27 de fevereiro de 2009

PORNO. Então a gente já não pode ler um blogue descansado, em casa ou no trabalho, sem correr o risco de lá aparecer uma reprodução da obra mais badalada dos últimos tempos e nos virem logo acusar de estarmos a ver pornografia? É que ninguém à minha volta conhece a obra de Gustave Courbet, muito menos A Origem do Mundo — logo tomam a coisa como pornografia, e quem a consome por tarado. Uma minoria, ao que me dizem, mas uma minoria que, pelos vistos, me calhou toda a mim.

25 de fevereiro de 2009

SEXO FAZ MAL À CABEÇA. Bem sei que o episódio do livro apreendido em Braga se presta a comentários jocosos ou inflamados, consoante se trate de um cidadão comum ou de políticos «fracturantes», mas apetece-me perguntar: o que distingue a obra de Courbet reproduzida na capa de um livro da mais corriqueira pornografia? A pornografia feita por artistas deixa de ser pornografia? E a banda desenhada porno? É arte, ou pornografia? Depois, como vão os nossos rapazes da PSP distinguir pornografia «artística» de pornografia «não-artística»? Vão ter um dispositivo que lhes permita saber que a pila de Van Gogh é arte e que a púncia da Miquelina não é? É impressão minha, ou perdeu-se o sentido das proporções? Desde quando o episódio de Braga é comparável à censura dos tempos da outra senhora? Estarei a ver bem, ou está tudo doido?

24 de fevereiro de 2009

OS PRISIONEIROS E OS OUTROS. Depois da alegada passagem do cidadão Binyam Mohamed por Portugal a caminho de Guantânamo, que descreveu com minúcia impressionante em cinco posts, espera-se que Ana Gomes aborde, agora, o caso dos presos na Base de Bagram (Afeganistão), que o presidente Obama já disse não terem direitos constitucionais.

23 de fevereiro de 2009

ISTO É NORMAL?

É impressão minha, ou este anúncio a promover o novo canal da TVI é um abuso? É normal utilizarem-se fotografias da tomada de posse de Obama, ainda por cima manipuladas, para promover um produto comercial?
OUTRA VEZ O RELATIVISMO. Hillary Clinton foi à China e avisou que a questão dos direitos humanos não atrapalharia a agenda, e ninguém diz nada. O presidente Obama resolve enviar mais 17 mil soldados para o Afeganistão e dizer que os detidos na Base de Bagram não têm direitos constitucionais, e ninguém abre a boca. Fosse outro o inquilino da Casa Branca, e teríamos gritaria. Razão tinha George W. Bush ao dizer que ainda é cedo para o julgarem. É que, por este andar, a História vai ser mais branda com ele do que se imaginava.

20 de fevereiro de 2009

TERRORISMO. A questão do terrorismo não é escolher entre condená-lo ou compreendê-lo, como diz Diana Andringa, que uma coisa não exclui a outra. O terrorismo é uma prática condenável, ponto final. Seja o motivo qual for. Compreenda-se, ou não.

19 de fevereiro de 2009

PRIMATAS. Custa-me a crer que alguém de quem se espera um pensamento um pouco mais elaborado nos venha dizer que gosta de «malhar na Direita», como fez o ministro Santos Silva. Não que eu espere grande coisa dos políticos ou dos governantes, e menos ainda em termos de pensamento político, mas parece-me razoável esperar que eles sejam um pouco mais sérios (no caso de estarem a mentir), ou um pouco mais cultos (no caso de ser ignorância). Quem, tirando os indefectíveis, não reconhece boas e más ideias à Direita e à Esquerda? Quem está honestamente convencido de que o Bem está de um lado e o Mal do outro? «Malhar» no outro, no caso na Direita (mas podia ser na Esquerda), porquê? Porque a Direita é intrinsecamente má e a Esquerda intrinsecamente boa? A julgar pelo que disse o ministro, sobretudo a forma como o disse, não há dúvida que assim pensa. Ora, isto demonstra que o pensamento do sr. ministro ultrapassa o que se designa por um pensamento primário. Isto, sr. ministro, é um pensamento de primatas.
HOLOCAUSTO. Negar o Holocausto, só por ignorância ou má-fé. Se o primeiro motivo não é aceitável, o segundo é abominável. (O restante está aqui.)

17 de fevereiro de 2009

TALVEZ PODER. Não sei se é o sistema informático que não funciona (ou funciona mal), como garantem, ou se é má vontade dos srs. juízes. O que me parece evidente é que tudo o que se apresente como visando melhorar o funcionamento da Justiça acaba por atrapalhar. É certo e sabido que as reformas significam sangue, suor e lágrimas. É, portanto, natural (e compreensível) que os atingidos por essas reformas resistam como podem. Não sei se é o caso dos srs. juízes face ao novo sistema informático. Mas, se for, vai ser difícil mudar o que quer que seja. É que os srs. juízes, como se sabe, podem muito. Na minha opinião, muito mais do que deviam.
PELA BOCA MORRE O PEIXE. Nada impede um treinador de futebol de criticar o trabalho de um colega de profissão, mas quando há indícios de que o crítico aspira ao lugar do criticado, as coisas mudam de figura. Por mais razões que existam para o criticar, dizer-se que Carlos Queiroz cometeu um erro ao não chamar os jogadores mais experientes, como disse Manuel José, não é bonito — e traz, obviamente, água no bico, pois não é segredo para ninguém que Manuel José aspira ao cargo ocupado por Queiroz. Como não é segredo para ninguém que o actual seleccionador visava o lugar de Scolari quando criticava o seu antecessor. Resta a consolação que Queiroz tem, neste particular, o que merece, como merecerá o seu sucessor caso vá pelo mesmo caminho.

13 de fevereiro de 2009

OBAMA. Terminou o «estado de graça» do presidente Obama, e dizer isto é dizer pouco. Os inúmeros «casos» já conhecidos demonstram que Obama se rodeou de «gente do sistema», diria mesmo demasiado do sistema, e não gente capaz de o mudar, como prometeu. Sem fazer grandes ondas, o mínimo que se pode dizer nesta altura é que Obama foi ingénuo, e a ingenuidade é uma coisa estimável num cidadão comum, mas péssima num presidente. Sobretudo quando atravessamos um tempo excepcional que requer medidas excepcionais, como ele gosta de dizer. Pode ser que me engane (espero, sinceramente, que me engane), mas isto não augura nada de bom. Aliás, o mercado reagiu com desconfiança ao plano de estímulo económico de Obama, quando se esperaria o contrário.

12 de fevereiro de 2009

KINDLE 2. Como utilizador regular de leitores de livros electrónicos (já vou na terceira versão), deveria receber com entusiasmo a notícia do lançamento do novo modelo da Amazon (o Kindle 2). Por razões que passo a explicar, não foi assim. Uma rápida vista de olhos à maquineta bastou para confirmar o que eu já sabia: nada de essencial mudou, pelo menos o que eu reputo de essencial. A maquineta continua sem ecrã táctil e sem iluminação interior, e o espaço reservado ao ecrã permanece subaproveitado (a área dos botões podia ser usada pelo ecrã, tornando-o maior). Resumindo, nada de realmente importante mudou em relação ao modelo anterior, muito menos em relação à concorrência. Aliás, o novo Sony Reader, principal concorrente do Kindle, colmatou, precisamente, duas falhas que apontei: introduziu o ecrã táctil e a iluminação interior, embora a solução encontrada para esta última função deixe muito a desejar. Utilizo o primeiro modelo da Sony praticamente desde que foi lançado. Como disse então, está muito longe de ser um modelo perfeito, e chega a parecer que os seus criadores nunca leram um livro na vida — além de nem sequer se terem dado ao cuidado de copiar o que estava bem em modelos anteriores, como também disse na altura. Mas não tenho uma única razão para o trocar por qualquer um dos recentes modelos, muito menos o modelo da Amazon, e quando digo isto refiro-me, apenas, às funções essenciais, as que realmente podem fazer a diferença. Por mais interessantes que sejam as alterações introduzidas, só mudaram o visual. Passou a ser mais bonitinho, passou a ser mais levezinho, mas continua igualzinho no que interessa.

10 de fevereiro de 2009

DAS BOAS INTENÇÕES. Investigar a investigação ao «caso Freeport», para colocar a coisa de forma a que todos entendam, seria uma boa ideia. Digo «seria uma boa ideia» e não que é uma boa ideia porque falamos de Portugal, onde estas coisas costumam acabar em nada e coisa nenhuma. Pior: a investigação que agora se anuncia é bem capaz de se tornar em mais uma areia na já emperrada engrenagem. Resta saber se propositadamente.

9 de fevereiro de 2009

IMAGEM. O problema de Manuela Ferreira Leite não é a imagem, como diz Marcelo. O problema de Manuela começou por ser a forma como resolveu exercer o cargo para o qual foi eleita, e rapidamente evoluiu para a substância. Bem pode a líder social-democrata jurar que vai «ganhar ao Sócrates», como terá prometido a Jardim, e garantir que a história lhe dará razão, como fez hoje. A realidade é o que é, e a realidade demonstra que é praticamente impossível recuperar o tempo perdido a tempo das próximas eleições. Claro que também se dizia do outro que jamais chegaria a primeiro-ministro, e a história demonstrou precisamente o contrário. Além disso, aplicando a célebre teoria segundo a qual o treinador do Benfica, seja ele quem for, arrisca-se a ser campeão, quem dirige o PSD arrisca-se a ser primeiro-ministro. Até porque a turbulência que o «caso Freeport» tem vindo a gerar bem pode acabar por lhe pôr o menino nos braços.
ESTÃO VERDES, NÃO PRESTAM. Tomara você, meu caro Vasco, chegar-lhe aos calcanhares.
MAR ENCRESPADO. Está bem... façamos de conta

6 de fevereiro de 2009

ORDINARICE. Não sei se Manuel Alegre é «uma referência para o PS», como ele se intitulou. Mas não há dúvida de que, comparado com ele, Santos Silva é «um pigmeu», como também se intitulou, embora com ironia. Dizer que gosta de «malhar na direita», e com «especial prazer nesses sujeitos e sujeitas» que se dizem «de esquerda plebeia ou chique» mas que, segundo ele, são «as forças mais conservadoras e reaccionárias» que conhece, roça a ordinarice. Aliás, não é a primeira vez que o ministro dos Assuntos Parlamentares recorre à ordinarice para impor os seus pontos de vista, expediente largamente utilizado por quem não tem argumentos.

4 de fevereiro de 2009

A ESQUERDA. Mário Soares acha que o Fórum de Belém serviu para demonstrar que o «capitalismo financeiro-especulativo» morreu, e que morreu «em favor do socialismo». «Não, seguramente, o socialismo de tipo soviético», ressalva o ex-Presidente, e, muito menos, o chinês. Mas um socialismo que, segundo ele, «não ficou claro», pois o fórum brasileiro foi, essencialmente, «protestatório». Nada disto constitui novidade, evidentemente. Mas é bom que sejam figuras como Mário Soares a pintar o retrato da Esquerda que temos. E a Esquerda que temos serve, apenas, para fazer barulho, como acabamos de verificar. Quando se trata de apresentar alternativa, a Esquerda embrulha-se em abstracções que não sabe como concretizar, e se calha de chegar ao poder a primeira medida que toma é meter o socialismo na gaveta. Como já disse e repeti, a falência do actual modelo económico-financeiro pôs à vista, entre outras evidências, que não há modelo para lhe contrapor. O modelo que sairá do actual será, quando muito, uma versão melhorada do mesmo. Como também já disse e repeti, infelizmente. E não se trata, apenas, de uma opinião, no caso da minha opinião. É um facto.
SÓCRATES E OS MEDIA. Ao contrário do que já me acusaram, nunca tive especial vocação para remar contra a maré, mas também nunca gostei de consensos do género maria-vai-com-as-outras. Dito isto, o «caso Freeport» demonstrou, entre outras coisas, que é um exagero dizer-se que o Governo controla os media, como toda a gente diz, a começar por quem se esperaria um pouco mais de seriedade, ou que estivesse melhor informado. Dei conta das minhas dúvidas sobre esta matéria a propósito de outros episódios, mas o «caso Freeport» tornou o caso evidente. Bem sei que estou a defender o Governo, e também sei que defender o Governo não é politicamente correcto — ou traz água no bico. Mas os factos são, para mim, tão importantes como Maomé é para os muçulmanos. Goste-se deles, ou não.
VOTO DA EMIGRAÇÃO. O voto da emigração é uma questão que preocupa os partidos políticos, nomeadamente os partidos do arco do poder, por razões contabilísticas. Ao PSD interessa-lhe que tudo fique como está porque os resultados lhe têm sido favoráveis, ao PS interessa-lhe mudar as regras porque os resultados, tirando uma ocasião, lhe têm sido desfavoráveis. O resto é conversa fiada.

2 de fevereiro de 2009

A PROCISSÃO AINDA VAI NO ADRO. Não se devem tirar conclusões com base, apenas, em evidências, sobretudo quando se está diante um caso de enorme gravidade, e as evidências carecem de solidez. Mas como ignorar a demissão de um director da Judiciária que enquanto tal terá dado prioridade à investigação do «caso Freeport» (embora não se saiba se foi afastado por esse motivo), e o afastamento de dois técnicos cujos pareceres chumbariam o projecto de Alcochete caso fossem considerados? Como ignorar que a «campanha negra» de que Sócrates diz estar a ser vítima teve origem na Procuradoria-Geral da República (que reabriu o processo) e no departamento governamental britânico Serious Fraud Office (que colocou Sócrates numa lista de suspeitos)? Como fazer de conta que não existem factos (repito: factos) que ninguém contesta, sobre os quais se legitimam, naturalmente, especulações? É certo que ainda estamos na fase em que as perguntas são mais que as respostas, e provavelmente jamais sairemos dela. Mas se ainda é cedo para se tirarem conclusões, também é cedo para que se possa dizer que estamos diante uma invenção dos media destinada a atingir pessoal e politicamente o primeiro-ministro, como o próprio garante. O que parece certo é que o «caso Freeport» se transformou num «assunto de Estado», como disse o presidente da República, embora se duvide que o tenha dito com essa intenção. Queiramos ou não, quem olha para o primeiro-ministro neste preciso momento só vê uma coisa: o «caso Freeport», sobre o qual quer saber se é culpado, ou não.
DUPLO ASSALTO. Homejacking? Como não bastassem os assaltos às residências, resolveram assaltar a língua portuguesa. Haverá necessidade?