23 de fevereiro de 2017

VALE TUDO NOS NEGÓCIOS? Pode não saber mais nada, mas é inegável que Donald Trump foi — talvez ainda seja — um empresário brilhante. Eis o que todos dizem, inclusive quem não votou nele. Como já perceberam, discordo. O alegado brilhantismo de Trump assentou, essencialmente, em três pontos: desastres empresariais que se tornaram em lucrativas falências, fuga (legal, até ver) aos impostos, e muita falta de escrúpulos (3.500 processos judiciais nos últimos 40 anos por falta de pagamento a pequenos empresários, só para dar uma amostra). Práticas que não tornam, para mim, ninguém brilhante, nem sequer respeitável. Como alguns tendem a esquecer e muitos a tolerar, não vale tudo nos negócios. E quando um candidato recusa tornar pública a sua declaração de impostos (uma tradição dos candidatos presidenciais) após ter sido eleito (como prometera fazê-lo durante a campanha), não há como não desconfiar de que algo não vai bem. Somados todos estes factores, a que poderiam juntar-se outros mais, brilhante só no modo como convenceu, e continua a convencer, quem votou nele. Resta saber até quando.

10 de fevereiro de 2017

AVANÇAR ÀS ARRECUAS. Apesar da bazófia e do fogo-de-artifício, o Presidente Trump está a render-se à «realpolitik». A parte má (ou boa, depende de que lado se observa) é que Trump diz hoje uma coisa, no dia seguinte diz outra — e se alguém notar a contradição foi uma invenção dos jornalistas, essa gente desprezível. Dois exemplos só nos últimos dois dias: depois da provocação inicial, os Estados Unidos vão, afinal, respeitar o princípio de uma «China única»; a transferência da embaixada americana de Telavive para Jerusalém vai, afinal, ser estudada «muito seriamente», pois a coisa «não é fácil». É uma espécie de avançar às arrecuas, o que não deixa de ser um avanço — e convenhamos que os recuos têm sido, até ver, melhores que os avanços. O único senão é que isto lhe descobre o que há por debaixo do famoso cabelo: Trump prometeu uma coisa, e está a fazer outra. Para um «não político», que se candidatou contra o que há de pior na política, é obra. E ainda a procissão vai no adro.