29 de setembro de 2009

LAMENTÁVEL. Visivelmente nervoso e demonstrando uma insegurança surpreendente, o presidente da República tentou explicar ao país o que o país há muito desejava saber: se houve, ou não houve, escutas do Governo à Presidência da República, e se houve em que circunstâncias se verificaram — e que tipo de envolvimento terá existido por parte de um membro do seu staff, alegadamente por si mandatado. Tentou, mas não conseguiu. As explicações de Cavaco não esclarecerem ninguém, mesmo os que seguem de perto estas coisas — e omitiram questões essenciais. Pior: alegando vulnerabilidades no sistema informático da Presidência da República, estranhamente só hoje detectadas, o presidente deixou no ar a suspeita de que pode estar a ser vigiado. Por quem, não disse, mas toda a gente percebe por quem, até porque Cavaco acusou «destacadas personalidades do partido do Governo» de mentirem e de manipulação. Se a comunicação de Cavaco ao país foi, em termos pessoais, um perfeito desastre, em termos institucionais foi lamentável. É que se adivinha uma relação conflituosa com o próximo Governo, ou ainda mais conflituosa que a existente com o actual Governo, e isso não pode ser benéfico para o país.

28 de setembro de 2009

PERDER DUAS VEZES. É costume dizer-se que não é a Oposição que ganha as eleições, mas o Governo que as perde. Isto, claro, quando a Oposição ganha as eleições. Como não foi o caso, poder-se-á argumentar que a Oposição, no caso o PSD, perdeu duas vezes? Seguindo o raciocínio inicial, é o que se impõe dizer após a vitória de Sócrates, especialmente depois de se saber que o líder socialista foi atacado por tudo e por todos, incluindo o presidente da República. Já se sabia que vale tudo em política, mas desconfio que o vale tudo compense.
BOAS E MÁS NOTÍCIAS. Como disse há dois posts, decidi, pela primeira vez, não votar nas legislativas, razão pela qual me foi relativamente indiferente o resultado das eleições de domingo. Mas não posso deixar de salientar o que para mim constituiu uma boa e uma má notícias: o PS perdeu a maioria absoluta (a boa notícia), e o Bloco quase duplicou a votação. Posso estar enganado, mas estou convencido de que a maioria (repito: a maioria) dos votantes do Bloco fizeram-no por mero protesto, por considerarem o Bloco um partido diferente ou anti-sistema, embora pouco ou nada conheçam dos princípios que o move. Vão sendo horas, portanto, de demonstrar quem é o Bloco e o que pretende.

KANDINSKY. Imperdível a retrospectiva de Kandinsky no Guggenheim de Nova Iorque (até meados de Janeiro de 2010). Mais de cem trabalhos de várias proveniências que valem uma visita, a que se junta o próprio edifício (de Frank Lloyd Wright) a quem o visita pela primeira vez.
O quadro que ilustra este post (Feeling for Big Mountains) não integra a exposição do Guggenheim.

25 de setembro de 2009

ENCOMENDAS. Que atire a primeira pedra quem nunca errou, de forma consciente ou não, forçado ou por vontade própria. Mas o caso das alegadas escutas a Belém divulgado pelo Público é demasiado grave para que a discussão se centre em questões de pormenor — como, por exemplo, se o DN agiu correctamente ao divulgar o e-mail trocado entre dois jornalistas do Público, ou se houve, ou não, violação de correspondência por parte do DN. O que o DN noticiou é demasiado grave para se calar, e isto é que é o essencial. O resto, e o resto inclui a forma como o DN teve acesso ao e-mail, são detalhes. Detalhes porventura importantes, mas detalhes.
FARTO. José Sócrates jamais foi santo da minha devoção, Manuela Ferreira Leite nunca me convenceu, Cavaco Silva desceu muitos degraus na minha consideração. Três boas razões para eu não votar nas legislativas do próximo domingo — nem, sequer, em branco.
FENÓMENOS LITERÁRIOS. Li as primeiras páginas de 2666, do chileno Roberto Bolaño, alternadamente em espanhol e inglês, e decidi que vou esperar pela tradução portuguesa (da Quetzal, nas livrarias a partir de hoje). Li, também em inglês, as primeiras páginas de The Girl with the Dragon Tattoo (em português Os Homens Que Odeiam as Mulheres), do sueco Stieg Larsson, e também resolvi adquirir a tradução portuguesa de toda a série Millennium. Não sei se estou diante os acontecimentos literários que os media garantem, mas o que já li deixou-me água na boca, e são cada vez menos os livros que me deixam água na boca.

10 de setembro de 2009

FÉRIAS. Vou de férias nas próximas três semanas, pelo que os posts serão, em princípio, mais espaçados. Caso sobreviva à barrigada de figos que tenciono apanhar numa certa figueira, conto regressar à «normalidade» na primeira semana de Outubro.
RENTES DE CARVALHO. Viagra, narizes, medos, conversa

8 de setembro de 2009

HIPOCRISIA (2). Não há, segundo Manuela Ferreira Leite, «asfixia democrática» na Madeira, mas sim no continente. O que há na Madeira, diz ela, é um governo eleito pelo «povo», por acaso um exemplo de um bom Governo do PSD. Também Alberto João Jardim afinou pelo mesmo diapasão: Portugal vive «uma democracia limitada», e não será preciso dizer que ele não inclui a Madeira no Portugal de que fala. Como diria o outro, estão bem uns para os outros.
HIPOCRISIA (1). Como diariamente se constata, vale tudo em política, incluindo tirar olhos. Mas cada vez me custa mais aceitar a hipocrisia a propósito do «caso Manuela Moura Guedes», sobretudo quando ela é praticada por pessoas que admiro, e que noutros cenários arrasariam Manuela em vez de lhe elogiarem a «independência» e a «coragem».
TRAVESTIS. Manuela Moura Guedes insinuou que o jornalismo «travestido» de que Sócrates a acusou de praticar é uma expressão apenas usada «em certos contextos», deixando no ar a suspeita que todos estão a pensar. Depois gaba-se de ser «mais séria» que os colegas de profissão, que considera uma horda de «cobardes», e por quem diz não ter «grande apreço». De facto, a insinuação de Manuela sobre o primeiro-ministro é um bom exemplo de «seriedade» e «coragem».

7 de setembro de 2009

PROFESSORES. A ministra Lurdes Rodrigues deixou de ter condições para se manter à frente do Ministério da Educação a partir do momento em que admitiu que o projecto de avaliação de professores, pelo qual tanto se bateu, poderia ser revisto. Admitir, agora, por razões eleitorais, que houve um problema de comunicação entre o Governo e os professores, que promete corrigir na próxima legislatura, chega a ser caricato. Infelizmente para o país, os professores do ensino público levaram, de novo, a palma ao Governo. Digo infelizmente porque as questões do ensino nas escolas públicas se resumem, em Portugal, à questão dos professores, ao bem-estar dos professores, à carreira dos professores, aos humores dos professores. Sim, eles dizem que querem ser avaliados. Só que estão contra todos os modelos que lhes põem à frente, e não apresentam alternativa. (Já agora, alguém percebe a oportunidade da manifestação marcada para uma semana antes das eleições?)

4 de setembro de 2009

AI NOSSA SENHORA. Amanhã é dia de Dinamarca-Portugal. Não se esqueçam, portanto, de acender uma velinha.
TVI (6). Já disse e repeti o que penso do «jornalismo» de Manuela Moura Guedes, e não é agora, em plena refrega, que mudo de opinião. Os juízos de valor e as insinuações que por lá se praticavam, que alguns designam por jornalismo «sério» e «corajoso», não me deixam saudades. É que eu não acho que determinado modelo é bom quando me dá jeito, e é mau quando não dá. Os princípios, para mim, não variam consoante as circunstâncias, e é de princípios que falo. (Ler, a propósito, a crónica de Ferreira Fernandes no DN de hoje.)
TVI (5). Já repararam que a maioria dos comentários dos leitores nos jornais online apoiam, ao contrário da generalidade dos jornalistas, a extinção do jornal de Moura Guedes?
TVI (4). Vejam lá se conseguem ler sem se rirem o que disse José Eduardo Moniz ao Correio da Manhã: «E agora quem nos dá as notícias?»

3 de setembro de 2009

TVI (3). Politicamente falando, quem ganha com o «caso TVI»? José Sócrates? O PS? Qual das seguintes hipóteses será a pior? Acabar com o que nos incomoda, ou ficar com a fama de acabar com o que nos incomoda? Isto devia, na minha opinião, servir para esfriar os ânimos. É que o episódio da TVI causou, ao PS e a quem nele manda, mais prejuízo que lucro. E Sócrates pode ser tudo, mas estúpido é que ele não é.
TVI (2). Há uma peça «com dados novos» sobre o «caso Freeport» que o jornal de Manuela Moura Guedes se preparava para divulgar? E quem impede que ela seja divulgada noutro espaço informativo da mesma TVI?
TVI (1). Imaginemos que Belmiro de Azevedo resolvia dizer que o Público deixaria de se publicar a partir do final da semana, ou afastar o actual director. Sendo o Público considerado hostil ao Governo e José Manuel Fernandes um opositor declarado de José Sócrates, estaríamos perante um atentado à liberdade de expressão?
PORTUGUESES E PORTUGUESES. Então os estrangeiros naturalizados portugueses são, «para todos os efeitos, portugueses», e «para efeitos futebolísticos» já não são? É impressão minha, ou isto quer mesmo dizer que não há problema com os estrangeiros naturalizados desde que eles não assumam, na prática, essa condição? Marta Rebelo diz que a entrada de estrangeiros naturalizados «é contra o espírito da selecção». Ora, o que é «o espírito da selecção»? Palavra de honra que eu tinha Marta Rebelo por uma mulher inteligente e desempoeirada.
JUDITE DE SOUSA. Li não sei onde que em Portugal se publicam, diariamente, mais de meia centena de livros. Não percebo, por isso, o que levou a RTP, onde os noticiários generalistas raramente concedem espaço aos livros, a passar duas vezes (Telejornal de ontem e Jornal da Tarde de hoje) uma reportagem onde se dá conta do lançamento de um livro de Judite de Sousa.

1 de setembro de 2009

SOARES, O MACHISTA. Quem me lê sabe que discordo de quase tudo o que diz Mário Soares. Tirando o que todos lhe reconhecem e agradecem (Soares evitou que Portugal passasse de uma ditadura para outra), não tenho, portanto, razões para o defender, nem ele precisa. Mas parece-me um exagero (para não dizer maldade) dizer-se que Mário Soares foi machista quando zurziu em Manuela Ferreira Leite a propósito da entrevista que Manuela concedeu à RTP. Dizer que a líder do PSD foi «de uma banalidade que (...) roçou o patético», ou que falou de Sócrates com «um olhar de mazinha ao canto do olho», são comentários machistas? Não vi a entrevista de modo a que possa ajuizar o que lá se passou, mas li, e acabo de reler, o texto que Mário Soares publicou no DN que originou tal leitura, e não vejo lá nada que possa designar-se machismo. Certamente que os argumentos de Soares contra Manuela são facilmente rebatíveis, mas atacá-lo por uma razão que não se vislumbra é dar-lhe a razão que talvez não tenha.
O FUTURO DO LIVRO. Percebo o receio sobre o futuro do livro em papel, mas começo a cansar-me dos argumentos contra os meios electrónicos, alegadamente porque os meios electrónicos ameaçam a existência do livro em papel. (O restante pode ser lido na minha página pessoal.)
BOAS NOTÍCIAS. O Pedro Mexia regressou à blogosfera com a Lei Seca.