16 de setembro de 2011

FÉRIAS. Vou de férias nas próximas semanas, durante as quais tenciono abastecer-me de livros e de sol, de figos de uma certa figueira e de uvas de uma certa vinha, da velha e boa gastronomia portuguesa e de um vinho do Porto que eu cá sei — e, de caminho, engordar mais uns quilitos. Se tudo correr conforme espero, regresso no dia 10 do mês que vem.

15 de setembro de 2011

BAPTISTA-BASTOS. Apesar de quase sempre discordar dos seus pontos de vista, tenho-o como um dos melhores praticantes da língua portuguesa a escrever nos jornais. Espanta-me, por isso, que se tenha referido a Maria de Belém Roseira como presidenta do PS, tanto mais que o ilustre jornalista tem por hábito recorrer, e bem, ao «português antigo» dos clássicos portugueses. Como já foi dito e demonstrado, presidenta é um disparate. Um disparate porventura bem-intencionado, mas um disparate.
ESCUTAS. Tirando o Expresso e o Público, o primeiro por razões mais empresarias que jornalísticas e o segundo porque envolveu um ex-jornalista da casa, ninguém quer realmente saber das escutas das secretas ao jornalista Nuno Simas. Não tenho dados que o comprovem, mas ainda assim arrisco um diagnóstico: os portugueses imaginam que as secretas fazem tudo o que se diz e o que não se diz, e como assim é aceitam a coisa como uma fatalidade. Como imaginam, suponho, que as secretas não cumprem cabalmente a missão que lhes está confiada, como fatalmente acontece com a generalidade dos órgãos do Estado.

14 de setembro de 2011

ESQUERDA vs DIREITA. Tal como a esquerda, que vê o Estado como o paizinho de toda a gente, a direita, que na oposição tanto se bate pelo corte nas despesas, uma vez no Governo faz o mesmo que a esquerda. Como se vê pelo actual Governo (mas nem era preciso), se for preciso mais dinheiro, aumenta-se a receita. Talvez pior: a avaliar pelas nomeações já efectuadas, segundo alguns nem sempre transparentes, não me surpreenderia que as despesas do Estado já tenham aumentado, as tais despesas que o actual primeiro-ministro prometeu reduzir caso o PSD fosse Governo. Seria bom, portanto, que da próxima vez que ouvirmos os políticos clamar que é preciso cortar a despesa exigir-lhes que nos digam, em concreto, onde cortar. Em fundações? Em organismos públicos que ninguém sabe para que servem? Muito bem. Digam-nos que fundações, que organismos, e quanto poupará o Estado livrando-se deles. Assim ficaremos a saber de que falam os políticos quando falam de corte das despesas, e ser-lhes-á mais difícil não pôr em prática o que prometem.

13 de setembro de 2011

PARIS É UMA FESTA. «Cuando se comió el último franco del pasaje de regreso, [García Márquez] recogió botellas, revistas y periódicos viejos y los cambió por algunos francos. Por fortuna, nunca le faltaron una botella de vino y una baguette sobre la mesa y siempre tendría a su disposición la cocina de algún amigo para preparar unos spaghetti de emergencia. Había un recurso que no fallaba, y es que él y sus compatriotas latinoamericanos en la misma situación habian descubierto que "si uno compraba un bistec, el carnicero regalaba un hueso y se hacía un caldo. A veces uno pedía prestado el hueso para hacer su caldo y lo devolvía".» Dasso Saldívar, El viaje a la semilla

12 de setembro de 2011

11 DE SETEMBRO. Passei o aniversário do 11 de Setembro a remediar mazelas causadas pela dona Irene, o furacão que me criou mais problemas que a tragédia que domingo se assinalou. Não tive tempo, por isso, para as dezenas de horas de televisão, muito menos para os quilómetros de prosa que por aí se publicaram. Hoje, uma leitura por alto da imprensa atrasada confirmou o que eu suspeitava: não perdi grande coisa. O que vi foram ditos de ocasião, dezenas de lugares-comuns, banalidades. Para não variar, o jornalismo português voltou a parir um rato.

9 de setembro de 2011

GARCÍA MÁRQUEZ. Feita uma rápida pesquisa na internet, descubro que El viaje a la semilla, do colombiano Dasso Saldívar, não tem edição em português. Não sei se é a melhor biografia de García Márquez, como alguns garantem, mas é um livro magnífico. Estão à espera de quê as editoras portuguesas?

7 de setembro de 2011

COM AMIGOS DESTES. Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes, Manuela Ferreira Leite, Rui Rio, Morais Sarmento, Mira Amaral, Vasco Graça Moura, Pacheco Pereira, Lobo Xavier, Pires de Lima. O que tem esta gente em comum? São, como é óbvio, ilustres militantes do PSD e do CDS que já manifestaram descontentamento com a política do actual Governo. Bem sei que algumas críticas são meros ajustes de contas, mas convenhamos que, mesmo assim, é caso para dizer: com aliados destes, nem são precisos adversários. Aliás, o maior partido da oposição tem-se pautado por uma falta de comparência que mete dó.

5 de setembro de 2011

COMUNICAÇÃO, DIZEM ELES. Há um problema de comunicação, dizem os partidos que sustentam o Governo. Segundo eles, o país não fala noutra coisa que não seja aumento de impostos (vão três em dois meses), e de cortes na despesa não se ouve palavra. Como ninguém acredita que o Governo fez cortes na despesa e se esqueceu de os anunciar, o que quererão centristas e sociais-democratas realmente dizer quando dizem haver um problema de comunicação? Quererão dizer que é preciso mais (ou melhor) cosmética para esconder a realidade?

1 de setembro de 2011

DÉJÀ VU. Tirando os fanáticos das teorias da conspiração, quem não sabe que os autores do 11 de Setembro foram extremistas islâmicos, que odeiam a liberdade e a América? Não se percebe, portanto, a indignação de algumas organizações islâmicas face à publicação de um livro para crianças sobre o 11 de Setembro, onde se diz, preto no branco, quem fez o que todos sabem. Quando se esperaria que o Islão dito moderado se insurgisse contra o fundamentalismo caseiro, insurge-se contra quem se limita a revelar os factos. Terão razão os seguidores de Maomé quando se dizem discriminados e olhados com desconfiança, mas a verdade é que nada fazem para que sejam tratados doutra maneira. Pelo contrário. As acções (e omissões) de que são protagonistas provocam precisamente o inverso do que pretendem, e não me parece que se possa dizer que se devam a inépcia de quem as promove — muito menos a má-fé de quem se destina.