30 de maio de 2008

ARROGÂNCIA. Bem sei que o prof. Carlos Reis é uma eminência do regime — ou, como diria Baptista-Bastos, um intelectual de alto coturno. Mas seria demasiado pedir-lhe que descesse lá das alturas e explicasse aos mortais, de preferência com substância e de modo a que todos percebam, por que razão defende o acordo ortográfico? É que eu cada vez percebo mais que ele é um acérrimo defensor do acordo, às vezes chega a parecer-me que mais por birra que por outra coisa, mas cada vez entendo menos porquê. Já Vasco Graça Moura, com quem polemiza sobre o assunto, percebe-se perfeitamente. Tivessem as razões do ilustre reitor metade da contundência que tem, por exemplo, a arrogância com que discute com quem não pensa como ele, como o Prós e Contras em que se discutiu a matéria muito bem demonstrou, e não seriam precisas mais explicações.
ANTÓNIO SOUSA HOMEM. A propósito do lançamento de Os Males da Existência, colectânea de crónicas de António Sousa Homem, recordo que o «reaccionário minhoto» tem um blogue onde «despeja» a prosa que vai publicando. Recordo, também, que o Dr. Homem é um dos nossos melhores cronistas, naturalmente que na minha imodesta opinião. O Francisco, cujas crónicas me custa ver reduzidas a dois parágrafos desde que se mudou para o Correio da Manhã (onde também escreve o Dr. Homem), tem vindo a publicar extractos do livro.
SIC. É tanta a ignorância sobre a blogosfera que nem merece comentários.

28 de maio de 2008

INTERESSANTE. Hillary Clinton tem um watchdog a vigiar diariamente o que dela se diz na Wikipedia. Quando alguém lá põe palavras como «lésbica» ou «comunista», ou escreve que os Clinton mandaram matar um conselheiro da Casa Branca, lá está a «sentinela» para repor «a verdade». Segundo esta notícia, o cavalheiro terá, até agora, efectuado qualquer coisa como 1 600 alterações à biografia da sra. Clinton publicada naquela enciclopédia. É por estas e por outras que eu nunca entendi a importância da Wikipedia, de que sempre desconfiei precisamente por se prestar a manobras destas.

26 de maio de 2008

ZAFÓN. Há muito tempo que não lia um livro que me desse tanto gozo.
GAFFES. A gaffe mais grave da campanha eleitoral foi Hillary ter insinuado que Obama pode ser assassinado? Por amor de deus. Toda a gente percebeu que foi uma frase infeliz, e sou insuspeito para o dizer. O episódio da Bósnia, em que a ex-primeira-dama nos quis fazer crer que foi recebida debaixo de fogo e do qual, estranhamente, se deixou de falar, foi, de longe, a gaffe mais grave de Hillary, se é que se pode considerar uma gaffe o episódio da Bósnia. (Ver, a propósito, a crónica de Ferreira Fernandes.)
SANTOS & PECADORES. Francisco Lucas Pires, de quem pouco mais sei além de ter sido líder do CDS, é, ciclicamente, transformado em santo da paróquia. Posso estar enganado, mas o grande mérito de Lucas Pires foi, como Sá Carneiro, ter morrido novo. Fosse ele vivo, e não se teria a opinião que dele se tem, ou se diria o que dele se diz.

23 de maio de 2008

HILLARY (2). Diz-se e repete-se que Hillary tem um ponto a seu favor: ganhou nos grandes estados (Califórnia, Texas, Ohio, Nova Iorque, Nova Jersey e Pensilvânia). Ora, desde quando ganhar nos grandes estados é um argumento de peso? Mas há outra coisa que também não entendo: por que motivo se diz que a ex-primeira-dama é uma mulher de coragem, disposta a lutar até ao fim e a padecer pelo nosso bem só porque ainda não desistiu da corrida presidencial quando há muito se tornou óbvio que não tem hipóteses? Não estará ela a prolongar uma «guerra» que só os republicanos desejam? Ou estará Hillary à espera de uma vitória na secretaria?
CRISTIANO RONALDO. A grande penalidade falhada por Cristiano Ronaldo na final dos Campeões podia ter sido fatal, como o próprio admitiu. Felizmente para ele, e para quem desejou que Ronaldo alcançasse o que pretendia, tal não sucedeu. Junto-me aos que se regozijaram com o facto, mas devo acrescentar que desejo ao nosso craque que aquela grande penalidade falhada lhe sirva para manter os pés bem assentes no chão. Scolari, mestre destas coisas, foi certeiro (e inteligente) ao avisar: o mais importante numa equipa é a equipa, sem a qual nada se consegue. Como, aliás, demonstrou a equipa de Ronaldo no jogo em causa, como lembrou o seleccionador nacional.

21 de maio de 2008

ZAFÓN.
— Houve três grandes figuras neste século: Dolores Ibárruri, Manolete e José Estaline — proclamou o taxista, disposto a obsequiar-nos com uma pormenorizada hagiografia do ilustre camarada.

Eu viajava comodamente no assento de trás, alheio à perorata, com a janela aberta e gozando o ar fresco. Fermín, encantado por se passear num Studebaker, dava trela ao condutor, pontuando de vez em quando o enlevado esboço do líder soviético que o taxista glosava com questões de duvidoso interesse historiográfico.

— Pois consta-me que sofre muitíssimo da próstata desde que engoliu um caroço de nêspera e que agora só consegue urinar quando lhe trauteiam A Internacional — deixou cair Fermín.

— Propaganda fascista — esclareceu o taxista, mais devoto que nunca. — O camarada mija como um touro. Tomara o Volga ter tamanho caudal para si.
Carlos Ruiz Zafón, A Sombra do Vento

20 de maio de 2008

MORALISMO. Não alinho na ideia de que acusar o primeiro-ministro por ter fumado onde não devia constitui um acto moralista. É que, a ser assim, os governantes não podem ser criticados por ingerirem álcool onde não se pode, por deitarem lixo na via pública, ou por não apanharem o cocó do cão. Evidentemente que se espera de um governante que seja o primeiro a cumprir a lei, nomeadamente a lei que o próprio fez aprovar, e não me parece que isto seja moralismo. Mas, se for, antes isso que reduzir o episódio a um mero fait divers.

16 de maio de 2008

JORNALISMO (2).
«Numa visita do então Presidente da República Mário Soares, o jornalista Miguel Sousa Tavares, enviado especial da RTP, não pediu para ir à missa mas precisou de uma pequena ajuda. Estava a realizar uma reportagem de exterior e precisava de alguém que personificasse o nova-iorquino bem informado que não perde tempo a almoçar de garfo e faca para poder ler o
Wall Street Journal ou a Time.

Na ausência de um exemplar disponível, não se atrapalhou. Chamou o meu colaborador e ex-sócio Ribas, com o seu cabelo e barba preta mediterrânicos, comprou-lhe uma sanduíche, um exemplar do
New York Times, sentou-o num banco do jardim em frente ao hotel Plaza (...) e executou ali mesmo, na perfeição, o retrato do típico nova-iorquino: “Nem na hora de almoço, em Nova Iorque, o homem de negócios norte-americano deixa de se informar sobre o que se passa no mundo”.

O Ribas disse que sim senhor, que lá fazia de nova-iorquino, mas virou o jornal ao contrário. O New York Times apareceu na RTP virado de pernas para o ar... Depois, tratou de ligar para tudo quanto era família em Portugal pedindo que o imortalizassem numa fita de vídeo.»
Ao Volante do Poder, de Pedro Faria e Nuno Ferreira
Assustador.

15 de maio de 2008

JORNALISMO (1). Constança Cunha e Sá no Público de hoje: «Se os jornalistas do PÚBLICO (...) tinham conhecimento do que se passava» nos voos fretados pelo Presidente da República, «não se percebe por que é que só agora resolveram denunciar os factos que, desde há dois anos, poluem as viagens presidenciais.» De facto, «seria de esperar que (...) estes [factos] tivessem sido revelados, na altura própria, com o devido destaque - e não que aparecessem, esta semana, em diferido, a reboque dos cigarros do eng. Sócrates e da fatídica cortina atrás da qual ele supostamente se escondeu.» Já agora, repararam no tempo que os restantes órgãos de informação levaram para citar a notícia do Público sobre o fumo do nosso primeiro? Por que seria?

14 de maio de 2008

APITO FINAL. Se bem entendi o que foi dito no Prós e Contras sobre o Apito Final, fosse outro o clube despromovido que não o Boavista e não teria havido drama algum. Nem drama, nem discussão. Quanto ao resto do debate, e o resto do debate abordou a generalidade dos problemas do futebol português, mais uma vez ficou demonstrado que nada de substancial vai mudar, a curto ou médio prazo, muito menos com os actuais protagonistas. Valeram as peixeiradas, que sempre permitiram que se dissessem umas quantas verdades que, de outra forma, não seriam ditas.
FUMO. Fez bem o primeiro-ministro em pedir desculpa por ter fumado onde não devia, apesar de a transportadora aérea nacional se ter apressado a garantir que um voo fretado está sujeito a regras diferentes, entre elas a permissão de fumar. Já aproveitar a ocasião para anunciar que deixou de fumar, mais valia estar calado. É que o caso não tem a mínima relevância, nem é coisa que nos diga respeito. Além de que os planos podem sair-lhe furados, como já sucedeu a muito boa gente, pondo-se a jeito para as anedotas.
OBAMA. Como seria de esperar e os últimos desenvolvimentos confirmam, as Presidenciais americanas de Novembro vão agitar o espantalho racial, e cada vez me convenço mais que a questão pode tornar-se determinante para o desfecho do resultado. (O resto está aqui.)

13 de maio de 2008

VELHICE (3). A gente descobre que está a ficar velho quando recebe diariamente ofertas de Viagra e Cialis.

12 de maio de 2008

DREAM TICKET. Nunca entendi por que se designaria dream ticket uma eventual candidatura de Obama tendo a ex-primeira-dama como candidata a vice-presidente. E agora, sabendo-se que os apoiantes de um e de outro prometem votar em McCain caso o candidato das suas preferências não seja o nomeado, ainda percebo menos por que se insiste nesta eventualidade. Não que o «negócio» não seja possível, que eu já vi que chegue para não me surpreender com coisas destas. Só que, a acontecer, parece-me que o expediente afastaria mais votos do que conquistaria — e já toda a gente percebeu que há um abismo entre Obama e Hillary, além de que as candidaturas assentam em pressupostos quase antagónicos
A cor dos mortos

9 de maio de 2008

RELATIVISMO. «Com ou sem resolução do Conselho de Segurança da ONU a intimar a Junta a levantar as restrições de entrada no país, esta é a altura de avançar em força para a Birmânia, entrando por todas as portas e janelas», escreve Ana Gomes no Causa Nossa. Ficamos, assim, a saber que há causas que não necessitam de resolução da ONU para uma intervenção da «comunidade internacional». Na óptica da eurodeputada, a regra não se aplica a todos os casos — como, aliás, demonstrou no caso do Iraque, cuja intervenção considerou inadmissível sem a resolução da ONU. Dir-me-ão que a Birmânia e o Iraque são casos diferentes, e que merecem, por isso, tratamentos diferenciados. Com vossas licenças, discordo. É que, em matéria de diferenças, cada um vê as que quer, já os princípios não podem prestar-se a interpretações de circunstância.
HILLARY (1). Goste-se ou não da ideia (ou de Hillary Clinton), uma coisa já todos perceberam: a ex-primeira dama dos EUA só tem hipótese de ganhar a nomeação presidencial «na secretaria». Como ninguém acredita que «a secretaria» lhe atribua uma vitória que não teve no terreno, temos que Hillary está fora da corrida. Não se percebe, portanto, por que insiste em continuar. É que já toda a gente viu que a corrida é, agora, a corrida dela, não a corrida do partido pelo qual disputa a nomeação, por mais que diga que a sua campanha prossegue «a todo o vapor até à Casa Branca». Aguarda-se que alguém lhe mostre a evidência e a aconselhe a retirar-se de forma digna, embora, pelos erros já cometidos, dificilmente será alguém que lhe está próximo.

7 de maio de 2008

PSD. Contrariando o pensamento dominante, não estou seguro de que a vitória de Manuela Ferreira Leite nas «directas» sejam favas contadas, e ainda tenho mais dúvidas de que a «dama de ferro» ganhe por maioria folgada, como exige Alberto João Jardim, que já ameaçou não reconhecer um líder que seja eleito por menos de 50 por cento dos votos. É, também, previsível que o novo líder venha a ter um mandato tão atribulado como a dupla Menezes & Lopes, pois o primeiro já avisou que está pronto para o combate, e o segundo continua a «andar por aí» — e uma vitória de Manuela Ferreira Leite está longe de ser um garante de acalmia. Pode ser que me engane, mas estou convencido de que o PSD tem os dias contados. E, a cumprir-se o prognóstico, por uma vez concordo com Rui Tavares: só faz falta quem cá está.
JOVENS. Os jovens podem não saber quem foi o primeiro presidente eleito após o 25 de Abril, não saber escrever uma frase sem um erro ortográfico, ou fazer uma conta de dividir. Mas há uma coisa que é preciso dizer: os jovens de hoje sabem muitíssimo mais do que nós sabíamos quando tínhamos a idade deles e a escolaridade deles. Façam os estudos que quiserem, pintem o cenário como quiserem: é uma evidência que só não vê quem não quer. Não exageremos, portanto, quando falamos da ignorância dos jovens.
Bob Geldof foi ontem protagonista de um incidente, ao considerar que Angola é um país ‘gerido por criminosos’. Mencionou então os preços das casas mais caras de Luanda, num país onde a maioria da população vive na miséria. Geldof devia ter pensado nisso quando enviava dinheiro para países governados por ditadores africanos.
Marcelo Rebelo de Sousa insiste em dizer "há meses atrás" e "precaridade" em vez de precariedade, associando-se a outros políticos, jornalistas e pivôs, que mantêm o mesmo espinoteante tolejo e acrescentam-lhe "competividade" em vez de competitividade.

5 de maio de 2008

DO OITO AO OITENTA. Depois da crucifixão, já só falta aos media canonizar o casal McCann. De facto, o mínimo que se pode dizer sobre o caso Maddie é que chega a ser impressionante a facilidade com que se vai do oito ao oitenta, como nada se tivesse aprendido com os erros cometidos. A não ser que tudo isto não passe de uma estratégia dos media destinada a contrabalançar os erros cometidos e, assim, escapar aos processos anunciados pelos advogados dos McCann.
DESASTROSO. De uma coisa não há dúvida: o director nacional da Judiciária é especialista em deitar gasolina na fogueira. Numa altura em que a PJ está afogada em problemas e na mira de todos pelas piores razões, Alípio Ribeiro ainda vem com mais esta. Razão tem quem pede o afastamento do magistrado, considerando que deixou de ter condições para exercer o cargo.

2 de maio de 2008

CÓNEGO MELO. Tenho dúvidas acerca dos motivos que levaram o PC e o Bloco a ser contra o voto de pesar pela morte do Cónego Melo, mas tenho uma dúvida ainda maior: que relevantes serviços terá o Cónego Melo prestado à Pátria que merecessem um voto de pesar do Parlamento?

1 de maio de 2008

JUSTIÇA. «Falta de uma estratégia de investigação», «redução da capacidade operacional», «desmotivação dos inspectores», «inoperância», «declínio», «descalabro». Estes são, segundo o DN, os dados que o Departamento de Planeamento e Assessoria Técnica da PJ tem em mãos, e que caracterizam o actual estado da PJ. Comentários para quê?
VELHICE (2). A gente descobre que está a ficar velho quando, no café, nos perguntam se queremos açúcar «normal» ou açúcar de dieta.