29 de agosto de 2014

LIVROS DE VERÃO. Depois de muita pesquisa, descobri, finalmente, um livro de Verão, ou um livro cuja leitura me parece adequada a quem vai de férias no Verão e tenciona ler alguma coisa que não lhe exija demasiado esforço. Chama-se Um ano na Provença, o autor é o inglês Peter Mayle, e desde o início (1990) que foi um sucesso de vendas. Não o recomendo por vender muito, que os sucessos de vendas geralmente são tão maus que não se recomendam. Recomendo-o porque é um livro que se lê com agrado, por ter uma boa dose de humor, por estar bem escrito, por ser infinitamente melhor que grandes coisas que por aí apregoam. Pesquisei no Google e constatei, com surpresa, que não está editado em Portugal. Como é possível?

28 de agosto de 2014

O TUDO EM UM. Depois do Parlamento Europeu, de que disse o pior e onde se mantém a embolsar uma mesada que ainda há pouco considerou escandalosa (parece que 17 mil euros), Marinho Pinto já se assumiu como candidato a deputado nas Legislativas de 2015, a Presidente da República em 2016, e a ministro da Saúde quando calhar. Como já disse e repeti, nunca lhe apreciei a mercadoria que por aí anda a vender, muito menos lhe compraria um carro em segunda mão. Definitivamente que a frontalidade e o desassombro com que diz umas verdades (que não me custa reconhecer-lhe) não bastam para ser melhor que os outros. Por aquilo que já demonstrou, não duvido que o ex-bastonário dos Advogados faria igual ou pior aos que hoje critica caso estivesse no lugar deles.

22 de agosto de 2014

ANDAM POR AÍ A VER COISAS. Li na Lusa que a PSP «identificou» duas mulheres que se faziam passar por videntes, ao que parece um crime de burla. Também parece que as sujeitas abordaram não sei quem na via pública, a quem «leram» as mãos e garantiram ter «problemas de saúde e familiares». Perturbada, a vítima terá cedido ao pedido das falsas videntes, a quem entregaram «bens no valor de cerca de dois mil euros». Acontece que algum tempo depois a vítima encontrou as suspeitas a vender numa feira, e decidiu chamar a polícia. O episódio acabou com as ditas numa esquadra, onde lhes foram apreendidos «três anéis, cinco brincos, uma medalha de um signo, um frasco de perfume, dois carrinhos de linhas, 11 dentes de alho, seis pontas de alecrim seco, uma caixa de palitos e cerca de um metro de papel higiénico». Segundo a PSP, as suspeitas fazem da burla os seus modos de vida, sendo a venda nas feiras um mero disfarce. E foi-lhes imposto o Termo de Identidade e Residência, não fossem elas fugir, sei lá, para as Seychelles. Infelizmente, nem a PSP nem a notícia esclarecem dois pequenos detalhes. Como as sujeitas se faziam passar por videntes e não são, significa que há as verdadeiras, presumo que com licença para exercer a respectiva actividade, e, presumo de novo, sem facturinha? Tudo indica que sim. Assim sendo, como vamos nós distinguir as verdadeiras das falsas na hora em que nos faltar a cabeça e sobrar o dinheiro?
O POVO DA TELEVISÃO. Obrigatório o texto de António Guerreiro no Público de hoje. Só um cheirinho: «Desapareceu o espírito popular, mas os vários canais portugueses de televisão insistem, quase sem excepção, em construir um povo que não existe, mas cujo simulacro — pensam eles, os “produtores de conteúdos” televisivos — é telegénico que se farta e tem aquela qualidade tão apreciada pelos construtores de mentiras: o “efeito de real”. Trata-se daqueles programas, reportagens e concursos frequentados por pessoas que são submetidas à deformação pelos próprios apresentadores, repórteres e entertainers para satisfazer os ditames televisivos do expressionismo grotesco.»

20 de agosto de 2014

DESABAFO. Sei que isto não interessa a ninguém, mas já ouvi dezenas de vezes o segundo movimento (Adagio un poco mosso) do que popularmente ficou conhecido por Concerto do Imperador, de Beethoven. Por vezes ouço-o duas e três vezes seguidas, e só não ouço ainda mais porque receio «gastá-lo». A versão que aqui sugiro (da London Symphony Orchestra, dirigida por Colin Davies e com Claudio Arrau no piano) não é, musicalmente, a melhor que conheço. Mas considerando a qualidade do áudio e do vídeo, deve ser do melhor que há.

19 de agosto de 2014

PROCESSAR OS CONTRIBUINTES? (1). Compreende-se que os investidores que não conseguiram escapar à queda do BES (e derivados) queiram, agora, recuperar algum. Também não me custa a crer que o Governo e os organismos que tutela não agiram como deviam, induzindo os investidores a decidir erradamente. Mas que os investidores se achem no direito de fazer com que os contribuintes paguem as aventuras em que se meteram (processar o Estado significa, caso sejam bem sucedidos, embolsar dinheiro dos contribuintes), sabendo de antemão o risco que corriam, é inadmissível. O precedente, a abrir-se, levar-nos-ia para cenários surrealistas. Por exemplo, se o Governo garante que amanhã faz sol e choveu a potes, há sempre um ingénuo que se fiou no Governo e apanhou uma molha por não ter guarda-chuva — logo tem o direito de processar o Governo e embolsar a respectiva indemnização. Se o Presidente da República jurar que os melões de Almeirim vão, este ano, ser os melhores de sempre, e os ditos não cumprem a profecia, qualquer apreciador de melões terá o direito de se sentir enganado e processar o Presidente. Os exemplos podiam continuar, mas julgo que estes bastam para demonstrar o absurdo da ideia. Depois, há a realidade que convém não esquecer. Se os governantes nem sequer se demitem (ou são demitidos) quando cometem aldrabices, como poderiam ser penalizados (ou o país por eles) por erros de avaliação? Por mais tentador que tudo isto possa ser, por mais justo que tudo isto possa parecer, o reverso da medalha é demasiado mau para que se vá por aí. Os erros políticos devem ser pagos nas urnas, e só nas urnas. Não é a solução perfeita, mas é a menos má.

13 de agosto de 2014

A SILLY SEASON JÁ NÃO É O QUE ERA. São tantas as trapalhadas (para não lhe chamar outra coisa) que diariamente se anunciam que praticamente se deixou de falar de Ricardo Salgado, o ex-dono disto tudo que será o principal responsável pela novela em cena. Digo «será» porque são tantas as notícias que a gente chega a um ponto que perde o fio à meada. Ele são heróis que passam a vilões num abrir e fechar d’olhos, contribuintes que não iam desembolsar nem um centavo mas agora já vão, polícias que emprestam dinheiro a ladrões, investidores que põem o deles ao fresco minutos antes da hecatombe por obra e graça de um espírito santo de orelha no local certo à hora certa, e hoje mesmo ficou-se a saber que os investidores que ficaram a arder ameaçam extorquir não sei quanto ao Estado (leia-se contribuintes), alegando que o Estado não fez o que devia — ou fez mal o que devia. Talvez amanhã tudo isto seja doutra maneira, que a silly season está cada vez mais imprevisível.
AINDA OS ERROS ORTOGRÁFICOS. Sinceramente, não me parece normal tanto erro ortográfico (um em cada três professores examinados deu três ou mais erros, 15% cometeram cinco ou mais) e de pontuação (40% erraram três ou mais vezes) numa prova destinada a avaliar docentes contratados pelo Estado. Mesmo considerando que outras classes profissionais também os dão, como um professor se apressou a lembrar — e a exemplificar (com razão) — com os jornalistas, assim julgando desvalorizar uma questão que não pode — nem deve — ser desvalorizada. Mas se a justificação não convence, já me parece extraordinário que a presidente de uma Escola Superior de Educação venha dizer que os erros detectados na tal prova são normais, uma vez que os professores estavam «em situação de tensão» quando fizeram os exames, e segundo ela é normal que se erre quando se está sob tensão. Como é evidente, a explicação não explica coisíssima nenhuma, muito menos vinda de quem vem. Desde quando alguém que tem de prestar provas não está sob tensão? E quem, já agora, melhor que os professores, que periodicamente examinam os seus alunos, saberá que assim é? Eis um exemplo acabado de que os professores do ensino público, contratados ou efectivos, se julgam intocáveis. Definitivamente que não há, para eles, professores incompetentes, como acontece em todos os sectores de actividade. Só isto chega para duvidar das restantes razões que juram ter.

8 de agosto de 2014

ORA AQUI ESTÁ UM POLÍTICO DIFERENTE... PARA PIOR. Conforme avisou no próprio dia em que foi eleito deputado ao Parlamento Europeu (tencionava candidatar-se às Legislativas de 2015 e/ou às Presidenciais de 2016), Marinho Pinto avisou hoje mesmo que abandonará o cargo daqui a um ano, porque considera que «os problemas nacionais são mais graves do que os europeus». «O elemento agregador da Europa não está nos ideais, nem nas políticas, mas no dinheiro», afirma o ex-bastonário dos Advogados. Como não acredita «numa organização toda construída em torno desse dinheiro», Marinho Pinto promete mudar de vida daqui a um ano. E porquê só daqui a um ano quando podia fazê-lo hoje mesmo? Infelizmente, não explicou por que vai permanecer tanto tempo num órgão que apenas se move pelo dinheiro, em que diz não acreditar. E como não explicou, a decisão presta-se às mais variadas leituras. Por exemplo, talvez lhe convenha a mesada (à volta de 17.000 euros), que em tempos considerou um exagero. Para um cavalheiro que se apresentou a sufrágio tendo como lema combater os interesses instalados e os poderosos sem escrúpulos, naturalmente considerando-se como o oposto disso tudo, a bota não bate com a perdigota. Como há muito se percebeu, Marinho Pinto chegou há dois dias à política, e logo se tornou um ilustre representante do pior que há nela. Bem pode, por mim, candidatar-se ao que lhe convier que não lhe darei uma segunda oportunidade. Aliás, por razões que dei conta no momento apropriado, nunca lhe daria, sequer, a primeira.

6 de agosto de 2014

COISAS NOJENTAS. Desde quando é normal (e permitido) exibir, nos media, fotografias de vítimas menores, no caso uma criança de dois anos? No Correio da Manhã, provavelmente desde sempre. Voltou a hoje a fazê-lo com a notícia de que um tribunal decidiu entregar o pequeno Daniel à guarda do pai, após um episódio grotesco protagonizado pela própria mãe. Pelo menos na edição online, que à outra não tenho acesso.

5 de agosto de 2014

MAIS UNS TROCOS PARA O PEDITÓRIO DOS PROFESSORES. Resido e trabalho num país onde a formação académica e o currículo não bastam para que a entidade patronal, pública ou privada, dispense de examinar, se assim o entender e pelos métodos que julgue adequados, quem pretende contratar. As provas suplementares (chamo-lhe assim para simplificar) destinam-se a escolher o candidato com o perfil que julguem adequado, e parece-me um procedimento normal. Talvez mais do que normal: como nunca vi quem questionasse estes métodos, que certamente terão os seus defeitos, é um não assunto. Como é sabido, sempre que em Portugal um organismo público impõe — ou pretende impor — estas regras, cai logo o Carmo e a Trindade. Porque os candidatos já estão certificados pelas universidades, argumenta-se, daí que mais ninguém deve fazer avaliações suplementares caso os pretenda contratar. Como já perceberam, falo, essencialmente, dos professores do ensino público, que volta e meia invocam este argumento para se esquivarem às avaliações — e no caso de lhes faltar argumentos para se esquivarem às avaliações põem os métodos em causa, alegando erros de toda a espécie. Admitem, quando muito, que as entidades patronais façam avaliações desde que sejam eles, professores, a ditar as regras. O Ministério da Educação pretende, com as avaliações, escolher os melhores e dispensar os restantes? Sabendo-se que há professores a mais no ensino público, parece-me um método justíssimo. A minha única discordância é não assumi-lo com frontalidade, mesmo que os custos políticos lhe saiam caríssimos.

1 de agosto de 2014

A GUERRA CONTINUA A DIZIMAR O JORNALISMO. Nunca tive uma opinião definitiva sobre o conflito israelo-palestiniano (chego a pensar que sou o único), e como toda a gente, lamento a carnificina em curso. Mas também lamento o «jornalismo de causas», que só vê o que lhe convém e esconde o que não lhe convém, deixando quem não percebe bem o que se passa ainda a perceber menos. Relatam que há centenas de vítimas inocentes, geralmente mulheres e crianças, e não há como duvidar. E combatentes do Hamas (ou doutras forças que se opõem a Israel)? Não terá morrido ninguém? Segundo o dito «jornalismo», nem um. Estranha pontaria a do exército israelita.