26 de junho de 2020

MODINHA DOS COBARDES. Tirando os dois ou três do costume, os congressistas republicanos não abrem a boca sobre o comportamento de Trump. Nem para apoiar, nem para condenar. Quando seria de esperar que se pronunciassem sobre as acções do Presidente, até porque foram eleitos para dizer o que pensam sobre as acções do Presidente, os sujeitos permanecem mudos e quietos, e fogem dos jornalistas como o diabo foge da cruz. Mesmo dos jornalistas amigos da Fox News, da Breitbart e da One America. «O último tuíte? Não vi.»; «Vi mas já não me lembro.»; «Não costumo prestar atenção aos tuítes do sr. Presidente.». Etc. etc. Se isto não é cobardia, e não só cobardia política, então é o quê? Os republicanos com assento nas duas câmaras do Congresso são cúmplices de Trump, de quem não se atrevem a discordar por medo de perder o emprego. É verdade que nos últimos dias alguns se afastaram de Trump quando Trump defendeu que o antecessor devia ser julgado por traição (não apresentou qualquer evidência que fundamentasse a acusação) e quando acusou um manifestante de 75 anos, de novo sem fundamento, de ser membro da Antifa. Mas isso não explica o silêncio a que se devotaram, e ainda menos a cumplicidade activa diante as poucas-vergonhas do Presidente. Isto para não falar da coluna vertebral, que a generalidade dos políticos não tem — e os republicanos são, de momento, o melhor exemplo.

2 de junho de 2020

O INCENDIÁRIO. Donald Trump nunca perde uma oportunidade de atirar mais lenha para a fogueira do ódio. Agora devido aos distúrbios de Minneapolis resultantes da morte de um afro-americano sob custódia policial, que rapidamente alastraram a dezenas de outras cidades. Em tom de desafio, o Presidente começou por escrever, no Twitter, que mandaria disparar contra os «bandidos» que se envolvessem em distúrbios, nos dias seguintes prosseguiu de igual modo, e ontem insultou os governadores que, na sua opinião, não estão a fazer o que devem de molde a pôr fim à violência. Como não bastasse, montou circo na Casa Branca, e depois, numa igreja lá perto, insultou quem quis apoiar, embora imagine que os evangélicos e outras pessoas de fé sejam mais inteligentes do que Trump supõe. Em vez de fazer os possíveis e os impossíveis para acalmar os ânimos e pôr fim à violência que varre o país, como seria de esperar de um chefe de Estado, o Presidente ameaçou com ainda mais violência. Trump não é, obviamente, o único responsável pela violência racial. Mas é-o, em grande medida, por acção e omissão. Acusar a esquerda radical pelos distúrbios (não havia evidências até à hora a que escrevo) sem dizer uma única palavra sobre a direita radical (há indícios de supremacistas brancos infiltrados nas manifestações), é pôr mais água na fervura. Valha a verdade que não se esperaria outra coisa do «valentão» que mora na Casa Branca, que cobardemente correu para o bunker mal lhe cheirou a pólvora (ele é mais pólvora retórica). Afinal, a única preocupação do sujeito é ser reeleito em Novembro, e para que isso suceda os fins justificam os meios. Como está convencido, talvez com razão, que o clima de confronto o beneficia, dispõe-se a tudo para que isso aconteça. Afinal, há quem se reveja nos comportamentos do Presidente, mesmo nos comportamentos mais censuráveis. Depois há o racismo, o supremacismo branco e outros ismos, que com Trump no poder nuns casos ganharam fôlego, noutros saíram da clandestinidade — para gozo, lamento dizê-lo, da maioria que o apoia.