29 de outubro de 2010

ENTRE A TRAGÉDIA E A CATÁSTROFE. Dizer o quê sobre a «guerra» do Orçamento que já não tenha sido dito e repetido? O caso será grave, segundo alguns gravíssimo, segundo outros estaremos mesmo à beira do abismo. Talvez pior: será uma tragédia se não for aprovado, uma catástrofe se for. O PSD sairá trucidado se o viabilizar, e sairá trucidado se não o viabilizar. Idem aspas para o Governo, que será irresponsável se não mudar o que lhe pedem, e irresponsável se se demitir. É por estas e por outras que eu, ao contrário de (quase) toda a gente, ainda não percebi se é melhor a tragédia ou a catástrofe, provavelmente por me ser indiferente qual dos partidos do poder sai a ganhar ou a perder.

28 de outubro de 2010

LEITURAS. Um belo livro este que agora terminei. A Fortune-Teller Told Me, de Tiziano Terzani, em Portugal editado pela Tinta da China sob o título Disse-me Um Adivinho, é um dos poucos livros de viagens que vale a pena, dos poucos que não me decepcionaram.

26 de outubro de 2010

CAVACO. Nunca fui grande entusiasta de Cavaco Silva, embora tivesse votado nele nas últimas Presidenciais caso tivesse votado. Mas hoje, depois do episódio das escutas, que deixou correr por julgar que beneficiaria a «família política» a que pertence em vez de o «matar» logo à nascença e que explicou tardiadamente e de modo inacreditável, não contará com o meu voto. Como se costuma dizer nestes casos, o episódio foi todo um programa, e eu não gostei do que vi. Infelizmente, os restantes candidatos ainda me parecem piores, pelo que será desnecessário dizer o que farei em Janeiro de 2011.

22 de outubro de 2010

BRANQUINHO. Evidentemente que a «transferência» do deputado Branquinho para o sector privado demonstra, de novo, como a política é um bom trampolim para voos mais altos. O «negócio» será «transparente», como garante o sr. deputado, e estou certo que inatacável do ponto de vista legal. Já de ética, seria melhor não falar, que a ética não é o que lhe convém que seja.
ESCREVEDORES & PUBLICANTES. Provavelmente acharão um exagero se eu disser que resido e trabalho numa área onde há mais escritores que leitores, mesmo que pretenda fazer uma caricatura, por natureza um exagero. (Continue a ler aqui.)

21 de outubro de 2010

LARSSON. Lidos os dois primeiros volumes da trilogia Millennium, confirmo: os livros de Stieg Larsson são, de facto, viciantes. Ao contrário da generalidade dos livros, que interrompo por estar a cair de sono sempre que os leio antes de adormecer, interrompo a leitura de Larsson porque são horas de me deitar, mas estou de tal modo desperto que me custa adormecer. Pareceu-me um exagero quando se falou de vício, mas agora sei do que estavam a falar.

20 de outubro de 2010

MUSEUS. Cruzei-me com um pintor que se queixou do preço dos museus, do modo como os museus aproveitam o espaço para facturar, das fortunas que fazem com o que lá expõem. Concordei com a generalidade das queixas, mas lembrei-lhe que não almoço pelo preço de uma entrada no Metropolitan, para citar um dos mais caros, onde não hesitaria pagar o dobro caso me pedissem o dobro.
Manuela Moura Guedes volta ao ataque

19 de outubro de 2010

ESTÁ MAL. Gravar em áudio poemas de Fernando Pessoa e colocá-los no portal onde se encontra a sua obra, é boa ideia. Só que, ouvidas as gravações, descobre-se que os poemas são miseravelmente ditos. Há coisas que mais vale não se fazerem do que se fazerem mal feitas.

15 de outubro de 2010

UM ESCÂNDALO. Sempre que se fala de Manuela Moura Guedes e das suas escaramuças com o primeiro-ministro e a TVI menciona-se, de raspão, que a jornalista se encontra de baixa, como se o caso não tivesse importância. Acontece que o caso tem importância. Afinal, Manuela está de baixa desde que lhe suspenderam o Jornal de Sexta, já lá vai um ano e tal, e segundo os jornais é vista com frequência em acontecimentos sociais, onde se presume que não vai de cadeira de rodas ou por recomendação médica. Como é evidente, se fosse um cidadão anónimo que estivesse no lugar dela já se lhe tinha acabado a mama, ou apanhado por tabela, ou as duas coisas. Como é quem é, como Manuela ainda era capaz de dizer que lhe tiraram a baixa por ordens do primeiro-ministro, ninguém lhe põe em causa o expediente, ninguém se escandaliza, e ninguém move uma palha para mudar o que quer que seja. Ironicamente, Manuela sempre gostou de pregar a seriedade alheia, mas também isso não merece reparo. Parafraseando O’Neill, assim vai o país da minha tia.

14 de outubro de 2010

MINEIROS (3). Repararam como o ministro das Minas e o presidente da República chilenos souberam estar à altura do que se exigia? Com certeza que irão facturar politicamente à conta do caso, mas que mal tem facturar se trabalharam para o merecer? Imaginem, já agora, que o caso tinha ocorrido em Portugal. Estão a ver os governantes a arregaçar as mangas, como fizeram os chilenos? Estão a ver o famoso espírito do desenrasca a comandar as operações? Estão a ver a competição politiqueira para ver quem facturava mais? Estão a ver a chuva de críticas às cenas de patriotismo? Arrepia só de pensar.
MINEIROS (2). Na falta de palavras, faço minhas as de Ferreira Fernandes. Já as deste cavalheiro, são tão despropositadas como de mau gosto.
MINEIROS (1). Impossível não espreitar as imagens do resgate dos mineiros chilenos, não ficar impressionado com a forma como foi planeado e gerido, e não me emocionar com toda aquela emoção. A grandeza humana é, de facto, uma coisa admirável. Pena é que se veja tão poucas vezes.
PASTORAL PORTUGUESA. O Rogério Casanova regressou com a promessa de fazer três posts semanais até ao final do ano.

12 de outubro de 2010

ALA QUE VEM AÍ BERNARDA. Fez bem Rui Moreira abandonar o Trio de Ataque, mas não pelas razões que invocou. Fez bem porque iria, mais tarde ou mais cedo, ter que enfrentar o conteúdo das escutas que envolvem o presidente do seu clube, que a desculpa para não falar delas é tão frágil que não se aguentaria por muito tempo. As escutas telefónicas que por aí circulam são demasiado graves para se fazer de conta que não existem, mesmo que se questione a sua validade como prova e o modo como foram divulgadas. Como imagino que lhe seria doloroso falar delas, aproveitou o que lhe pareceu uma ocasião soberana para se pôr ao fresco, e ainda tentou passar a ideia de que abandonou o programa por recusa em pactuar com comportamentos que tem por reprováveis. A estratégia só teve um pequeno senão: apenas convenceu quem já estava convencido.

11 de outubro de 2010

CRÍTICOS. Cansado de lhe ler críticas sempre a dizer bem, perguntei a um crítico literário como era possível serem bons todos os livros que lia, ao que ele me respondeu: «Dos maus não falo.»

7 de outubro de 2010

COISAS QUE NÃO ENTENDO. Três membros do Conselho das Comunidades resolveram pedir uma audiência ao primeiro-ministro para «denunciarem a situação em que se encontra aquele órgão de consulta do Governo em questões de Emigração». Diz o conselheiro da Suíça que o Governo não os consulta, que o Conselho «não tem meios para orientar a sua actividade», e que ninguém quer saber deles. Ora, é preciso que se diga que o dito Conselho é, há anos, um verbo encher. Pior: nunca foi outra coisa, como as críticas dos seus membros o demonstraram desde a primeira hora. Assim sendo, por que não se demitem os srs. conselheiros? Palavra de honra que eu gostava de saber.

5 de outubro de 2010

O SISTEMA




Circula no YouTube uma gravação onde se ouve o presidente do Porto «sugerir» ao então presidente da arbitragem o «juiz» que deveria dirigir não me lembro que jogo dos «dragões», registo efectuado pelas autoridades no âmbito do «Apito Dourado» que nada provou apesar das evidências. Numa altura em que a polémica nas arbitragens está de volta, vale a pena ouvir a «conversa em família» entre os srs. Pinto da Costa e Pinto de Sousa (então presidente do Conselho de Arbitragem) para se perceber do que se fala quando se fala de corrupção no futebol. (A gravação inclui várias partes, todas esclarecedoras, mas a parte a que me refiro começa ao minuto 4:00.)

4 de outubro de 2010

NÃO PERCEBO. Não contesto a legitimidade de Carvalho da Silva e a importância da CGTP, mas alguém percebe o que ele diz quando abre a boca? Alguém percebeu o que ele disse, por exemplo, no Prós e Contras sobre a crise? Ou eu estou a perder as qualidades que me restam, ou o sujeito enrodilha-se de tal modo em abstracções e raciocínios cujo alcance me escapa que chego a duvidar que esteja a falar a sério. É doutorado em quê, já agora?

1 de outubro de 2010

THE PARIS REVIEW. Li, mal saíram, os quatro volumes de entrevistas da Paris Review (The Paris Review Interviews, em português parcialmente reunidas num só volume denominado Entrevistas da Paris Review, editado pela Tinta-da-China), mas não resisti a descarregá-las para o e-book mal soube que estão online. O e-book serve para isto, ou também para isto, ou sobretudo para isto.
A vingança do Além.