30 de maio de 2007

Segundo a Lusa, o acordo ortográfico entrou «tecnicamente em vigor» no Brasil, em Cabo Verde e em São Tomé e Príncipe há coisa de cinco meses — e ainda ninguém deu por isso. Considerando que estes países foram, até agora, os únicos a ratificar o acordo aprovado pelos chefes de Estado e de Governo da CPLP, a coisa promete. Promete, é claro, ficar em águas de bacalhau, o que sempre evitará ao Miguel Esteves Cardoso (lembram-se?) cumprir o que prometeu.

29 de maio de 2007

Vital Moreira decidiu dar lições de moral a propósito da Ota & Cia. Segundo ele, alguns jornais resolveram «afeiçoar os factos e as notícias à opinião assumida» sobre o novo aeroporto, e não deviam. «Invocar a favor de uma certa solução (...) factos comprovadamente contrários à realidade (...) ou veicular contra outra solução (...) notícias "tremendistas" carecidas de fundamento (...) significa sacrificar os factos à opinião e a objectividade noticiosa à tendenciosidade», acrescenta o professor. E diz mais: «se a opinião é livre, os factos devem ser sagrados e as notícias devem ser verídicas». Sucede que Vital Moreira se fartou de praticar o que agora condena aquando da invasão do Iraque e do conflito israelo-libanês (e continua a praticar sempre que opina sobre o conflito israelo-palestiniano), não tendo problemas em vender as suas opiniões como se de factos se tratasse. Mais: chegou ao cúmulo de fazer juízos de valor sobre acontecimentos que nunca se verificaram, sem que alguma vez se tenha penitenciado por isso. De maneira que, em questões de moral, estamos conversados. Mas Vital Moreira foi mais longe: demonstrou que não tem memória. Nem memória, nem vergonha.

28 de maio de 2007

António Barreto arrasou o PS do engenheiro Sócrates. Pior: arrasou-o com carradas de factos e de evidências, que são o que mais dói. Retive esta frase: «O ideário contemporâneo dos socialistas portugueses é mais silencioso do que a meditação budista.» Uma caricatura, naturalmente. No caso uma caricatura que peca por defeito.
Ficamos mais descansados por saber que a Espanha ainda não é um «lugar de penteados adoradores da alface e do adoçante».

25 de maio de 2007

Quando as notícias nos dão conta, com frequência inusitada, de casos como este, quem vive fora do país (o meu caso) só pode pensar o pior de Portugal. De facto, se as universidades portuguesas são frequentemente notícia pelos piores motivos, o que se há-de pensar do restante?
Exceptuando a parte que ao escritor diz respeito, eu podia ter escrito isto.

24 de maio de 2007

O candidato monárquico à Câmara de Lisboa, que assegura integrar «uma candidatura para ganhar» mas admite que «atingir a vereação seria excelente», promete, caso seja eleito, revista à portuguesa no Parque Mayer, um festival de fado, «uma Broadway nos Restauradores», transformar Monsanto numa espécie de Central Park e oferecer barcos à vela não sei bem a quem. Como se vê, ambição não lhe falta — e lata também não. O mais engraçado disto tudo é que há sempre eleitores dispostos a irem às urnas para votar nestes pândegos.

23 de maio de 2007

Tirou-me as palavras da boca.
«(...) intelligence as little to do with poetry. Poetry springs from something deeper: it’s beyond intelligence. It may not even be linked with wisdom. It’s a thing of its own; it has a nature of its own.» Jorge Luis Borges, The Paris Review (1967)

22 de maio de 2007

Vasco Pulido Valente, primeiro, e Francisco José Viegas, depois, disseram o que havia a dizer sobre o caso Charrua. De facto, mesmo não se sabendo com exactidão o teor do comentário do professor, a decisão de o suspender e de lhe instaurar um processo por ter dito algo pouco abonatório do carácter do primeiro-ministro tresanda a intolerância — e abre um precedente grave. Mas a questão levanta uma outra: a questão da licenciatura do primeiro-ministro, que tantos pretendem silenciar. Como acabamos de verificar, o caso está longe de estar encerrado. Pior: continua a irritar muita gente, e agora até parece que se pretende punir quem se atreve a falar dele.

18 de maio de 2007

Ouvidas as três últimas entrevistas de Pedro Rolo Duarte no programa Janela Indiscreta, verifico que o jornalista continua a insistir na ideia de que a blogosfera é coisa má. Diz que há excepções, muitas excepções, mas lá vem o mas não assumido mas perfeitamente visível. Isto apesar de todos os entrevistados dizerem, sobre o assunto, o que é óbvio a qualquer blogger ou frequentador da blogosfera: há bons e maus blogues, há blogues credíveis e outros não. É o que acontece quando se tem uma ideia pré-concebida: nem os factos que a desmentem chegam para a mudar.

16 de maio de 2007

Ana Gomes insinuou que José Lello faz contabilidade criativa, e que a criação de vice-consulados é uma «golpaça para meter jagunços». Tudo isto a propósito da indigitação, pelo Governo, de um cônsul honorário no Brasil recentemente detido pela polícia local sob a acusação de envolvimento no jogo ilegal e de corromper magistrados. O problema é que as acusações da eurodeputada soam mais a ressentimento que a outra coisa, como o silêncio generalizado da classe política deixa antever. Pior: Ana Gomes ficou-se por insinuações mais ou menos grosseiras, nada revelando de concreto. Para uma deputada eleita com a finalidade de tratar desses e doutros assuntos, o mínimo que se pode dizer é que a senhora fez pouco e mal.

14 de maio de 2007

Por melhor que seja a intenção, recompensar com uns milhões quem revelar o paradeiro da pequena Madeleine — ou quem der pistas que conduzam ao paradeiro da criança — chega a ser obsceno. Aliás, quem se lembra de alguém receber uma recompensa do género por revelar o paradeiro de alguém?

11 de maio de 2007

Dificilmente algo justifica os distúrbios como os que ocorreram em França, mas registarem-se pelo facto de alguém ter sido eleito democraticamente (repito: democraticamente) e sem a mais leve dúvida, é intolerável. Fazia bem a esquerda em condenar os distúrbios de forma clara e inequívoca em vez de optar pela cartilha politicamente correcta (e irresponsável) do costume.
Graças à revista Sábado, acaba de me chegar às mãos Avenida Paulista, de João Pereira Coutinho, uma compilação de crónicas por ele publicadas nas edições impressa e on-line da Folha de S. Paulo. Devo dizer que li todas as crónicas publicadas na edição on-line (de borla), e nem uma publicada na edição impressa (a pagantes). Mesmo assim, é com prazer que vou reler as primeiras, e com prazer redobrado que vou ler as segundas. Depois de uma colecção que não lembra ao diabo, e que mereceu um protesto neste post, a Sábado acertou em cheio na meia dúzia de livros que decidiu distribuir com a revista.

9 de maio de 2007

Não sei se a imprensa britânica tem razões para acusar a Judiciária de incompetência no caso Madeleine, mas é inegável que há indícios de que as coisas não estiveram bem — e, presume-se, continuam a não estar. Como dá conta esta notícia, há críticas das próprias polícias. Aliás, quem já não viu este filme?
Só agora descobri este artigo, mas não perdeu actualidade. Começa assim: «Remember when the Right had a near-monopoly on censorship? If so, you must be in your sixties, or older. Now the champions of censorship are mostly on the left.»

8 de maio de 2007

Os desacatos em várias cidades francesas após a eleição de Nicolas Sarkozy não podem deixar de ser vistos com preocupação. Não, apenas, os desacatos em si (a violência, a destruição de bens, eventuais mortos e feridos), mas porque se pode instalar a ideia de que a vitória (ou a derrota) de determinado candidato (ou partido político) pode acabar em sarilhos e, por esse motivo, levar o eleitorado a não votar em quem acha que deve votar por medo de actos violentos.

7 de maio de 2007

Ele é a miséria na América, ele é a direita que é a favor da guerra e a esquerda não, ele é o populismo da América Latina que se deve a Bush, ele é a violência em França a que se deve responder com compreensão. Como não bastassem as ideias-feitas do costume (que não dizem nada nem levam a lado algum) e a leviandade com que fala de assuntos de que não sabe o mínimo (reduzindo a zero a posição que sobre eles tem), chega a meter dó a convicção com que Mário Soares defende os maiores disparates.
Confesso que me surpreendeu a inexistência de qualquer comentário ao facto de Segolène Royal ter dito, a semana passada, que a vitória de Sarkozy poderia gerar uma onda de violência. É que o comentário pareceu-me longe de constituir uma advertência: pareceu-me, pelo contrário, uma clara chantagem ao eleitorado, além de uma irresponsabilidade a que o considerável aumento de violência registado em França no último fim-de-semana pode não estar alheio.

3 de maio de 2007

Tirando o próprio e meia dúzia de apoiantes, não se percebe a decisão de Carmona Rodrigues em manter-se na Câmara de Lisboa. Bem pode pregar aos quatro ventos que não está agarrado ao poder que a decisão que tomou só tem essa leitura. Não foi apoiado como devia pelo partido a que pertence? Não será o primeiro a abandonar o barco nem permitirá que o atirem borda fora? Sente-se ferido na sua honra e está de consciência tranquila? Tudo muito comovente, mas nenhuma destas razões justifica a continuidade à frente da autarquia. Aliás, qualquer cidadão minimamente informado há muito percebeu que só resta um caminho ao autarca: demitir-se, e deixar espaço para que outro ocupe o seu lugar. Seria essa a conclusão a que chegaria caso esquecesse um minuto a sua pessoa e pensasse outro tanto no cargo que ocupa.
Fez bem o líder do PSD em repetir o que tinha dito acerca da licenciatura do primeiro-ministro. «Uma pessoa que usa títulos que não tem e se arroga ser o que não é tem falta de carácter», disse Marques Mendes à RTP. Pena é que, sobre este assunto, o líder social-democrata esteja praticamente sozinho a dizer o que é preciso ser dito e repetido.

1 de maio de 2007

A notícia de que o neto de Isabel II pode ir para o Iraque demonstra que a coisa começou mal e pode acabar pior. Realmente parece que só faltou ao exército britânico divulgar a matrícula do veículo que Harry irá tripular, como acusou uma fonte citada pelo DN, tantos foram os detalhes incompreensivelmente divulgados sobre a missão do ilustre soldado. Depois, com ameaças ou não, é por demais evidente que a real criatura se torna, no Iraque, num alvo apetecível. Enviar forças especiais para a zona de operações com o objectivo de proteger o filho do príncipe herdeiro, como o Observer garante ter-se verificado, é uma medida que não se percebe e de eficácia duvidosa — além de ser difícil de digerir. Pior: por muito boa vontade que haja, a coisa soa ridícula. De facto, nem o sonho mais delirante ou o surrealista mais empedernido seria capaz de imaginar um soldado na frente de batalha protegido por forças especiais. Espera-se, portanto, que haja bom senso. E bom senso, num caso destes, passará por impedir o príncipe de viajar para o Iraque. Não apenas por causa da segurança própria e de quem o rodeia, mas porque tudo leva a crer que a medida será a que melhor serve os interesses britânicos. E os interesses britânicos, recorde-se, são os que o príncipe diz defender quando faz questão de ir para o Iraque.