28 de setembro de 2013

PEQUENA CONTRIBUIÇÃO PARA AS AUTÁRQUICAS. Calhou-me ser visitado pelo candidato a presidente da junta de uma determinada freguesia e respectiva equipa. Conhecedores da visita, alguém da família resolveu improvisar uma dúzia de sugestões, cada uma mais estapafúrdia que a outra — substituir os transportes públicos locais pelo TGV, instalar uma piscina olímpica onde se encontra uma unidade industrial desactivada, e mais disparates do género. A graça (ou tragédia, para quem leva estas coisas mais a peito) foi quando o candidato a vice-presidente leu as sugestões e começou a levar aquilo a sério, a ponto de comentar que havia ali matéria a considerar. Foi preciso alguém tirar-lhe o papel das mãos e dizer-lhe que era brincadeira para que o sujeito não passasse por um vexame ainda maior, embora já não se livrasse da risota geral. Gostaria de acreditar que isto não é a regra, mas a verdade é que são muitíssimos os casos como este e demasiados os casos ainda piores. Como não votarei nas Autárquicas (resido no estrangeiro), e porque dificilmente me afectará a vitória do candidato A ou a derrota do partido B, o resultado de domingo não me ralará por aí além. Mas gostaria, como português, que ganhassem os melhores, não sendo possível os menos maus. Por aquilo que se conhece, e pelo resto que se imagina, não vai ser fácil.

17 de setembro de 2013

RATAZANAS. Ficou claro desde o início que Maria Luís Albuquerque não tinha condições para exercer o cargo de ministra das Finanças. Por razões amplamente conhecidas, que por isso me dispenso de repetir. Assim não entendeu o primeiro-ministro, e a oposição na altura limitou-se a um pequeno burburinho logo seguido de um silêncio ruidoso. Ontem surgiram mais notícias, até ver toscamente desmentidas, de que Maria Luís Albuquerque teve novas «falhas de memória». O maior partido da oposição volta a exigir a demissão da ministra, a dizer que «não tem condições» para se manter no cargo, mas o destino da ministra parece traçado: três dias de escandaleira, e assunto encerrado. Ao quarto dia tudo voltará a ser como dantes, quartel-general em Abrantes. Como antecipadamente garante Marco António, porta-voz do PSD, «a montanha pariu um rato».

12 de setembro de 2013

PENSAMENTO DE BARBEARIA. Só agora me ocorre que, tirando Kim Jong-un, grande líder da Coreia do Norte, não me lembro de um único ditador que não use — ou tenha usado — bigode. O lembrete veio a propósito do barbeiro que tratou do cabelo que ainda me resta, um brasileiro de Minas Gerais, a quem pedi que me «acertasse» o bigode e a propósito do qual teceu considerações que muito o divertiram, mas cujo alcance não vislumbrei. A ver se medito no assunto nas férias que aí vêm, nos intervalos de umas barrigadas de figos e doutros espécimes que as autoridades alimentares e sanitárias, certamente na esperança de me salvarem não sei bem de quê (se calhar nem eles), desaconselham, e por isso me hão-de saber ainda melhor. Prometo regressar mal tenha o caso resolvido, mas dada a complexidade do assunto calculo que só daqui a duas ou três semanas voltarei com a regularidade habitual. Até lá, é possível que uma indigestão ou outra me leve a fazer um post de vez em quando, que mesmo não sendo uma prática recomendada pelas autoridades por vezes é remédio santo.

10 de setembro de 2013

VEM AÍ O JOGO DO GATO E DO RATO. Até ver, a eventual transferência do arsenal químico em poder do governo sírio para as mãos de uma entidade internacional, e posterior destruição, é uma boa notícia. Boa notícia porque assim se evitará, para já, uma intervenção militar de consequências imprevisíveis, e porque todas as partes parecem sair a ganhar — os Estados Unidos, que se podem gabar de ter forçado um acordo substancial, a Rússia, que se pode vangloriar de ter alcançado o que parece uma boa solução, o próprio governo sírio, que não perde inteiramente a face. Dito isto, tenho dúvidas como isso se fará. Tenho dúvidas que o governo sírio cumpra o acordo que se anuncia, e que os previsíveis obstáculos que virão a seguir (haverá sempre dúvidas que será entregue todo o arsenal, que os inspectores da força internacional sejam isentos, obstáculos de toda a ordem e espécie a dificultar a missão) tornem, a prazo, uma intervenção militar mais robusta e perigosa. Oxalá me engane, mas o que agora se anuncia como uma boa saída tem fortes probabilidades de se tornar, a prazo, numa entrada no Inferno.
AS BANANAS DEVEM ESTAR A CHEGAR. Residente da República

5 de setembro de 2013

O REGRESSO DOS DINOSSAUROS. Como se previa, o Tribunal Constitucional (TC) autorizou as candidaturas dos «dinossauros». A decisão será inatacável do ponto de vista jurídico-constitucional, mas como alertei desde a primeira hora incompreensível ao comum dos mortais. Vale a pena lembrar que a autorização hoje concedida pelo TC só foi possível graças a uma lei feita com os pés e aprovada por um bando de irresponsáveis, os senhores deputados, que perante a evidência do erro nem sequer se deram ao cuidado de o emendar (preferiram entupir os tribunais, como se os tribunais já não estivessem entupidos que chegasse). Uma lei, nunca é demais repetir, que toda a gente percebeu, desde o início, em que sentido ia, excepto os politiqueiros que temos. Sugiro, portanto, aos eleitores o que sugeri desde a primeira hora, neste momento a única arma que lhes resta: caso apanhem pela frente os «dinossauros» que só a «engenharia política» tornou possível que voltassem a candidatar-se após três mandatos consecutivos, respondam-lhes com um Zé Povinho.

4 de setembro de 2013

QUANDO TUDO ESTÁ MAL, NEM TUDO ESTARÁ MAL. Definitivamente que nada está bem para os professores do ensino público, provisórios e definitivos. Agora é o dirigente de uma associação que exige saber «quantos professores do quadro vão leccionar (...) disciplinas que não correspondem aos grupos para os quais foram recrutados». «Um professor que ensina Informática ou Economia há 20 anos» estará habilitado a dar Matemática?», pergunta o dirigente. E prossegue com perguntas do género, questionando, pela enésima vez, a política educativa do enésimo governo. Imaginam os professores do ensino privado a questionar as decisões de quem os contratou? Com certeza que não imaginam. Porque os professores do ensino público e privado são contratados para ensinar, não para impor as regras. Percebe-se que os professores com vínculo precário ao Estado se preocupem com a eminência do desemprego, que se imagina dramático. Mas daí até quererem impor aos governos a cartilha educativa e determinar as regras das suas próprias funções, vai um abismo. Mal ou bem, os governos exercem funções para os quais foram eleitos. Já os professores não têm legitimidade para isso.
MAIS IMPROVISOS, MENOS TELEPONTOS. O João Miguel Tavares (JMT) começa assim mais uma excelente crónica no Público de ontem: «Eu aconselhava piedosamente o primeiro-ministro a fixar a frase "nunca mais vou voltar a falar de improviso sobre assuntos importantes", e de seguida a repeti-la 100 vezes em voz alta, de preferência na companhia de todos os assessores. Assim, da próxima vez que tivesse a tentação de subir a um palanque sem papéis nem teleponto, alguém o poderia amordaçar por caridade, para evitar que proferisse as bajoujices do último fim-de-semana.» Pois eu defendo precisamente o contrário, pelas razões que o próprio JMT enumerou. O improviso e a falta de teleponto têm a virtude de nos mostrar o que os governantes têm dentro, a sua verdadeira pele, a massa de que são feitos. Pela sucessão de disparates que aponta ao primeiro-ministro, cada um pior que o outro, evidentemente que o rei vai nu. E isso, não sendo motivo de festejos, é bom que se saiba.

3 de setembro de 2013

LAWRENCE DURRELL. Graças ao e-book que reúne os quatro volumes, completei, finalmente, o Quarteto de Alexandria. Há muito que um livro não me dava o gozo que me deu Clea, o último da série, onde se lêem passagens de uma beleza surpreendente.