ser atropelada por erros de palmatória. A coisa torna-se suspeita logo na capa e na contracapa, onde se diz, em inglês, que o livro foi premiado com um Pulitzer, sem que se vislumbre por que não foi dito em português. Diz-se, em nota editorial, que tradutor e editor «acordaram manter a tradução sem qualquer tipo de formatação gráfica especial que possa comprometer a fluidez do discurso das personagens». Seja, mas eu falo de erros básicos, não de subtilezas. Falo de coisas inacreditáveis, e para as quais não vejo explicação aceitável.

2 de outubro de 2009

LI E GOSTEI (6)

O que foi feito dos meus amigos e das coisas belas e desmesuradas por que todos nós perdemos e ganhámos a juventude? Olho em volta e resigno-me: os meus amigos cansaram-se e jazem agora em empregos rotineiros à espera da trombose ou do enfarte. Alguns passaram-se com armas e bagagens (e, naturalmente, proveito) para o lado do inimigo. Os melhores (mas que sei eu?) engordaram — para dizer a verdade, todos engordámos... — e tornaram-se cépticos e amargos, carregando a nossa memória comum como um pecado envergonhado. Muitos morreram em guerras sem sentido, ou tão só de tédio, de longo e insuportável tédio. Outros partiram para improváveis distantes lugares; um enlouqueceu (e esse foi, se calhar, o que, imóvel e cegamente, partiu para mais longe).

Manuel António Pina, Crónica 20 Anos Depois (Jornal de Notícias de 10/6/92) publicada no volume O Anacronista

1 de outubro de 2009

DEONTOLOGIA E PROFISSIONALISMO. Não me parece que «o Diário de Notícias cometeu duas faltas deontológicas gravíssimas» por alegadamente ter violado «correspondência privada trocada entre profissionais do Público» e «expor uma fonte deste jornal», como escreveu José Manuel Fernandes no Público de ontem, mas admito que o caso se preste a outras interpretações. Mas já não me parece susceptível de duas interpretações o facto de o Público ter noticiado, de forma pouco profissional (para dizer o mínimo), um assunto que sabia de antemão constituir «uma bomba», permitindo que se criassem fundadas suspeitas quanto aos motivos que levaram o jornal da Sonae a publicar a notícia nos termos em que o fez. Pretender reduzir o assunto das alegadas escutas do Governo à Presidência da República ao e-mail publicado pelo DN, é querer transformar o acessório no essencial. E o essencial, vale a pena lembrar, é que a revelação do e-mail, cujo conteúdo ninguém desmentiu, foi fundamental para se perceber os contornos do caso, pois demonstrou que as alegadas suspeitas de Belém eram pouco fundamentadas, e que o Público não fez o que devia — ou fez mal o que devia. (Ver, a propósito, post do Jumento.)
A GAMELA DE BRUXELAS. Já ouvi quem lhe chamasse outros nomes, mas nunca tinha ouvido quem designasse o Parlamento Europeu «uma gamela». Sobretudo quando a madrinha, a eurodeputada Elisa Ferreira, se fartou de lá comer, e por lá continuará a comer caso a candidatura à Câmara do Porto não seja bem-sucedida. Elisa Ferreira parece não entender uma regra básica: quem acha que Bruxelas é uma gamela e se sente bem a comer nela, merece que lhe cortem a ração o mais rapidamente possível e a mandem comer por conta dela.
MODELOS. José Miguel Júdice revelou, a propósito da comunicação de Cavaco sobre as escutas, que o Presidente da República teve um dia infeliz, mas que a coisa «é normal nas pessoas», pois também ele, Júdice, tem os seus «dias menos felizes». A coisa fez-me lembrar a famosa tirada de Woody Allen quando ele disse que Deus tinha morrido, Marx tinha morrido, e ele próprio não se sentia lá muito bem. A diferença é que Woody Allen estava a ironizar.