20 de outubro de 2023

FOG OF WAR. Foi Clausewitz quem terá cunhado a expressão «fog of war» (nevoeiro de guerra), que usou para descrever a incerteza no campo de batalha (as capacidades do inimigo, as condições meteorológicas, o movimento das tropas, a falta de informação, etc.) que dificulta, e muito, a tomada de decisões e pode levar a julgamentos errados. Quase dois séculos depois, e apesar de os mecanismos para apurar os factos terem evoluído bastante, cá estamos nós, após mais um episódio do conflito israelo-palestiniano, em pleno «fog of war». Porque não se vê a maior parte do que se passa no terreno, porque as partes envolvidas tentam passar o que lhes convém, porque a informação e a desinformação são armas de guerra. Como não bastasse, os media, incluindo os media ditos de referência, tomam partido, confundem mais que esclarecem, dão como provados «factos» que não existem, omitem e distorcem de modo a servir as suas agendas, e fazem passar por factos o que são meras opiniões — as opiniões dos jornalistas e de quem lhes paga os salários. Quem foi o autor — ou autores — do ataque a um hospital da Faixa de Gaza, de que terão resultado, segundo o Hamas, centenas de mortos, ou «algumas dezenas», segundo a France-Presse? O Hamas e a Jihad Islâmica acusam Israel. Israel diz que foi um acidente provocado pelo lançamento mal sucedido de um rocket da Jihad Islâmica (grupo que compartilha com o Hamas o objectivo de destruir Israel), e apresentou o que diz serem provas. Quem fala verdade? Quem mente? Há que dizer que o Hamas é uma organização terrorista, e que Israel, goste-se ou não de quem o governa, é um estado de direito, um país democrático — e eu sou contra o terrorismo e por quem se guia pelos valores que eu defendo. Ao contrário do que vejo (nunca vi tantas certezas sobre um assunto tão complexo), não tenho uma visão fechada sobre a origem e o desenrolar do conflito israelo-palestiniano. Parece-me, no entanto, que a solução de dois Estados independentes a viverem em paz lado a lado, que por duas vezes esteve perto de se concretizar e os fanáticos de ambos os lados fizeram abortar, seria a melhor para israelitas e palestinianos. Infelizmente, o 7 de Outubro de 2023 destruiu anos de negociações e colocou a discórdia entre Israel e a Palestina no ponto zero. Resta esperar que o conflito não vá mais longe do que já foi.