31 de outubro de 2008

PRECONCEITOS. Como se viu noutras ocasiões, Miguel Sousa Tavares é só preconceitos. Depois dos americanos, que ele tem como uma cambada de simplórios, a vez dos transmontanos, que ele trata como pacóvios. Disse ele, no Expresso, que Santana Lopes «não serve para ser levado a sério e governar nem que seja uma paróquia de Trás-os-Montes». Como vêem, os transmontanos não passam, para ele, de um bando de atrasados mentais. Acontece que isto me chateia. Chateia-me, para começar, porque sou americano; depois, porque sou transmontano — mas a ordem dos factores é arbitrária. Chateia-me, por último, a ignorância do cavalheiro, pois os preconceitos assentam, essencialmente, na ignorância, e julgo não ser demasiado esperar menos ignorância própria a quem passa a vida a assinalar a ignorância alheia.

30 de outubro de 2008

CAMPANHA ELEITORAL. Como julgo ter sucedido à maioria dos americanos, fartei-me da campanha eleitoral. Deixei, aliás, de acompanhar os últimos desenvolvimentos, de que só vejo os títulos nos jornais e apenas tenciono pôr-me ao corrente caso me cheirem a «notícias gordas». A partir do momento em que decidi em quem vou votar, decisão que só mudarei em caso de força maior, desliguei-me do assunto. Não vi, por exemplo, o tão falado anúncio de 30 minutos que ontem passou nas TVs, nem tenho curiosidade de ver. Mas já gostaria de ver o vídeo que o LA Times diz possuir, onde se diz que Obama não faz boa figura, e que o jornal, estranhamente, recusa divulgar. Digo isto porque as explicações do LA Times, apoiante declarado de Obama, estão longe de convencer, mesmo um votante de Obama, como é o meu caso.
LER FAZ BEM À SAÚDE (30). Gosto pelos animaizinhos, por Vasco Lobo Xavier. Pede-se uma explicitação, por João Miranda.

29 de outubro de 2008

28 de outubro de 2008

O MAL MENOR. Ainda falta uma semana e tudo pode acontecer, mas arrisco dizer que votarei Obama nas Presidenciais da próxima terça. (Ler o restante aqui.)

27 de outubro de 2008

DISPARATES. Para o Daniel Oliveira, há, nas eleições americanas, dois tipos de indecisos: «os marcianos, e as primas-donas» (crónica do Expresso). Os primeiros, diz ele, são os ignorantes; os segundos são os que pretendem «manter o estatuto e a atenção». Embora não percebesse bem esta última razão, uma coisa é clara: Daniel Oliveira está cheio de certezas absolutas. Deve ser por isso, aliás, que diz tantos disparates.
PENSAMENTO DO DIA. «As cópias de autos de penhoras efectuadas pela Direcção-Geral dos Impostos (DGCI) a vários clubes de futebol, entre os quais o Sporting Clube de Portugal (SCP) e o Sport Lisboa e Benfica (SLB), desapareceram de um envelope selado que se encontrava na gaveta de uma funcionária da administração fiscal e foram substituídas por folhas para reutilizar na impressora.» Público de 27.10.2008

24 de outubro de 2008

DICKENS. Pictures from Italy, de Charles Dickens, é um livrinho (cento e tal páginas) que descobri há pouco, e que me está a dar gozo ler. Eis uma passagem que vale a pena ler:

I was awakened after some time (as I thought) by the stopping of the coach. It was now quite night, and we were at the waterside. There lay here, a black boat, with a little house or cabin in it of the same mournful colour. When I had taken my seat in this, the boat was paddled, by two men, towards a great light, lying in the distance on the sea.

Ever and again, there was a dismal sigh of wind. It ruffled the water, and rocked the boat, and sent the dark clouds flying before the stars. I could not but think how strange it was, to be floating away at that hour: leaving the land behind, and going on, towards this light upon the sea. It soon began to burn brighter; and from being one light became a cluster of tapers, twinkling and shining out of the water, as the boat approached towards them by a dreamy kind of track, marked out upon the sea by posts and piles.


We had floated on, five miles or so, over the dark water, when I heard it rippling in my dream, against some obstruction near at hand. Looking out attentively, I saw, through the gloom, a something black and massive - like a shore, but lying close and flat upon the water, like a raft - which we were gliding past. The chief of the two rowers said it was a burial-place.


Full of the interest and wonder which a cemetery lying out there, in the lonely sea, inspired, I turned to gaze upon it as it should recede in our path, when it was quickly shut out from my view. Before I knew by what, or how, I found that we were gliding up a street - a phantom street; the houses rising on both sides, from the water, and the black boat gliding on beneath their windows. Lights were shining from some of these casements, plumbing the depth of the black stream with their reflected rays, but all was profoundly silent.


So we advanced into this ghostly city, continuing to hold our course through narrow streets and lanes, all filled and flowing with water. Some of the corners where our way branched off, were so acute and narrow, that it seemed impossible for the long slender boat to turn them; but the rowers, with a low melodious cry of warning, sent it skimming on without a pause. Sometimes, the rowers of another black boat like our own, echoed the cry, and slackening their speed (as I thought we did ours) would come flitting past us like a dark shadow. Other boats, of the same sombre hue, were lying moored, I thought, to painted pillars, near to dark mysterious doors that opened straight upon the water. Some of these were empty; in some, the rowers lay asleep; towards one, I saw some figures coming down a gloomy archway from the interior of a palace: gaily dressed, and attended by torch-bearers. t was but a glimpse I had of them; for a bridge, so low and close upon the boat that it seemed ready to fall down and crush us: one of the many bridges that perplexed the Dream: blotted them out, instantly. On we went, floating towards the heart of this strange place - with water all about us where never water was elsewhere - clusters of houses, churches, heaps of stately buildings growing out of it - and, everywhere, the same extraordinary silence. Presently, we shot across a broad and open stream; and passing, as I thought, before a spacious paved quay, where the bright lamps with which it was illuminated showed long rows of arches and pillars, of ponderous construction and great strength, but as light to the eye as garlands of hoarfrost or gossamer - and where, for the first time, I saw people walking - arrived at a flight of steps leading from the water to a large mansion, where, having passed through corridors and galleries innumerable, I lay down to rest; listening to the black boats stealing up and down below the window on the rippling water, till I fell asleep.


O livro pode ser descarregado, gratuitamente, aqui.

22 de outubro de 2008

MACHADO E AS GRALHAS. Protestei, em tempos, contra a digitalização das obras de Eça e Camilo (Projecto Vercial), por considerar que o excesso de gralhas que elas continham (desconheço se já foram corrigidas) não abonavam os seus autores, e por achar que me venderam gato por lebre. Constato, agora, mais ou menos o mesmo em algumas obras de Machado de Assis disponíveis na internet, que as gralhas por vezes tornam ilegíveis partes inteiras (pelo menos nas crónicas reunidas no volume A Semana, que estou a ler). É sabido que uma boa ideia (sem dúvida que colocar a obra de Machado de Assis na internet é uma boa ideia) não basta para se fazer bem feito. E não fazer bem feito, por vezes, é pior que não fazer, como penso ser o caso. É que o texto, como está, não serve o autor, não serve o leitor, não serve nada ou ninguém.

20 de outubro de 2008

SONDAGENS. Pareceu-me, no último debate presidencial, que McCain esteve melhor que Obama, e julgo ter visto o debate de forma desapaixonada. Não foi isso, uma vez mais, o que disseram as sondagens, que atribuíram a vitória a Obama. Posso estar enganado, mas desconfio que as sondagens não reflectem o que realmente se passa. A ver vamos o que vai suceder a 4 de Novembro, mas não me surpreenderia que se revelassem desastrosas.
MANUELA, OUTRA VEZ. Manuela Ferreira Leite recusou fazer uma «leitura nacional» dos resultados do PSD nas eleições dos Açores. E recusou porquê? Porque os resultados foram maus para o partido que dirige. Se tivessem sido bons, alguém duvida que a líder social-democrata teria uma postura diferente? Tenho para mim que é nestas ocasiões que se vê quem são os políticos sérios e os outros. Sendo Manuela apresentada como uma política séria, avessa a questões de pequena política, vou ali e já venho.
MANUELA. Como todos os que seguem as coisas da política com algum interesse, estou curioso de saber no que vai dar a candidatura do PSD à Câmara de Lisboa. A ser verdade que Manuela Ferreira Leite mantém o apoio a Santana Lopes (voltar atrás nesta altura seria pior), adivinham-se tempos difíceis para a sua liderança. Com Marcelo Rebelo de Sousa e Pacheco Pereira na oposição, nem que seja, apenas, na questão de Lisboa, tudo se conjuga para que Manuela não chegue, como líder, às próximas Legislativas. Não é um palpite: é uma evidência que os factos demonstram.

16 de outubro de 2008

DESASTRE EMINENTE. Cinco pontos perdidos em três jogos deixaram a selecção portuguesa dependente dos outros e os portugueses a fazer contas de cabeça. Claro que, como Queiroz, também eu acredito que Portugal vai estar na África do Sul em 2010. Só não sei é se vai estar no relvado, ou na bancada. Aliás, tenho outra dúvida. O que queria o seleccionador realmente dizer quando disse que a Albânia é «uma das equipas favoritas a pôr alguém fora do Mundial»? Pelo menos o devoto da sra. do Caravaggio não se percebia nas conferências de imprensa, mas explicava-se no campo. Sim, tenho saudades daquele senhor de mau feitio que se dava ao luxo de não convocar indispensáveis, e ganhar. Do teimoso que insistia em pôr a jogar quem não acertava uma, mas que se foi embora com um palmarés à frente da selecção que mais ninguém alcançou. Agora é tudo muito certinho, muito profissional, muito moderno — mas resultados, não há. Nem resultados, nem exibições. Só mais uma coisa. Lembram-se das alfinetadas de Queiroz a Scolari quanto o brasileiro era o seleccionador nacional? E lembram-se porquê? Eu lembro-me porquê. Porque Queiroz era candidato ao lugar de Scolari, e todas as ocasiões serviam para se pôr em bicos de pés e tentar desestabilizar. Infelizmente não há grandes razões para sorrir com a ironia do destino, pois as derrotas de Queiroz à frente da selecção são, também, as nossas derrotas.
ERC. Acho muito bem que os órgãos de comunicação social tutelados pelo Estado sejam alvo de fiscalização permanente. Fiscalização por parte dos órgãos criados para esse fim, fiscalização das forças partidárias, fiscalização dos cidadãos. Mas se não tenho dúvidas no que a isto respeita, perdi a paciência para as polémicas da ERC (ou por causa da ERC), de que desisto de entender logo aos primeiros parágrafos. O facto de o Estado tutelar órgãos de comunicação social, circunstância sobre a qual me inclino a discordar mas não tenho opinião definitiva, presta-se a toda a espécie de críticas, evidentemente que nem todas sérias ou fundamentadas, como o passado demonstrou, o presente confirma, e o futuro dirá. Assim sendo, dar razão a quem? Por mais esforço que faça, adivinha-se difícil a um cidadão medianamente informado perceber os argumentos de uns e as razões de outros, ainda por cima no meio da gritaria, mesmo que o cidadão faça um esforço para se inteirar dos factos. As coisas chegaram a um ponto em que quanto mais prosas nos jornais, menos se percebe. E quanto menos se percebe, menos razão se dá a quem acusa, menos razão se dá a quem é acusado, e menos importância se dá ao assunto. Não me parecendo ser essa a ideia, pelo menos na maioria dos casos, seria bom que os protagonistas destas polémicas repensassem os métodos, e revissem os argumentos.

15 de outubro de 2008

O MELHOR DEBATE. Direi, oportunamente, em quem vou votar nas presidenciais de Novembro, mas desde já adianto que o debate a que acabo de assistir (claramente o melhor dos três realizados) em nada contribuiu para a decisão que tomei. Nem este debate, nem os debates anteriores. Duvido, aliás, que os confrontos presidenciais convencessem um só eleitor indeciso, como parece ser a ideia. Apesar de o modelo de hoje ser o mais eficaz, muita coisa há a mudar se a ideia é convencer os indecisos.
QUEIROZ. Luís Figo dizia, antes do jogo com a Albânia, que ainda é cedo para crucificar Carlos Queiroz. É capaz de ter razão, mesmo depois do jogo com a Albânia. Mas imaginem, agora, que o seleccionador era aquele senhor brasileiro de mau feitio. Seria preciso perder tantos pontos (e jogar tão mal) para se porem aos gritos?

13 de outubro de 2008

UM DESASTRE. Apesar dos espirros aqui e ali, está visto que a «estratégia do silêncio» de Manuela Ferreira Leite foi, e continua a ser, um desastre. Está o mundo de pernas para o ar, e a líder do PSD não diz palavra? Onde é que já se viu isto? De facto, não são precisos Menezes, Santanas ou Coelhos para lembrar o óbvio, pois já só não vê quem não quer. Como já disse, é cada vez mais evidente que Manuela Ferreira Leite não tem vocação (feitio, paciência) para liderar o partido, a cuja presidência chegou mais por insistência alheia que por vontade própria. Já nem os seus mais próximos conseguem disfarçar o embaraço
O MERCADO. Ciclicamente, o sr. Vilarigues usa o Público para acusar os media de «silêncio absoluto» acerca do que julga merecer mais atenção. No caso, 800 (oitocentas) reuniões que os comunistas terão efectuado desde Março até agora, de que terão resultado 700 (setecentas) teses. De facto, partindo do princípio que o sr. Vilarigues não está a mentir, e dando de barato que os comunistas são os que mais trabalham em prol do que defendem, é obra. O que, desde logo, me leva a concluir: por que é que o PC não triplica as páginas (ou a periodicidade) do Avante!, de modo a garantir a publicação de tão abundante matéria? Sim, porque não publicar tão abundante matéria parece-me um duplo desperdício. Um desperdício porque o país não se pode dar ao luxo de ignorar 700 teses (repito: 700 teses), um desperdício porque o Avante! podia facturar muitíssimo mais com as vendas daí resultantes. Para um partido que atravessa uma enorme crise financeira, ao que dizem a ponto de admitir o despedimento de funcionários como forma de garantir a sobrevivência, parece-me uma ideia a considerar. Bem sei que isso seria uma rendição às leis do mercado, mas a crise financeira do PC também já resulta das leis do mercado. O que não deixa, aliás, de ser curioso, pois o mercado sempre foi, para o PC, uma heresia, e nunca as leis do mercado viveram tempos tão difíceis.

10 de outubro de 2008

BLOGUES ANÓNIMOS. De facto, o blogueiro anónimo também é juiz, como lembrou Rui Rangel. Não que já não se soubesse, mas é bom que seja um juiz a dizê-lo. É que quando se fala de blogues anónimos, geralmente mal, atribui-se a sua autoria a bandidos e outros patifes. Não que os não haja, evidentemente. Mas é preciso que também se diga que os blogues anónimos, pelo menos os blogues anónimos que têm importância, são feitos por elites, gente bem informada e que sabe escrever. Também é preciso que se diga que os blogues anónimos não são maus por serem anónimos, embora os haja maus em quantidades que ninguém desejaria. Há blogues anónimos em que os seus autores escolheram o anonimato porque o anonimato lhes permite dizer coisas importantes que, doutro modo, não seriam ditas. É bom não esquecer este pressuposto, muito menos ignorar. Não que eu simpatize com o anonimato, calma aí. Só que compreendo as razões, respeito a atitude, e não meto tudo no mesmo saco.
HOMOSSEXUAIS. Alguém entendeu a posição do PS sobre o casamento homossexual? Impor disciplina de voto aos seus deputados, na prática obrigando-os a votar contra o diploma (do Bloco e dos Verdes) que pretendia instituir o casamento entre homossexuais, porquê? Por que não deixou o PS que os seus deputados votassem em consciência o que em consciência devia ter sido votado? A excepção concedida ao ex-líder dos «jotas», a pretexto de que o ex-líder dos «jotas» foi «o rosto da causa» em favor do casamento homossexual e de que é uma «afirmação de pluralismo», roçou o ridículo. Evidentemente que foi um «erro político», como disse Manuel Alegre, que foi consequente na hora de votar. Aliás, estou curioso de saber no que isto vai dar. Não só o caso Manuel Alegre, mas o caso dos deputados que votaram contrariados. Ou muito me engano, ou isto não vai acabar bem. Bem para o PS, naturalmente, porque o PS gosta de pregar o pluralismo — mas, depois, não pratica.

8 de outubro de 2008

VASSOURA. Como é que a ERC se mete a divulgar um documento onde atribui declarações graves a um jornalista que, depois, não é capaz de provar? É só incompetência, ou há aqui algo mais? Não há dúvida de que a ERC precisa de uma vassourada das grandes, naturalmente a começar por cima.
OBAMA. Já repararam que Obama é o único candidato que, nos debates, fala abertamente em matar bin Laden? O mais curioso é que ninguém se indigna, nomeadamente a esquerda europeia, tão sensível sobre estas matérias. Fosse McCain a dizer isso, e teríamos caso.
BAPTISTA-BASTOS. Foram várias as vezes que usei este blogue para condenar o silêncio generalizado de que Baptista-Bastos foi alvo aquando do processo que Alberto João Jardim lhe moveu por causa de uma crónica no Jornal de Negócios. Isto por entender que o jornalista merecia solidariedade, nomeadamente solidariedade dos colegas de ofício, o que não sucedeu. Mas se usei este espaço para chamar a atenção para o caso, ao que parece com nula eficácia, volto a usá-lo para dizer que não me convenceram as explicações de Baptista-Bastos sobre a habitação que lhe foi atribuída pelo município lisboeta. Contrariamente ao que diz (Baptista-Bastos diz que o seu caso não tem «nada de imoral»), factos são factos, e ele não nega os factos essenciais. Para quem passa a vida a questionar o carácter alheio, o mínimo que se lhe pode exigir é que seja melhor do que eles.

7 de outubro de 2008

DEBATE PRESIDENCIAL. Tirando a política externa, em que McCainn me pareceu claramente melhor (foi mais consistente nas ideias, e mais realista quanto aos métodos que pretende adoptar caso seja eleito), o segundo debate presidencial americano esteve equilibrado. Quem estava indeciso antes do debate, estará indeciso depois do debate. Por mim falo, que continuo sem saber para que lado me hei-de virar.
DRAMA. Depois da estrondosa saída da TVI, por alegadas pressões de quem lá mandava, Marcelo Rebelo de Sousa entrou na fase do «agarrem-me senão vou-me embora». A ver vamos no que dão os 15 minutos que lhe querem roubar, a pretexto de que a televisão pública pretende diversificar o comentário, mas adivinha-se um drama em vários actos. À cautela, o professor foi avisando que é bem capaz de estar em curso uma manobra destinada a acabarem-lhe com o programa. Isto é, foi avisando que vai haver mesmo drama, não vá o episódio ficar-se por um mero ajustamento editorial sem outro propósito que não seja isso mesmo e, por esse motivo, não se prestar a dramas.
LER FAZ BEM À SAÚDE (28). Só agora me apercebi deste texto notável do Tomás Vasques.

6 de outubro de 2008

UMA TRAGÉDIA. Pior do que a esquerda não ter «nem uma puta ideia do mundo em que vive», como diz Saramago, é já ninguém ligar ao que ele diz. Tirando os livros, que lhe continuam a comprar e a ler (suponho), já ninguém lhe atribui a importância que dantes lhe atribuía. Essa é que é, para Saramago, a verdadeira tragédia.

3 de outubro de 2008

PALIN. Embora já aqui tenha dito que Sarah Palin não me convence, e cada vez acho mais que ela só atrapalha o já atrapalhado McCain, a verdade é que ela esteve melhor no debate do que se esperava. Bem sei que não se esperava grande coisa, e até houve quem dissesse que uma prestação sem embaraços já seria uma vitória. Seja lá como for, arrepio-me só de pensar que a sra. Palin pode substituir McCain na Presidência caso McCain seja eleito e lhe suceda algo que o incapacite temporária ou permanentemente (ele tem 72 anos e um historial médico complexo, é bom não esquecer). Não alinhei no tiro inicial à governadora do Alasca mal foi anunciado o seu nome como vice de McCain, e até me chegou a parecer uma escolha inteligente. Mas devo dizer que, se não estou arrependido por não ter entrado na caçada, hoje não penso que tenha sido uma boa escolha. Sobre quem ganhou ou perdeu o debate, a mim pareceu-me que nenhum deles foi melhor — ou pior — que o outro.

2 de outubro de 2008

ESTEREÓTIPOS E PRECONCEITOS. Miguel Sousa Tavares continua a cuspir baboseiras acerca dos americanos. Desta vez escreveu, no Expresso, que «a América é uma nação perigosa», porque os americanos «tanto se podem entregar a um Roosevelt ou a um Clinton como a um Nixon ou a um Bush». E que o «americano médio» é um ser dotado de «ignorância arrogante», para quem, segundo ele, «o mundo inteiro vive no desejo de poder imitar o estilo de vida e os 'valores' americanos». Como se vê, estereótipos e preconceitos, que não vale a pena comentar e, muito menos, rebater. Vindo de quem vem, de quem se julga culto e sofisticado, chega a ser confrangedora tanta pobreza de argumentos. E, depois, escandaliza-se quando lhe chamam anti-americano primário. Vendo bem, terá alguma razão. Afinal, o problema dele é bem capaz de ser, apenas, ignorância.
ACTIVOS TÓXICOS. Já disse, mas volto a dizer: apesar dos defeitos, mais do que nunca à vista de todos, não se vislumbra um modelo capaz de substituir o actual sistema financeiro. Se dúvidas houvesse, a crise sem precedentes está aí para o demonstrar. O sistema que sairá desta crise, como também já disse, será uma espécie de «versão melhorada» do modelo actual, não outro modelo, que ninguém considera. Em vez de andarem para aí a reclamar a imposição de modelos que não sabem bem o que são, muito menos como pô-los em prática, os adversários do actual sistema deviam pensar nisto.
LER FAZ BEM À SAÚDE (27). E em casa os procuradores não procuram?, por Vasco Lobo Xavier. O único plano, por LA.

1 de outubro de 2008

CRISE FINANCEIRA. Tenho para mim que o plano da administração americana para «salvar» a economia é a solução menos má, mas não tenho a certeza. Intervir na economia em nome de um mal maior, como parece ser o caso, é um imperativo nacional, por mais que isso signifique deitar a mão a moribundos que em circunstâncias normais se deixariam cair. Não foi isso o que entendeu a Câmara dos Representantes, mas não por muito tempo. Apesar de as sondagens indicarem que a maioria dos americanos é contra o plano da administração Bush, o que explica a renitência da Câmara dos Representantes, o pragmatismo acabará por se impor. Afinal, os contribuintes vão pagar a factura de qualquer maneira, haja ou não intervenção do Governo, e a proposta do Governo parece-me aquela que custará menos aos contribuintes.