30 de dezembro de 2009

DESACORDO. António Emiliano, linguista e filólogo, escreveu que a língua inglesa tem 15 variantes, e o espanhol 20. Como não vi quem o desmentisse, presumo que a informação é verdadeira. Assim sendo, cabe perguntar: como se entendem os falantes de inglês e espanhol sem acordo ortográfico? Será que a ausência de acordo impediu as línguas inglesa e espanhola de conquistarem a projecção universal que se lhes reconhece?
BLOGGER DO ANO. Agora que os prémios na blogosfera caíram em desuso, apetece-me eleger o melhor blogger do ano. Damas e cavalheiros, por unanimidade e aclamação: Filipe Nunes Vicente. Um Porto à saúde dele.

28 de dezembro de 2009

LIBERDADE DE EXPRESSÃO. Ao contrário do que diz Santana Lopes, que apoiei quando foi primeiro-ministro, toda a gente tem o direito de avaliar toda a gente, tenha o avaliador currículo, ou não. Por mais que lhe custe, qualquer cidadão em pleno gozo dos direitos que a Constituição lhe confere tem direito à crítica, incluindo os cidadãos que não têm estudos, que não têm obra, e que não têm vida profissional. Discorda dos argumentos com que o criticam? Responda com argumentos. Acusar os críticos de não terem currículo, de não terem obra ou de não terem vida profissional, não é um argumento — é pura baixaria. Pior: o infelicíssimo post onde Santana Lopes teceu estas considerações é contra a liberdade de expressão. Leram bem, e não estou a exagerar. Está lá dito, preto no branco, e não há lugar a duas interpretações.

23 de dezembro de 2009

LIVROS E OUTROS OBJECTOS. Segundo uma empresa de consultoria citada por Jaime Bulhosa neste post, «o mercado [livreiro] actual obedece a esta divisão»: Grandes livros – 2%; Bons livros - 5%; Livros medíocres – 23%; Lixo – 70%. O espaço comercial destinado aos ditos deve, portanto, ter em conta esta realidade, aconselha ainda a mesma empresa. Quem vai às livrarias com alguma regularidade, nomeadamente às livrarias das «grandes superfícies» e/ou das grandes cadeias livreiras, facilmente constata esta evidência, mas nada como os números para tirar todas as dúvidas.

22 de dezembro de 2009

GUERRAS. Também acho que o casamento gay não é uma prioridade, e que o país tem necessidades bem mais urgentes. Mas também me parece que não é criando ainda mais tensão entre Governo e Presidência da República que se resolverão os problemas do desemprego, do endividamento do país, do desequilíbrio das contas públicas e da falta de produtividade e competitividade, que o Presidente da República diz serem as questões que realmente o preocupam. Pode o Presidente da República ter toda a legitimidade para dizer estas verdades e alegar que o casamento gay, além de secundaríssimo, vai criar novas «fracturas na sociedade portuguesa», mas não me parece que seja a atitude que se espera de um Presidente que acaba de empossar um Governo que resultou da vontade dos portugueses, e convém não esquecer que o projecto sufragado pelos portugueses incluía o casamento gay. Numa coisa tem o PS razão: o PR está a ir longe de mais. Se o PS realmente tenciona provocar eleições antecipadas, que naturalmente espera ganhar por maioria absoluta, as manobras de Cavaco são boas notícias para Sócrates e para o partido que dirige. Boas notícias para Sócrates, e boas notícias para o candidato que o PS tenciona apoiar nas presidenciais que se seguem.
ORA BEM. «Regra geral, o acordo ortográfico é defendido por quem escreve mal, por muito que saiba de ortografia, mas desprezado por quem escreve bem e saiba alguma coisa de linguística.» Miguel Esteves Cardoso, Público de hoje

21 de dezembro de 2009

ALGUÉM ESTÁ A ALDRABAR. Ou o que aqui se diz não é verdade, ou lá se foi mais uma bela teoria. Infelizmente, o caso é mais grave do que parece, pelo que prefiro aguardar por mais dados de molde a saber quem fala verdade, e quem mente. É que eu não suporto que os políticos manipulem os factos de forma a reforçar as suas ideias e/ou a liquidar os adversários, mas ainda suporto menos que os media ditos independentes se prestem a esses papéis.
DEMAGOGIA PERIGOSA. Os jornais (e o jornalismo) estão cheios de pecados, mas é obsceno dizer-se que os jornalistas são os responsáveis pelas «violações constantes do segredo de justiça», como disse Noronha Nascimento. O presidente do Supremo Tribunal de Justiça sabe bem que as coisas não são assim, e que os jornalistas se limitam a divulgar o que lhes contam — embora, repito, os jornalistas não estejam isentos de culpas. Custa a crer que Noronha Nascimento tenha dito uma coisa destas, mesmo como mero exercício destinado a «passar a mão pelo pêlo» aos seus pares.

17 de dezembro de 2009

DECOTES. Ai não é caso único? Então onde se pode ver mais fotografias das nossas ilustres deputadas com os respeitáveis decotes? Desculpem lá o mau jeito, mas eu não vou nisso dos decotes «inocentes», muito menos quando os ditos são «generosos». Pelo contrário, presumo sempre que as senhoras que os ostentam não querem passar despercebidas, pelo que o pior que se pode fazer é ignorá-los. Publiquem-se, pois, os decotes, e não me venham com histórias da carochinha.

14 de dezembro de 2009

VERDADE INCONVENIENTE. Confesso que ainda não percebi qual é o problema com o clima, mas deve ser deficiência minha. Estarei a ver mal, ou os cientistas dividem-se sobre o alegado «aquecimento global» e/ou as suas causas? Terei sonhado, ou há cientistas pouco rigorosos, outros que aldrabam, e ainda outros que tentam calar? Como concluir o que quer que seja no meio das dúvidas, da incompetência, da intimidação, e da aldrabice? Curiosamente, nunca se ouvem aos «amigos da terra» e a outros espécimes do género qualquer comentário quando surgem notícias de que certos países põem e dispõem sobre o clima, como nos dá conta esta notícia do Público de sábado. Desviar o Sol para a eira e a chuva para o nabal parece uma ideia interessante, mas imaginem até onde isto nos pode chegar. Não será assustador? Pena que os beneméritos que andam para aí a pregar a «justiça climática» e a anunciar o fim do mundo não vejam estas «verdades inconvenientes».
DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS. E se Armando Vara «está mesmo inocente», e «aquilo que [ele] diz é verdade»?, interroga-se Moita Flores. Seria, de facto, uma tragédia se assim fosse. Pena é que o ex-agente da Judiciária não use o mesmo princípio para todos os casos em geral e para o «caso Maddie» em particular, sobre o qual se fartou de acusar os pais da criança pelo desaparecimento da filha sem a mais leve prova.

11 de dezembro de 2009

FADOS E GUITARRADAS. Volta e meia criticam-me o escasso entusiasmo pelo fado, nos melhores casos alertando-me para uma deficiência, nos piores insultando-me. (Continue a ler aqui.)

9 de dezembro de 2009

PALHAÇADAS. Assisti, como boa parte dos portugueses, à troca de insultos entre os deputados Maria José Nogueira Pinto e Ricardo Gonçalves durante os trabalhos da Comissão Parlamentar de Saúde.



Tendo em conta os acontecimentos da semana anterior, em que o primeiro-ministro aconselhou «juizinho» ao deputado Paulo Portas e ocorreram outras cenas igualmente lamentáveis, não estaremos longe das bengaladas de que se falava n’As Farpas. Pena é que hoje em dia nos falte um Eça (ou um Ramalho) para descrever as cenas parlamentares como elas então foram descritas.

8 de dezembro de 2009

DESCOBERTAS. Graças a Doutor Pasavento, do catalão Vila-Matas, acabo de descobrir William Henry Hudson, um escritor argentino de que nada sabia mas que fiquei curioso de conhecer. Jorge Luis Borges considerou The Purple Land «o melhor trabalho da literatura gaúcha» que alguma vez leu, e chegou mesmo a compará-lo à Odisseia. Vai ser por aí que vou começar.
LEITURAS RECOMENDADAS. O editorial do medo e De Mal a Pior
Mais uma tragédia na blogosfera.

7 de dezembro de 2009

D. SEBASTIÃO REVISITADO. O caso foi demasiado sério para que com ele se brinque, mas quem resiste a um sorriso depois de saber que dois comandos do Exército se perderam numa serra algures no norte de Portugal e acabaram salvos por um pastor de caprinos? Então os nossos rapazes, ainda por cima instrutores de outros comandos, enrascam-se com um prosaico nevoeiro? Ou já não há comandos como antigamente, ou os portugueses perdem-se no nevoeiro com uma facilidade espantosa.

4 de dezembro de 2009

LI E GOSTEI (10)

«Countries today can choose to be prosperous. One of the most damaging myths of our time is that poor countries live in poverty because of a conspiracy of the rich countries, who arrange things so as to keep them underdeveloped, in order to exploit them. There is no better philosophy than that for keeping them in a state of backwardness for all time to come. Because today that theory is false. In the past, to be sure, prosperity depend almost exclusively on geography and power. But the internationalization of modern life — of markets, of technology, of capital — permits any country, even the smallest one with the fewest resources, if it opens out to the world and organizes its economy on a competitive basis, to achieve rapid growth.»

Mario Vargas Llosa, A Fish in the Water

3 de dezembro de 2009

REFERENDAR OU NÃO REFERENDAR. Também achei execrável o resultado do referendo suíço sobre os minaretes, e muito perigoso o precedente que se abriu. Mas a solução será não fazer referendos sempre que exista a possibilidade de os eleitores votarem «de maneira que não interessa»? Por aquilo que já li, seria essa a solução, e parece-me desnecessário lembrar que isso seria uma subversão total dos valores democráticos. Querem proibir o referendo a certas matérias? Então façam constar na Constituição as matérias que não são referendáveis — ou, então, acabem com o referendo. Não se pode é referendar quando interessa, e não referendar quando não interessa — muito menos ser contra ou a favor do referendo consoante as conveniências do momento.

2 de dezembro de 2009

DO RELATIVISMO. A Al-Qaeda prepara novos atentados em solo americano? Não me surpreenderia, mas a verdade é que não sei. De uma coisa, porém, não duvido: fosse o ex-presidente Bush a dizer isto, e teríamos o caldo entornado. Também não será difícil imaginar o que se diria de Bush caso fosse ele a mandar mais 30 mil soldados para o Afeganistão. Como foi Obama, que prometeu mundos e fundos durante a campanha, certamente que o reforço das tropas foi uma inevitabilidade.
LIBERDADE CONDICIONAL. Cintra Torres acha normal que um jornalista da RTP omita, numa notícia, factos que posteriormente, «fora das horas de serviço e em actividades individuais», revele em blogues ou redes sociais. Caso o proíbam de semelhante exercício, sentencia: é uma ofensa aos «mais básicos princípios da liberdade de expressão». Como facilmente se percebe, a «teoria» não tem pés, nem cabeça. Quem compreenderia que um jornalista não divulgue determinados factos no exercício da sua profissão, e, depois, «fora das horas de serviço», os divulgue em blogues ou redes sociais? Não seria isso a total descredibilização do jornalismo e dos jornalistas? Escusado será dizer que Cintra Torres seria o primeiro a trucidar quem se metesse por tais caminhos, e nem era caso para menos. Como se trata da RTP, com quem tem contas a ajustar, o princípio não se aplica.

1 de dezembro de 2009

LI E GOSTEI (9)

«In 1946, when I was seventeen, I had the good fortune to ask him a question: “Mr. Churchill, sir, to what do you attribute your success in life?” Without pause or hesitation, he replied: “Conservation of energy. Never stand up when you can sit down, and never sit down when you can lie down.” He then got into his limo.»

Paul Johnson, Churchill
Mr. Bean em Vila Real