30 de junho de 2006

Quem me lê com regularidade sabe que me fartei de criticar Freitas do Amaral enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros. Por razões que não vale a pena repetir, e que ainda hoje voltaria a invocar caso fosse necessário. Mas congratular-me com a demissão de Freitas do Amaral quando é público que ele se demitiu por razões de saúde, como fez o Conselho das Comunidades Portuguesas, é puro mau gosto. Aliás, as razões do Conselho das Comunidades Portuguesas para se regozijar com a demissão de Freitas do Amaral estão longe de reflectir o que os portugueses residentes no estrangeiro pensam do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, mas isso é um assunto para abordar noutra ocasião.

29 de junho de 2006

Fui dos poucos que defendeu Luiz Felipe Scolari quando o seleccionador anunciou os eleitos para o Mundial. E defendi por uma razão muito simples: Scolari já tinha demonstrado resultados ao serviço de Portugal, e são os resultados que contam. Isto não significa que o treinador brasileiro esteja acima de críticas, e eu também tenho as minhas dúvidas. Mas farto-me de rir com as mudanças de campo de alguns comentadores, certamente porque as coisas estão a correr melhor do que esperavam e não quererem ficar mal no retrato. Não que não seja normal e legítimo mudar de ideias, mas porque o fazem como se nunca tivessem pensado de outra maneira ou criticado o seleccionador pelas mesmas razões que agora o aplaudem. Claro que, se perdermos o próximo jogo, tudo volta ao início, pois esta gente não tem memória. Nem memória, nem vergonha.

28 de junho de 2006

O presidente da Câmara de Viseu e da Associação Nacional de Municípios Portugueses resolveu incitar a população local a «correr à pedrada» os fiscais do Ministério do Ambiente, porque os ditos fiscais terão multado um autarca e nada terão feito contra uma obra clandestina. Para que não restassem dúvidas, o ilustre presidente acrescentou: «estou a medir muito bem aquilo que digo». Horas depois, Fernando Ruas veio dizer que «estava a falar em sentido figurado», que as suas palavras «não deveriam ter tido uma interpretação literal», que teria «sugerido outros métodos mais eficazes do que a pedra» caso estivesse a falar a sério. Desconheço o que os munícipes locais ficaram a pensar de tão interessante episódio, mas eu ficaria de pé atrás caso o sr. presidente decida apresentar-se como um homem sério ou um político responsável. É que bem pode dar-se o caso de estar a falar em sentido figurado.
É impressão minha, ou Vasco Graça Moura defende a chapada como forma de impor a disciplina nas salas de aula?
A entrevista de Francisco José Viegas à Visão também pode ser lida aqui.

26 de junho de 2006

Se Portugal vencer a Inglaterra e o Brasil continuar a jogar como jogou frente ao Japão, há fortes probabilidades de haver um Portugal-Brasil. Posso estar enganado, mas cheira-me a problemas por estes lados caso isso suceda. É que vivem aqui milhares de portugueses e brasileiros que se odeiam mais do que deviam, e não vai ser preciso um décimo dos «casos» como os ocorridos no jogo com a Holanda para incendiar os ânimos. Aliás, o recente episódio na Madeira, onde as autoridades locais obrigaram um cidadão a retirar uma bandeira brasileira do exterior de uma residência alegadamente por as dimensões da dita excederem as dimensões da bandeira portuguesa (parece que a lei portuguesa obriga que uma bandeira de outro país só pode ser desfraldada juntamente com a nossa e não pode exceder as medidas da portuguesa), é um sinal de que as coisas podem não correr como se esperaria que corressem numa disputa entre «irmãos». Mas pode ser que eu me engane, que o cenário não se concretize. Mas, se acontecer, ao menos que deixe a descoberto uma evidência que fingimos não ver.

23 de junho de 2006

Está visto que pouco mais há para falar nesta altura que não seja sobre futebol. Não que não haja assuntos além do futebol, mas porque ninguém quer saber de outra coisa que não seja o futebol e o futuro da Pátria no Mundial. Mário Bettencourt Resendes queixou-se, no DN, que tem feito «um esforço empenhado» para não falar do Mundial. Compreende-se. De facto, quem não está interessado em falar de futebol não tem assunto — ou não tem assunto que interesse ao comum dos mortais. É verdade que há sempre a possibilidade de se escrever sobre a falta de assunto, e eu até já li textos brilhantes sobre a falta de assunto. Mas isso é um exercício que não está ao alcance de todos, que só resulta pela mão dos melhores. Assim sendo, e como diria o Mário Prata, resta «encher linguiça». É o que têm andado a fazer os nossos cronistas que não falam de futebol.

20 de junho de 2006

O Mundial de Futebol começa a cansar-me, mas devo dizer que já não aguento atitudes anti-futebol e anti-bandeiras. Qual é o problema de as pessoas gostarem de futebol? Que mal tem que os portugueses se marimbem para os problemas da Pátria durante um mês inteiro? E qual é o problema com as bandeiras nacionais? Que mal tem que os portugueses coloquem bandeiras nas janelas e gritem o nome de Portugal? Por que será que tudo isto incomoda tanta gente? Confesso que já ouvi inúmeras explicações, mas ainda nenhuma me convenceu. Luciano Amaral dizia, no DN, que há um «moralista antifutebol» que nestas alturas «se desenvolve com toda a ferocidade». Não podia estar mais de acordo. Ainda por cima um moralismo que deixa muito a desejar e que tantas vezes soa a falso.
A ideia da BBC — transmitir jogos de futebol em directo apenas com os ruídos provenientes do estádio — parece-me excelente. De facto, já não há pachorra para comentadores da bola que repetem lugares-comuns a toda a hora, anos a fio. Pior só as declarações dos protagonistas da bola antes e depois dos jogos, mas essas são mais fáceis de evitar.

15 de junho de 2006

Daniel Oliveira chama a isto «o sabor da liberdade». Eu chamo-lhe uma palermice sem nome, uma provocação gratuita, uma coisa de adolescentes. Digo mais: não vejo qualquer diferença entre a atitude de Daniel Oliveira e a do cavalheiro que ainda há pouco foi insultado por toda a gente por aquilo que ameaçou fazer. Aliás, é por causa de coisas destas que existem PNRs e gente como Mário Machado.

14 de junho de 2006

Em declarações a propósito do lançamento de uma antologia de crónicas publicadas na Sábado e no Correio da Manhã (Selecção Nacional: Crónicas 1999-2006), Alberto Gonçalves revelou que Vasco Pulido Valente, Miguel Esteves Cardoso, João Pereira Coutinho e Ferreira Fernandes são, na sua opinião, os melhores cronistas portugueses no activo. Devo dizer que concordo inteiramente com as escolhas, mas acrescentaria mais dois nomes: o próprio Alberto Gonçalves, e António Sousa Homem. Pelas mesmas razões (a excelência da escrita) que levaram Alberto Gonçalves a escolher estes nomes e não outros.

12 de junho de 2006

Portugal venceu Angola e entrou da melhor forma no Mundial. Tirando isso, que não foi pouco, o resultado esteve aquém do que seria de esperar, e a exibição foi miserável. Os jogadores portugueses passaram a vida a reclamar, a fazer malabarismos desnecessários e inconsequentes, à espera que o tempo passasse. Valeu-nos que os angolanos não souberam aproveitar, e um árbitro generoso na marcação de faltas a nosso favor. Os assobios que se ouviram nas bancadas que sirvam, ao menos, para que os nossos artistas expulsem o rei da barriga, e arregacem as mangas na hora da refrega. É que, assim, a jogar como jogamos contra Angola, não vamos lá, e Portugal tem capacidade para fazer melhor. Dizem os optimistas que, comparando com as misérias alheias, a prestação portuguesa até nem foi má de todo. Pois seja, mas eu preferia que nos comparássemos aos melhores e não aos piores. Até porque as misérias dos outros não desculpam (ou justificam) as nossas. Dir-me-ão que o importante é ganhar, mesmo à tangente e com o credo na boca, e o resto é secundário. De acordo. Mas, reparem, eu não peço que sejamos brilhantes. Peço, apenas, que não nos façam passar por vergonhas, muito menos vergonhas perfeitamente escusadas.

9 de junho de 2006

De facto, há formas mais sofisticadas de atrair leitores e de fazer mexer o Sitemeter. Esta, por exemplo, é uma delas. Mas o que eu gostaria realmente de saber é qual é o problema de haver «bloguezitos» que pretendem atrair mais leitores à custa de «palmadinhas nas costas» (reais ou hipotéticas) nos blogues que têm mais notoriedade. Acaso o João Morgado Fernandes não fará os possíveis (dentro de certos limites, é claro) para que o jornal de que é um dos responsáveis conquiste mais alguns leitores? Acaso o João Morgado Fernandes não gosta de ser lido? Qual é, afinal, o problema do João Morgado Fernandes?

8 de junho de 2006

A prisão de Mário Machado terá abortado - ou comprometido seriamente - uma grande operação montada pela Judiciária com o objectivo de chegar ao «coração» dos movimentos de extrema-direita, diz o DN. Tudo, segundo o director da Judiciária ao mesmo DN, porque a polícia que dirige não teve conhecimento prévio da operação levada a cabo pela PSP, o que reflecte «uma preocupante falta de coordenação». Ora, a ser verdade o que ele diz (e não há razões para suspeitar que não seja), mais uma vez se demonstra que todas as críticas que se fazem à máquina da Justiça pecam por defeito, pois não há operação (julgamento, etc.) que envolva algo (ou alguém) importante que não tenha a sua trapalhada. Isto, claro, partindo do princípio que é de trapalhadas que se trata.
«Os deputados são preguiçosos, incultos e eleitos de forma errada», disse Maria Filomena Mónica ao DN a propósito do lançamento do terceiro volume do Dicionário Biográfico Parlamentar. Não desmerecendo o trabalho da investigadora, eu era capaz de jurar que isto é detectável a olho nu. Ainda mais: também me parece detectável a olho nu o facto de haver deputados que «raramente abrem a boca», embora isso me pareça uma bênção e não um defeito.
Este primeiro parágrafo de uma notícia da Lusa diz tudo: «O responsável máximo das Casas do Gaiato, padre Acílio Fernandes, deu hoje uma bofetada a uma criança de cinco anos enquanto desmentia à Lusa os maus-tratos na instituição que constam de uma acusação do Ministério Público.»

7 de junho de 2006

Como já disse aqui e aqui, Longe de Manaus foi dos poucos livros que li de uma vez só e dos melhores que li em 2005. Mesmo não conhecendo as obras concorrentes ao Prémio de Romance e Novela da APE (90, ao que dizem), arrisco dizer que está muito bem entregue.

5 de junho de 2006

Não estou bem dentro do processo que opõe o Ministério da Educação aos professores, ou aos sindicatos dos professores, mas há coisas que saltam à vista de qualquer leigo. Por exemplo, que credibilidade terá um sistema de avaliação de professores que não detecta um único desempenho negativo? Será que a classe dos professores não alberga maus profissionais? Se os professores estão realmente preocupados com a imagem injusta de que se dizem vítimas, que tal começarem por contestar o sistema que não distingue a competência da mediocridade, os bons dos maus profissionais? Sim, porque o sistema que existe não premeia quem merece, e certamente que os que mais reclamam contra o actual estado de coisas são os mais competentes — e os que mais merecem. Ninguém no seu perfeito juízo acha que os problemas do ensino (ou do insucesso escolar) se devem aos professores, mas a verdade é que os problemas do ensino também se devem aos professores. Melhor: ao sistema que regula a actividade docente no ensino público. Ao sistema que, vale a pena lembrar, só parece incomodar os professores quando alguém o pretende alterar. Digo parece porque é essa a imagem que dão, embora se espere que as coisas não sejam o que parecem.
Já foi publicada há uns dias, mas vale a pena ler a entrevista de Mahmoud Ahmadinejad à Der Spiegel.

2 de junho de 2006

A ministra da Cultura acha que ler «é um direito fundamental de uma sociedade democrática» e não apenas uma actividade «para eleitos». Isabel Pires de Lima pretendeu, assim, contrariar as recentes declarações de José Saramago — para quem «ler sempre foi e sempre será coisa de uma minoria» — e Vasco Pulido Valente — que rejeitou integrar a Comissão de Honra do Plano Nacional de Leitura alegando que «a carta e a "síntese do Plano"» estavam escritas «num português macarrónico e analfabeto», que «nunca se leu tanto em Portugal», que «um hiper-mercado (...) promove a leitura mais do que qualquer imaginável intervenção do Estado», que «não cabe ao Estado orientar o gosto do bom povo», que o Plano «não passa de uma fantasia para uns tantos funcionários justificarem a sua injustificável existência e espatifarem milhões». Acontece que os argumentos da ministra não passaram de lugares-comuns, e não contrariaram em nada os argumentos de quem acha que o Plano é inútil. Aliás, nem seria de esperar que contrariassem, pois não se vê como o Plano Nacional de Leitura possa alcançar o que pretende. Mas já me espanta que haja tantos «notáveis» dispostos a dar a cara pelo projecto, em que presumo que acreditam. Digo presumo porque José Saramago faz parte da dita comissão apesar de achar que aquilo não serve para coisa nenhuma.