31 de janeiro de 2011

COMENTÁRIOS. Raramente leio os comentários que se publicam nos sítios dos jornais, mas tenho vindo a notar que alguns são, de facto, úteis. Uns porque fazem acrescentos preciosos, outros pelos reparos oportunos. Mas se alguns comentários são uma mais-valia, se beneficiam os jornais e os leitores, outros há que apenas servem uns quantos energúmenos. Falo dos insultos, das calúnias, de comportamentos impróprios de gente civilizada — e todos cobardemente publicados a coberto do anonimato, na maior das impunidades. Infelizmente, são estes os comentários que mais se vêem nos sítios dos jornais, e provavelmente são os mais lidos.

28 de janeiro de 2011

CASA PIA, DE NOVO. Carlos Silvino resolveu contar à Focus uma história diferente da que contou ao tribunal que o julgou — e condenou — a 18 anos de prisão. Não sei se dantes mentiu e agora diz a verdade, ou o inverso. Estranho é que o bastonário dos advogados o tenha recebido, e que a entrevista agora publicada tenha sido feita pelo mesmo jornalista que, em tempos, publicou Carlos Cruz - As Grades do Sofrimento, um livro cujo título dispensa explicações.
DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS. Não me consta que o João Gonçalves se sinta incomodado com o facto de Alberto João Jardim estar à beira de se tornar uma «estaca em busca da mumificação em vida», como ele caracteriza a recandidatura de Madaíl à federação da bola.
LEITURA RECOMENDADA. Cavaco Silva e Barack Obama: agora escolha, por João Miguel Tavares

26 de janeiro de 2011

ASSUNTO ENCERRADO? Também eu gostava de saber quem esteve por detrás da «campanha de calúnias» contra Cavaco, que o PR dá a ideia de saber e desafia os jornalistas a descobrir, embora me pareça mais importante saber se são verdadeiras as acusações que lhe fazem que a origem delas. Gostava de saber, por exemplo, se são verdadeiros os factos revelados pelo Público e pela Visão. Como passaram alguns dias e ainda não vi desmentidos, como ainda não vi pedidos de desculpa por parte do Público e da Visão por eventuais erros cometidos, presumo que são verdadeiros. Gostava, por último, de saber a que se deve o silêncio que caiu sobre o caso, que parece ter deixado de ser pertinente após as Presidenciais. Valerá a pena dizer que num país a sério haveria razão para se demitir caso o esquema se revele verdadeiro?
VEJAM, OUÇAM, ESPALHEM.



Partes II e III.

24 de janeiro de 2011

JORNADA DE REFLEXÃO. Aproveitei o dia de reflexão para uma investida nos alfarrabistas do costume, de que resultaram The Common Reader, de Virginia Woolf, In the South Seas, de Robert Louis Stevenson, La Familia de Pascoal Duarte, de Camilo José Cela, Doña Perfecta, de Pérez Galdós, River of No Return, de John Carrey e Cort Conley, e The Fever Coast Log, de Gordon Chaplin. Tudo isto pelo preço de um livro, talvez nem isso. No dia seguinte descobri uma pérola (Nu e Cru, de Paulo Francis), que comecei a ler a todo o vapor. Pelo meio fiquei a saber o desfecho das Presidenciais, e que Cavaco fez um discurso de «mau vencedor». Haveria necessidade de falar dos adversários da forma como falou? Seria preciso instigar os jornalistas a investigar quem, na sua opinião, patrocinou uma campanha de calúnias contra a sua pessoa? Precisaria Cavaco daquela postura de vingança? Se na derrota se deve ser grande, na vitória espera-se o quê?

21 de janeiro de 2011

QUE BEM PREGA FREI TOMÁS. Sobre este texto, duas coisas. Manuela Moura Guedes não tem autoridade moral para dar lições de jornalismo a ninguém, muito menos aos jornalistas. Depois do Jornal de Sexta, onde se fartou de fazer tábua rasa das mais elementares regras do jornalismo, Manuela só pode causar um sorriso (no melhor dos cenários) quando decide pregar o jornalismo e suas virtudes. Depois, por que será que os jornalistas não fazem, na opinião dela, o que deles se espera? Não serão os patrões da comunicação social, incluindo os que lhe pagam o salário, os primeiros responsáveis pelas deficiências que ela aponta? Isto é que eu gostaria de ver Manuela falar quando se insurge contra as más práticas jornalísticas. Porque este é o principal problema, como Manuela muito bem sabe, e porque bater nos mais fracos não custa nada.
NÃO VOU VOTAR, OBRIGADO. Por razões que expliquei ainda antes da campanha, e que se reforçaram durante a campanha, não votarei no próximo domingo. A abstenção beneficia uns e penaliza outros? Não estou seguro que assim seja, mas se for tanto se me dá. Que o acto eleitoral decorra na paz do senhor — e que ganhe o menos mau.

20 de janeiro de 2011

DO SENSO COMUM. Tirando as previsíveis reacções do PC e do Bloco, que condenaram a actuação da PSP nos incidentes junto à residência do primeiro-ministro alegando um comportamento inaceitável e desproporcionado por parte daquela polícia (e Manuel Alegre, que condenou apesar de admitir desconhecer o que se tinha passado), fizeram bem as restantes forças políticas não tomar posição sobre a prisão dos dois sindicalistas. Afinal, o que se passou realmente na manifestação em São Bento que terá dado origem a um comportamento alegadamente excessivo das autoridades policiais? Será preciso lembrar que não se devem fazer juízos de valor sobre factos que se desconhecem? Não estou a defender — ou atacar — o comportamento de ninguém. Estou a dizer que ninguém pode ser automática e antecipadamente culpado antes de se apurarem responsabilidades.
QUEIROZ NO SEU MELHOR. Culpado pelos maus resultados frente a Chipre e Noruega? De maneira nenhuma. «A responsabilidade foi de Agostinho Oliveira», voltou Queiroz a dizer, depois de já ter dito que os maus resultados não teriam ocorrido caso ele, Queiroz, estivesse ao leme, e apesar do então braço-direito Agostinho ter admitido que a convocatória dos jogadores e a estratégia a utilizar nesses encontros foram consertadas com Queiroz. Quando seria de esperar que o ex-seleccionador dividisse as responsabilidades do fracasso com o adjunto, eis que Queiroz se demarcou rapidamente, e só lhe faltou dizer que não conhecia Agostinho de lado nenhum. É precisamente nestas alturas que se vê a estatura das pessoas, embora no caso dele nem era preciso.

18 de janeiro de 2011

O ESTADO A QUE ISTO CHEGOU. «Não tenho informação mas critico na mesma, como é óbvio», respondeu Manuel Alegre aos jornalistas que lhe perguntaram o que ele pensava disto. Cavaco também tem estado no seu melhor. Interrogado por uma anciã que reclamava «um bocadinho de reforma», Cavaco contrapôs-lhe a história da sua própria mulher, que também terá direito a não sei que reforma por trabalhar não sei onde mas não lha dão não disse porquê. E depois querem que as pessoas votem, a pretexto de que não votando acontece não sei quê. E se fossem pentear macacos?

17 de janeiro de 2011

O CIRCO. Fonte fidedigna descreveu-me as cerimónias fúnebres de Carlos Castro em Newark e Nova Iorque com duas singelas palavras: um circo. (Aliás, a reportagem do Público dá bem conta disso.) Temos, portanto, que tudo ocorreu conforme tem ocorrido até agora, com a normalidade que seria de esperar: as televisões estavam lá, os fotógrafos estavam lá, a imprensa cor-de-rosa (e a outra) estavam lá — e não há notícia de que alguém se tenha magoado. Quem viveu do circo e para o circo seguramente que não se escandalizaria ver a sua própria morte transformada num circo.
CORRENTES & ALGEMAS. Cada um é senhor de pensar o que muito bem entende, e longe de mim fazer julgamentos morais de quem quer que seja. Mas tudo indica que Renato Seabra matou Carlos Castro, de forma particularmente violenta, e não me consta que o alegado homicida sofria de qualquer distúrbio mental antes do crime. Assim sendo, como explicar a «corrente» e a simpatia que alguns lhe dispensam? A meu ver, de forma simples e óbvia: Castro era gay, pelo que o seu assassinato passou a ter uma circunstância atenuante. Cada vez tenho menos paciência para o espalhafato dos gays, mas é evidente que são cenas destas que lhes alimentam os exageros, e lhes dão as razões que geralmente não têm.

14 de janeiro de 2011

DA NATUREZA HUMANA. Os saques e «arrastões» que se seguiram às cheias no Brasil fizeram-me lembrar Nelson Rodrigues em O Óbvio Ululante: «Façam a seguinte experiência: — ponham um santo na primeira esquina. Trepado num caixote, ele fala ao povo. Mas não convencerá ninguém, e repito: — ninguém o seguirá. Invertam a experiência e coloquem na mesma esquina, e em cima do mesmo caixote, um pulha indubitável. Instantaneamente, outros pulhas, legiões de pulhas, sairão atrás do chefe abjeto.»
SOBRE A ABSTENÇÃO. «(…) a abstenção não é ilegítima. É um acto de recusa total do regime que um cidadão está no direito de não legitimar pelo seu voto (mesmo com um voto em branco). E confessemos que um regime que propõe, como alternativa para a Presidência da República, Alegre ou Cavaco merece amplamente uma recusa total.» Vasco Pulido Valente, Público de hoje
É A VIDA. «En noviembre de 2007 tuve la suerte de asistir como escritor invitado a la clase de escritura creativa de Anthony MacCann, en el CalArts de Los Ángeles. Anthony me contó que los mejores de cada promoción son fichados por las grandes productoras para trabajar como guionistas de series de televisión. Se hacen ricos. Los "peores", por el contrario, se dedican a la poesía.» (Texto completo aqui.)

13 de janeiro de 2011

CAVACO vs CAVACO. Haverá pior para os mercados internacionais que admitir a existência de uma crise política? Segundo Cavaco, não há problema. O mesmo Cavaco que ainda há pouco se fartava de dizer que Portugal precisava de passar para o exterior uma imagem de estabilidade, de credibilidade, de confiança. E depois ainda tem o desplante de dizer que os outros precisam de nascer duas vezes para serem mais honestos do que ele.

11 de janeiro de 2011

EFEITOS COLATERAIS. Passou praticamente despercebida a notícia de que um tal Registo de Saúde Electrónico se prepara para disponibilizar, aos profissionais de saúde, os dados médicos dos cidadãos, e acho que não devia. É útil os dados médicos estarem imediatamente disponíveis a qualquer clínico em qualquer lugar? Sem dúvida que é. O problema é que não há bela sem senão. E o senão, neste caso, é enorme, e não basta aos responsáveis do projecto garantirem a confidencialidade e a segurança dos dados. Será preciso ser muito criativo para imaginar que os dados podem acabar onde não devem? Que podem ser utilizados para nos prejudicar em vez de nos ajudar? Que nos pode ser negado um emprego porque alguém descobriu que temos a doença errada?
JUSTIÇA. Alguém imagina isto possível em Portugal? Como dei conta há um mês, em Portugal ninguém quer saber destas coisas, e nem os factos à vista de todos fazem com que as autoridades façam o que delas se espera.
LEITURAS SABOROSAS. Fuja das estrelas e Pecador me confesso, ambas no Tempo Contado.

7 de janeiro de 2011

POIS É. «Quem se envolveu - porque ele de perto ou de longe se envolveu - na trapalhada do BPN não é aparentemente a criatura indicada para superintender, com o seu conselho e a sua prudência, a economia de Portugal inteiro. (...) O dr. Cavaco pede confiança aos portugueses; e faz muito bem. Mas, com o caso do BPN perdeu ele próprio a confiança dos portugueses.» Vasco Pulido Valente, Público de 7 de Janeiro de 2011
BPN. O BPN perdeu 200 milhões em depósitos nas duas últimas semanas por ter estado no centro da campanha presidencial? Nada que não fosse previsível. Espantoso é o banco ainda ter clientes antes de rebentar a última polémica.

6 de janeiro de 2011

SINDICATOS. Cada vez estou mais convencido de que os sindicatos e as centrais sindicais defendem, cada vez menos, os interesses dos trabalhadores, mesmo que uns e outros estejam genuinamente convencidos do contrário. Os sindicatos passam a vida a demonstrar que vivem no século passado, que pararam no tempo, e a realidade dos trabalhadores que representam é o século XXI. Pior: os seus dirigentes não se percebem. Percebe-se que são contra isto, contra aquilo, mas nunca se percebem os motivos. Quando se esperariam argumentos concretos, expostos de modo que todos percebam, os sindicatos enrodilham-se em explicações abstractas que às vezes nem como abstracções fazem sentido. Tirando os sindicatos afectos ao PC, cujos interesses do partido sempre puseram à frente dos interesses dos trabalhadores, parece-me que os sindicatos estão mais preocupados em assegurar a sua própria sobrevivência que em defender os interesses de quem se espera que defendam — além de que os sindicatos são, também eles, responsáveis pela situação que o país atravessa, e dos principais responsáveis.

5 de janeiro de 2011

CAVACO E BPN. Interessa-me pouco saber quais são as reais intenções dos candidatos presidenciais e se as dúvidas que eles terão são mais estratégicas que reais quando exigem ao candidato Cavaco que explique o negócio com o BPN, mas parece-me evidente que se impõe uma explicação que ponha cobro à suspeição que cresce de dia para dia. Dizer que não responde a «campanhas sujas e desonestas», que já respondeu à pergunta e que está tudo explicado no site da sua candidatura, é pouco, e cada dia se torna mais evidente. O que tem Cavaco a esconder sobre o assunto? Se não tem, se tudo é claro e transparente, se está convencido de que os outros precisam de nascer duas vezes para serem mais honestos do que ele, por que não explica o caso de modo a não restarem dúvidas? Custa-me a crer que Cavaco se tenha envolvido em actividades pouco recomendáveis, e digo isto sem ironia. Mas a forma como está a gerir o caso BPN começa a criar-me algumas dúvidas. Como não bastasse, anuncia-se que o presidente do BPN adiou a visita ao Parlamento. Como não ver nisto um adiamento oportuno?

3 de janeiro de 2011

E-BOOKS, OUTRA VEZ. Acabo de descarregar da internet algumas dezenas de livros, a grande maioria de autores portugueses e brasileiros, alguns há muito procurados mas nunca encontrados, e que dificilmente leria caso esperasse encontrá-los numa livraria. Como tenho dito e repetido, as maquinetas de leitura electrónica, os e-books, servem-me, essencialmente, para isto, e só posso estar agradecido por existirem. Cada vez entendo menos, por isso, os que abominam o digital, como se uma coisa fosse inimiga da outra.