28 de fevereiro de 2003

Pacheco Pereira resolveu escrever, no "Público", uma crónica politicamente incorrecta. "O único produto volátil, perigoso, capaz de envenenar milhões, capaz de levar pessoas ao suicídio ou ao homicídio, individual ou colectivo, que não tem qualquer controlo público, é a comunicação social." Está dado o mote. Recusando qualquer forma de censura, Pacheco Pereira defende a auto-regulação. Nada de novo e que, a meu ver, já não se tenha provado que não funciona. Mas vale a pena ler com a atenção a crónica do ilustre deputado.

26 de fevereiro de 2003

Parece que o sr. Bernardino Soares provocou uma tempestade no PC por causa da "democracia" da Coreia do Norte. Pelos vistos há, no PC, quem pense que o país do senhor Kim Jong Il não é uma democracia. Parabéns!
"Dentro de algumas semanas, teremos, nas Nações Unidas, a Líbia a presidir à Comissão de Direitos Humanos, a Síria a presidir ao Conselho de Segurança e o Iraque a presidir à Comissão de Desarmamento." Começa assim a crónica de Vasco Graça Moura, no "Diário de Notícias" de hoje. Absolutamente imperdível.

25 de fevereiro de 2003

O presidente francês insiste em desarmar Saddam de "forma pacífica". Mas como? Com mais inspecções. Como se as inspecções já não tivessem mostrado aquilo que está à vista de todos: que não há cooperação do regime de Bagdad, que Saddam continua a mentir. Se, perante a ameaça de um ataque norte-americano, Saddam não cede, porque havia de ceder às inspecções?
O líder parlamentar do PCP acha que "não há presos políticos em Cuba" e tem dúvidas que a Coreia do Norte "não seja uma democracia". Bernardino Soares disse ainda não existir, no seu partido, uma postura antiamericana, mas apenas "oposição à administração Bush e às suas políticas". Estas e outras pérolas para ler na entrevista publicada ontem pelo "Diário de Notícias".
A ler com atenção a crónica de José Pedro Zúquete e o editorial de José Manuel Fernandes, ambos no "Público" de hoje.

21 de fevereiro de 2003

"(...) sou dos que pensam que a democracia só merecerá o seu nome quando renunciar de vez ao recurso às armas para atingir os seus objectivos". Muito bonito, é claro, mas um disparate completo. Aliás, Manuel Villaverde Cabral é especialista neste tipo de disparates. Na semana passada, por exemplo, disse o seguinte: "(...) na nossa tradição política e intelectual, a democracia não se impõe pela força." Como se "na nossa tradição política" não houvesse exemplos de sobra que demonstram precisamente o contrário. Como se a democracia portuguesa não tivesse sido imposta pela força.
Parece que o eurodeputado Joaquim Miranda, do PC, se prepara para vir à América "prosseguir os esforços de sensibilização contra a guerra no Iraque". Segundo o nosso ilustre representante, que viajará para os "States" na companhia de outros eurodeputados, a ideia é reunir com os congressistas norte-americanos que se têm manifestado contra a guerra. Quer isto dizer que o objectivo da viagem dos senhores deputados é "sensibilizar" quem já está "sensibilizado"? Tudo indica que sim.

19 de fevereiro de 2003

Toda a gente critica o facto de os governos governarem ao sabor das sondagens. Mas, quando os governos não ligam às sondagens e enveredam por um caminho que não será do agrado da maoiria da população (a questão do Iraque é um bom exemplo), logo aparece alguém a lembrar: os governos "não podem ignorar as opiniões públicas nas suas decisões". Pois é, isto de governar ao sabor das sondagens não tem, afinal, mal algum. Sobretudo quando as sondagens são do nosso agrado.
"Com a queda do Muro de Berlim e o fim da experiência soviética, o socialismo como o mito e a esquerda que dele vivia tornou-se um envelope vazio. Pior do que isso, o seu conteúdo, agora sem emprego histórico concreto, foi integrado, na medida do possível, na mitologia do capitalismo, única prática universal da humanidade, como patologia dela ou versão de sonhos que só o capitalismo concebe e alcança." Quem assim fala é Eduardo Lourenço, num texto inicialmente publicado na última "Finisterra" e ontem reproduzido pelo "Público". E, se ele o diz, quem sou eu para duvidar?

17 de fevereiro de 2003

Atribuindo-a ao cronista Luís del Val, do "Faro de Vigo", o senhor Viale Moutinho transcreveu, com indisfarçado gozo, a seguinte anedota no "Diário de Notícias" de hoje: “Visitando o Presidente dos EUA um colégio, visita esta processada entre guarda-costas, dirigiu às crianças um discurso cheio de exaltação patriótica que é como quem diz: uma diatribe contra Saddam Hussein justificando o próximo ataque. Depois, ao começar o colóquio, diz um dos putos: «Chamo-me Jimmy e quero fazer-lhe três perguntas: Porque é que falsificou as eleições? Porque não evitou a catástrofe do 11 de Setembro? E porque é que quer fazer guerra contra o Iraque?» Ia responder Bush, quando tocou para o recreio. Ao regressarem à sala, o Presidente disse: «Continuemos o colóquio, mais perguntas?» Outro puto levantou o braço e disse: «Chamo-me Tommy e queria fazer as três perguntas anteriores e mais estas: Porque é que tocou a campainha para o recreio 20 minutos mais cedo e, sobretudo, onde raio é que agora está o Jimmy?» Que tal? Não tem imensa piada? Este senhor Viale Moutinho causa-me vómitos.
A ler com atenção "A Síndrome do Gás Hilariante", do crítico Eduardo Cintra Torres, no "Público" de hoje.

14 de fevereiro de 2003

"Se se pode acusar os Estados Unidos de unilateralismo quando afirmam que derrubarão Saddam com ou sem uma nova resolução das Nações Unidas, não se puderá igualmente acusar de unilateral a declaração alemã de que ficará de fora de um esforço de guerra mesmo que este seja decidido pela ONU?", pergunta José Manuel Fernandes na terceira parte de "O Iraque, porquê?".
Saddam Hussein proibiu, hoje, por decreto, a produção e importação de armas de destruição maciça. Quer isto dizer que, dantes, não era proibido?

12 de fevereiro de 2003

França, Bélgica e Alemanha acham que o início de preparativos militares da NATO sobre o Iraque seria "um mau sinal" no momento em que decorrem esforços diplomáticos nas Nações Unidas para evitar a guerra. Face a esta decisão, que cobriu de ridículo a Aliança Atlântica, uma pergunta se impõe: quando vai a NATO preparar-se para defender a Turquia? Depois de a guerra ter começado?
"Esta guerra é sobretudo o efeito da convergência de dois factores de índole mais psicológica: o enorme trauma do 11 de Setembro e a incapacidade que os EUA revelaram para matar Bin Laden e desmantelar a rede da Al-Qaeda", escreve Eduardo Prado Coelho na sua crónica de hoje. E depois não gosta que lhe chamem antiamericano primário.
Os sem memória ou ignorantes (sim, ignorantes) devem ler o editorial de José Manuel Fernandes, no "Público" de hoje.

11 de fevereiro de 2003

O dr. Mário Soares apressou-se a elogiar o veto da França, Alemanha e Bélgica a qualquer plano militar da NATO para a Turquia face a uma ofensiva contra o Iraque. Mas depois acrescentou: "A partir do Kosovo já não sei o que é a NATO". Ou seja, o dr. Soares não sabe o que é a NATO mas aplaude as decisões que lá se tomam.

7 de fevereiro de 2003

O senhor Fernando Rosas comparou os Estados Unidos à Alemanha nazi e George W. Bush a Adolf Hitler. São os norte-americanos e não os iraquianos "a verdadeira ameaça à paz internacional", disse ele na Casa do Alentejo. Quer isto dizer que o senhor Rosas continua igual a si próprio. Ou seja, uma "verdadeira ameaça" à sanidade mental de qualquer cidadão com dois dedos de testa.
"Na realidade, a maior parte das pessoas pensa que Bush está a mentir, quando apregoa o perigo iminente que o regime iraquiano constitui e quando se arma em paladino da democracia universal. Pelo contrário, a maioria das pessoas está convencida de que as motivações dos Estados Unidos são inconfessáveis, misturando o petróleo com a pura e simples afirmação do seu poder imperial contra um ditadorzeco sem capacidade para ripostar", diz Villaverde Cabral na sua última crónica no "DN". Infelizmente Villaverde Cabral não revela que dados utilizou que lhe permitiram chegar às maiorias que apontou. Será a maioria dos portugueses? Dos americanos? Dos iraquianos? Ou será a maioria dos habitantes da sua rua? E que sondagem ou outros estudos utilizou ele para chegar a essa maioria? Realmente dá muito jeito propagandear os desejos como se de factos se tratasse. Mas é pouco sério.
Afinal, Clara Pinto Correia não plagiou só um texto de David Remnick. Posteriormente à polémica crónica "O Castelo", Clara escreveu outra ("O Eixo do Mal") onde transcreveu frases inteiras sem citar a sua origem ou autor (Hendrik Hertzberg, também da New Yorker). E depois declarou ao "Diário de Notícias" de hoje que está "muito triste e muito envergonhada". E que "seria vil se tivesse tentado plagiar um texto deliberadamente, mas não foi o caso". Palavra de honra que foi isto que eu li no "DN".

6 de fevereiro de 2003

Hilariante a desculpa de Clara Pinto Correia para justificar o injustificável. Uma "distracção", disse ela. Vale a pena lembrar que a "distracção" se traduziu em quatro parágrafos copiados de um artigo publicado na New Yorker e depois servidos aos leitores como se coisa dela se tratasse. Para já, a "distracção" custou-lhe o lugar na "Visão". Resta agora saber se a coisa vai morrer por aqui.
"O documento, assinado sob forma de carta, publicado nas páginas da imprensa europeia (...) por chefes de Estado e de Governo de oito países europeus e apoiado em seguida por mais três foi o gesto de maior sanidade, clareza e coragem política que se deu no seio da Europa nos últimos tempos", diz o deputado Pacheco Pereira. E acrescenta: "Quem assegura a defesa estratégica da Europa? Em 1947, no início da guerra fria, os EUA. No início da década de 60, com as crises de Cuba e Berlim, os EUA. Em 1989, no momento da queda do muro e do fim do sistema comunista, os EUA. Em 2003, os EUA. Esta é uma verdade incontestável: são as forças armadas dos EUA, os seus homens, os seus satélites, os seus aviões, as suas bombas, incluindo as suas bombas nucleares, que há mais de 50 anos defendem a Europa. Existe algum plano conhecido, algum esforço orçamentado, alguma medida em curso, alguma investigação desenvolvida ou a desenvolver, algum programa de armamento, modernização das forças armadas, algum vislumbre de alguma coisa na Europa que aponte para o fim desta situação?" A ler com atenção a crónica de hoje no "Público".

4 de fevereiro de 2003

O senhor Vital Moreira, que em tempos escreveu uma crónica no "Público" onde manifestou a sua revolta contra um massacre que nunca existiu (o de Jenin, lembram-se?) e depois nunca teve a ombridade de admitir o erro (percebe-se porquê, senhor Vital Moreira), resolveu recorrer à mentira para suportar os seus pontos de vista acerca da provável intervenção norte-americana no Iraque. Disse ele, na sua última crónica no "Público", que os inspectores da ONU sublinharam, no relatório, "a cooperação das autoridades iraquianas nas tarefas de inspecção", e que o mesmo relatório dos inspectores da ONU "enuncia a lista da destruição de armas desde a guerra do Golfo". Ora, como toda a gente sabe, as coisas não são bem assim. Os inspectores queixaram-se da pouca colaboração das autoridades iraquianas. Ou seja, precisamente do contrário. E, sobre "a lista da destruição de armas desde a guerra do Golfo", não me consta que exista. Mas é bom ler a crónica de Vital Moreira.
Perguntei ao Blog de Esquerda "porquê tanta indignação sempre que Israel ataca os palestinianos e nem uma palavra quanto sucede o contrário". Responderam-me da seguinte maneira: "(...) é muito simples. Nós lamentamos a morte de civis israelitas inocentes, tanto como a dos palestinianos que são vítimas dos raids ordenados pelo senhor Sharon. Acontece que não fazemos confusão entre a causa e o efeito." Realmente é uma resposta muito simples. Eu diria até que de um simplismo esmagador.