30 de março de 2007

Tenho para mim que as más ideias — o que considero más ideias — devem morrer «às mãos» das boas ideias, nunca «às mãos» de uma lei que as censure ou proíba. Essencialmente por duas razões: porque acho que toda a gente tem direito às suas ideias e a expressá-las livremente, e porque estou convencido de que só as ideias derrotam eficazmente as ideias. O caso recente do cartaz do PNR, onde se lê «Basta de imigração» e «Portugal aos Portugueses», serve perfeitamente para ilustrar o que falo. E estou à vontade para o dizer: sou emigrante, embora não emigrante a residir em Portugal. Em vez de palavreado politicamente correcto (quando não hipócrita) e sem qualquer eficácia, invista-se mais tempo e energia tentando demonstrar aos cavalheiros do PNR (e a quem pensa como eles) que não têm razão. Pode não ser a solução, mas certamente que é um bom começo.

26 de março de 2007

O Governo português transformou o consulado de Portugal em Frankfurt em vice-consulado. Perante o facto, a Lusa publicou uma notícia com o seguinte título: Portugueses contestam alegada despromoção do Consulado de Frankfurt. Assim mesmo: alegada, como se o facto deixasse quaisquer dúvidas.
Sim, demos cabo dos belgas, e com alguns golos de encher o olho. Mas há uma coisa em que o treinador belga tem razão e de que me envergonho: o comportamento dos portugueses em Alvalade durante o hino belga. Alguém explica àqueles selvagens que já não vivemos no período das cavernas?

23 de março de 2007

Não se percebe por que razão o Público resolveu publicar uma Nota Editorial a justificar a reportagem sobre a licenciatura de Sócrates. Há dúvidas de que o assunto é notícia? Parece evidente que não. Assim sendo, porquê a explicação? Receio do primeiro-ministro? Suspeita de que os leitores não são suficientemente inteligentes de modo a julgarem por si?

22 de março de 2007

Certamente que ninguém esperava ver esclarecidas as acusações de que Valentim Loureiro é alvo, mas esperava-se que o major tivesse apresentado argumentos mais contundentes na entrevista à RTP. (Falo de contundência em termos de conteúdo, que na forma foi contundente bastante.) Valentim Loureiro embrulhou-se em demasia em explicações detalhadas sobre assuntos que ninguém conhece (e de que ninguém quer saber), e que não contribuíram em nada para a sua defesa. Pior: passou a vida a acusar a Justiça de erros processuais, e ninguém acredita que a Justiça, por mais desacreditada que esteja, tenha feito tudo mal. Resumindo, Valentim Loureiro perdeu uma excelente oportunidade para demonstrar que está inocente dos crimes (26) de que é acusado, e tudo indica que por falta de argumentos.

21 de março de 2007

A palermice do guarda-redes da selecção belga, que terá dito a um jornal que a estratégia da sua equipa para o jogo com Portugal passaria por lesionar Cristiano Ronaldo logo nos momentos iniciais, vai, obviamente, voltar-se contra a sua equipa. É que, após o barulho causado, já se estão a ver os belgas a ter especiais cuidados com o nosso craque, pois certamente que vão querer demonstrar que não há más intenções. Os belgas mas não só os belgas, que a equipa de arbitragem não deixará de estar de olho nos rapazes. Caso para dizer que há males que vêm por bem.
Belmiro de Azevedo acha que o Governo não foi neutro no negócio da OPA e devia ter sido. Mas, depois, esperava que o mesmo Governo «indicasse um voto óbvio de apoio à operação» da Sonae. Ou seja, esperava que fosse neutro... mas que escolhesse a Sonae.
A parte mais interessante do Prós e Contras sobre a televisão em Portugal foi, sem dúvida, aquela em que Morais Sarmento foi apanhado nas nuvens. Não, estou a falar a sério. É que esse foi o único momento que consegui assistir sem bocejar.
Artesanato

19 de março de 2007

Paulo Portas é acusado de assalto ao poder, Ribeiro e Castro de estar agarrado ao poder. Quem tem razão? Vistas as reportagens do Conselho Nacional e lido o que os jornais publicaram sobre o assunto, fiquei sem saber. Pelo meio, Maria José Nogueira Pinto garante ter sido agredida por um deputado de Viseu (que refutou alegando que «os beirões não batem em mulheres»), e peixeiradas sem conta. Os próximos capítulos prometem antecipar os detalhes do enterro do CDS.
António Lobo Antunes dizia, em entrevista ao Público, que «saber ler é tão difícil como saber escrever». A coisa soa a exagero, mas talvez seja um exagero não muito exagerado. Mas se isto se presta a algumas dúvidas, já me parece indiscutível quando ele diz que «ler é uma coisa que também se aprende», e até estou convencido de que qualquer pessoa com hábitos de leitura sabe disso por experiência própria. Indiscutível e uma verdade que apetece lembrar aos que andam para aí a dizer sem dizer que têm um problema com Lobo Antunes, embora não esclareçam qual.

16 de março de 2007

Os americanos têm planos para atacar o Irão? Seria leviano não os terem. Mas tê-los não significa que se preparem para os pôr em prática, coisa que ninguém deseja. Significa, sim, que os EUA estão preparados para essa eventualidade, o que é muito diferente. Aliás, como pressionar o Irão com alguma eficácia sem ameaças sérias em cima da mesa?

14 de março de 2007

Graças ao post de Francisco José Viegas, redescobri Rentes de Carvalho, de quem já tinha lido algumas prosas na Periférica e, depois, em Os Canhões de Navarone. Falo do Tempo Contado, um blogue que eu não sabia que existia e de onde acabo de regressar após ter lido todos os posts. Podia aconselhar vários textos lá publicados, mas este deve bastar para abrir o apetite.

12 de março de 2007

Eduardo Cintra Torres (ECT) prossegue, no Público, a cruzada contra o Governo, mais exactamente contra o que ele designa por «intervenções cirúrgicas» do Governo na RTP. Argumenta o crítico que o Telejornal deu 2 minutos e 28 segundos à posição do Governo sobre as estatísticas dos tribunais e 3 minutos e 14 segundos às posições contrárias. Como «dar os dois lados da questão era mau para o governo», concluiu, a televisão pública resolveu convidar o ministro da Justiça para o mesmo Telejornal, onde terá falado durante 6 minutos e 33 segundos. Remata ECT sobre este episódio que o «governo ficou a ganhar com o triplo do tempo e a última palavra». Ora, apesar de rigorosos na aparência (veja-se o pormenor dos segundos), os factos avançados por ECT são insuficientes. Resumir a questão ao tempo de antena a que cada um teve direito não me parece razão bastante para que se possa dizer que o Governo beneficiou, como também não me parece que a simples presença do ministro no Telejornal beneficie, por si só, o Governo — além de me parecer plenamente justificada a presença do ministro no Telejornal. Se o ministro Alberto Costa beneficiou com as explicações que deu, é coisa que não se pode aferir, apenas, pelo tempo de antena que lhe concederam. Prossegue ECT afirmando que o Notas Soltas é «o mais aviltante programa de propaganda governamental pós-moderna da actualidade», alegando que é um espaço televisivo onde «o governo dá instruções ideológicas aos seus militantes». Pior: o Notas Soltas é feito pelo «nº 2 do partido do governo», apesar de reconhecer ao dr. Vitorino «algumas opiniões genuinamente individuais». Ora, quer isto dizer que a televisão do Estado não pode ter comentadores pró-governamentais ou do partido do Governo? Será que o modelo de televisão pública só comporta comentadores políticos da oposição? Termina ECT dizendo, sem dúvida para reforçar a tese das «intervenções cirúrgicas», que o Prós & Contras desse mesmo dia «cumpria uma vez mais a sua missão cirúrgica» de apoiar o Governo ao conceder 189 minutos de antena ao ministro Correia de Campos, esquecendo-se de especificar o tempo gasto por quem se lhe opôs e repisando a tese de que o tempo é tudo o que importa — além de acusar os profissionais que fazem aquele programa de cederem às pressões do Executivo. Tudo isto para dizer que o Governo instrumentaliza a televisão sob a sua tutela, demonstrando estar disposto a tudo para alcançar esse propósito, incluindo tirar olhos. Ora, o Governo usa a RTP em seu benefício? Hoje como ontem, a resposta é: provavelmente. Aliás, há anos que ouvimos esta conversa, e não deve haver Governo que não tenha ficado com a fama de controlar a RTP — e, provavelmente outra vez, com o proveito. Ora, é precisamente este o meu ponto. Que um cidadão tenha suspeitas e as divulgue, aceita-se. Mas de um crítico de media espera-se mais, muito mais: espera-se que vá além das insinuações, e espera-se que apresente factos sólidos quando faz acusações. Pior: as críticas sobre esta matéria vêm quase sempre de gente suspeita politicamente, o que leva os cidadãos menos apaixonados pela política a encará-las com cepticismo e a reduzir-lhes a eficácia. Devo dizer, depois destas reticências, que não tenho razão alguma para defender o Governo nesta ou noutras matérias, e que o meu ponto de vista sobre este assunto não varia consoante a cor política de quem está no Governo. Devo dizer, também, que tenho plena consciência de que estou a remar contra a maré, que me vão acusar de estar ao serviço de não sei que forças, pois o normal num caso destes não é defender o que se julga estar certo mas puxar a brasa à sardinha. Digo isto sobre a tese de ECT por outras razões: porque criticar assim não custa nada; porque me chateia que se façam acusações que nunca se provam; porque me chateia que praticamente ninguém dos que discordam reaja ao que ele escreve; porque me chateia que acusações deste teor deixem quase sempre a quem acusa o estatuto de corajoso — que nem sempre merece — e o acusado sem hipótese de defesa — o que é uma injustiça.
A nova direcção do DN entrou em funções no dia em que o mesmo DN anunciava, na capa, que o Governo efectuou 2373 nomeações em dois anos. Terá sido coincidência?

8 de março de 2007

Repararam naquele momento em que o líder dos Super Dragões abandonava a PJ após ter prestado declarações e se virou para os jornalistas para lhes comunicar que não falava por causa do segredo de Justiça? Pois fiquem sabendo que são momentos como este que me fazem sentir orgulho de ser português... e viver no estrangeiro.

7 de março de 2007

«A acumulação da medicina pública com a privada é nefasta para o País», disse António Barreto ao Expresso. E nefasta porquê? Porque, segundo ele, «há muitos médicos que têm interesse em que os serviços públicos funcionem mal porque isso aumenta a possibilidade da actividade no serviço privado». Disse mais António Barreto ao semanário de Balsemão: «Geralmente [os médicos] passam a manhã no público e a tarde no privado. Não trabalham o número de horas suficiente no público, talvez metade ou um terço do que deveriam trabalhar. Operam pouco no público para operarem à tarde no privado. Com este sistema dominam a oferta e a procura.» Ora, perante estes factos, os médicos não têm nada a dizer? Preferem fazer de conta que não ouviram ou que não é nada com eles? É claro que nem todos os médicos recorrem ao expediente, como António Barreto teve o cuidado de realçar, mas até por esse motivo deviam tomar posição.

5 de março de 2007

Anda por aí um mal disfarçado ressentimento de alguns jornalistas contra a blogosfera em geral e contra alguns bloggers em particular. Parece que não se pode criticar os jornalistas, e a haver críticas só podem vir do meio — ou de alguém com provas dadas no meio. (O resto está aqui.)

2 de março de 2007

Se não estou em erro, já escrevi pelo menos duas vezes sobre o eBook (refiro-me à maquineta que permite ler livros ou outros textos em formato digital), mas apetece-me voltar ao tema. Contrariamente ao que sucedeu das outras vezes, agora para falar mal. Depois de ter elogiado o Rocket eBook e o RCA eBook, e aguardar durante meses o modelo da Sony (o Portable Reader), chegou a hora dos defeitos. Não que eu tenha mudado de opinião acerca do eBook, mas porque o tão aguardado modelo da Sony foi uma desilusão quase completa. Digo «quase completa» porque tem coisas boas, mesmo coisas muito boas, só que escassas. A primeira é a qualidade de imagem, que melhorou substancialmente. Graças a uma nova tecnologia, é possível, agora, ler sob luz intensa (do sol, por exemplo), coisa que não se podia nos anteriores modelos. A segunda é o design da maquineta (do tamanho de um livro de bolso com cento e poucas páginas, para simplificar a explicação). A terceira… bom, não há terceira. Já na parte má sobram exemplos. O primeiro de todos, e totalmente incompreensível, é a impressão de que os técnicos da Sony não olharam para os anteriores modelos e copiaram o que estava bem. Qualquer um desses modelos possibilita a leitura nocturna e possui ecrã táctil, características ausentes do modelo da Sony que fazem uma enorme diferença. Para quem não sabe do que falo, a luz interior possibilita a leitura às escuras (como nos ecrãs dos computadores), e o ecrã táctil permite operar a maquineta de forma mais intuitiva e com maior rapidez. Mas há mais defeitos: os botões que permitem «folhear» as páginas estão mal situados, obrigando o uso das duas mãos (o que não sucede nos modelos da Franklin e da RCA). Falta-lhe, também, um motor de busca capaz de pesquisar dentro de um texto, apesar de disponível no software que interage a maquineta com o computador. Há outras funcionalidades que não existem ou podiam ter sido melhoradas, mas estas são as essenciais e chegam e sobram para que se possa dizer que o Portable Reader é um modelo falhado. Falhado por causa das expectativas criadas, falhado porque os defeitos superam largamente as vantagens face aos modelos anteriores. Como leio no eBook praticamente desde o seu aparecimento, e porque cada vez encontro mais vantagens no eBook quando o comparo ao livro tradicional, acreditem que sou o primeiro a lamentar.
Significa isto que o Pedro Mexia se casou?

1 de março de 2007

O príncipe Carlos resolveu sugerir o fim da cadeia McDonald’s, a pretexto de que a comida que lá se vende faz mal à saúde. Sendo o cavalheiro um entusiasta da chamada comida biológica, compreende-se. Mas seria bom lembrar-lhe uma evidência: a McDonald’s é, apenas, a face mais visível de um certo tipo de comida que está em todo o lado, pelo que não deve ser tomada de ponta. Depois, onde nos levaria uma proibição destas? A só podermos comer o que faz bem à saúde? À recusa dos serviços de saúde em pagar os tratamentos caso a mijinha demonstre transgressão à cartilha?
Mário Bettencourt Resendes tem saudades dos tempos em que os jornalistas não eram matéria de notícia, em que o trabalho por eles desenvolvido não tinha o escrutínio que tem hoje. Cita um exemplo para ilustrar a ideia: a reportagem da CBS sobre o serviço militar de Bush que custou o emprego à autora e ao apresentador do 60 Minutes após um blogue ter revelado que os documentos exibidos pela CBS eram forjados, apesar de «todas as precauções da equipa de reportagem». Ora, como sabe Bettencourt Resendes que houve «todas as precauções da equipa de reportagem»? É um palpite? Não teria sido mais rigoroso dizer que os intervenientes no episódio da reportagem alegaram ter tomado «todas as precauções» em vez de apresentar a coisa como se de um facto inquestionável se tratasse? E o facto de um simples blogue ter descoberto a marosca que «todas as precauções» da CBS não detectaram não é, para Bettencourt, matéria relevante? Termina o cronista dizendo: «Fica a lição de que o jornalismo de investigação assenta, nestes dias, em terreno cada vez mais pantanoso, exigindo cuidados redobrados.» Ora, isso é mau?