27 de abril de 2017

O DESASTRE ANUNCIADO. Impossível ignorar o silêncio dos apoiantes de Trump, cada vez mais ensurdecedor. São tantas as asneiras, a incompetência, as mudanças de opinião, as mentiras, a ignorância mais básica sobre tudo o que importa e os exemplos de indigência mental que se torna cada vez mais difícil defendê-lo. O muro foi adiado para as calendas. A política de fronteiras e a ordem executiva que penaliza as cidades que não cumprem as exigências federais em matéria de imigração esbarraram nos tribunais. O NAFTA, Tratado Norte-Americano de Livre Comércio com o México e Canadá que Trump em tempos considerou o pior acordo comercial da história, era para rasgar, agora é para ser renegociado. As despesas com as constantes deslocações de Trump ao seu clube privado na Florida, inexplicavelmente promovido — a custo zero — nalguns sites do governo, crescem diariamente sem que se perceba por que serão os contribuintes a pagar a conta. Os negócios da família montaram escritório na Casa Branca. A China passou de inimigo a abater a amigo a estimar (há por lá negócios da família a cuidar). A NATO era obsoleta, mas agora, por obra e graça ninguém sabe de quê, deixou de ser. A Rússia era amiga, agora ninguém sabe o que é. A América estava primeiro, mas três meses bastaram para atacar a Síria e o Afeganistão, a Coreia do Norte está no radar, e a aviação russa passeia-se perigosamente pelo Alasca. Para quem prometeu virar do avesso a política externa de Obama e erradicar o autodenominado Estado Islâmico (nada foi feito até agora), no mínimo é embaraçoso. Graças à incompetência dos que tentaram acabar com ele oferecendo em troca uma alternativa inventada à pressa (e bastante piorada), o tão odiado Obamacare mantém-se em vigor. As declarações de impostos do Presidente eram para ser mostradas aos eleitores, mas por razões que não foram explicadas já não vão ser mostradas. Sondagens recentes revelam que Trump é o Presidente mais impopular de sempre. Apenas 4% dos norte-americanos o considera honesto. Leram bem: quatro por cento (Obama chegou a ter 74, Bush filho 62, Clinton 61). A suspeita de conluio entre importantes figuras da campanha de Trump e a administração russa, que ainda há uns meses o Presidente elogiava (Trump nunca escondeu o seu fascínio por ditadores e aparentados), cresce de dia para dia. Sim, o Presidente conseguiu nomear o juiz Neil Gorsuch para o Supremo Tribunal, embora a sua base de apoio tivesse que recorrer a um expediente controverso. Para 100 dias de Governo, que agora se assinalam, é um desastre sem precedentes. Mas o pior pode estar para vir. Afinal, Trump está sempre a demonstrar que pior é sempre possível.

7 de abril de 2017

MAIS NOTÍCIAS DO MANICÓMIO. Nunca dei um centavo por Trump e pela malta que o rodeia. Mas devo confessar que a pantomina em cena excedeu as minhas piores previsões. Para ajudar à barafunda, o luso-descendente Devin Nunes prestou-se ao triste papel de moço de recados para manter vivo um nado morto (a inventona das escutas de Obama a Trump), a seguir quis-nos fazer crer que prestou um grande serviço à pátria, no dia seguinte pediu desculpas aos parceiros da comissão que investiga a intromissão russa nas Presidenciais, finalmente percebeu que perdeu a confiança dos pares e agiu em conformidade. Tudo isto para nos distrair do essencial: a investigação sobre o eventual conluio entre a campanha de Trump e a administração russa, cuja suspeita aumenta de dia para dia. Depois há um general cagarolas disposto a contar o que sabe se lhe salvarem a pele, dezenas de apartamentos vendidos a russos suspeitos de subtrair pipas de massa aos seus conterrâneos, a humilhação do Presidente e respectiva família política por não terem conseguido substituir o Obamacare por um sistema pior, e outras histórias igualmente fedorentas. Somado ao cada vez maior atrevimento da Coreia do Norte e ao pesadelo da Síria, que Trump decidiu bombardear com o mesmíssimo pretexto com que há quatro anos defendeu o contrário (e cujas consequências ninguém, até agora, conseguiu antecipar), eis que estão criadas as condições para o descrédito total de uma democracia em tempos exemplar. Felizmente que o tão odiado «sistema» funciona, pelo que Trump virá a ser, quando muito, uma espécie de Putin dos pequeninos.