29 de abril de 2011

O DESESPERO É MAU CONSELHEIRO. Passos Coelho é um homem apaixonado que gostava de ter mais filhos. Tem quatro cadelas, não é forreta, canta opereta e é brincalhão. Sabe fazer farófias, papos de anjo e queijadas. Eis, em resumo, o que Passos Coelho contou à imprensa do coração, procurando demonstrar aos eleitores que ele é, afinal, um homem igual aos outros. Fez bem? Fez mal? Para mim, o episódio ilustra bem o desespero do líder laranja com o que prevêem as sondagens para as legislativas — que o PSD, face ao descalabro de Sócrates e do seu Governo, tem obrigação de ganhar por margem folgada, para não dizer maioria absoluta. Se o expediente lhe vai render votos, duvido. Há, porém, uma coisa de que não duvido: uma vez aberta a porta de casa à imprensa do coração, jamais se fechará. Os media passaram a ter legitimidade para lhe vasculhar a privacidade, e é sabido que expor a intimidade que nos convém é um convite a que exponham o que não nos convém.
E QUE BEM PRECISA QUE ELA É. Maior estação de tratamento de esgotos do país já está em funcionamento
COISAS EVIDENTES. Entre o PS e o PSD, não se vislumbra uma ideia de fundo, quanto mais um projecto alternativo.

27 de abril de 2011

READ MY LIPS. O tempo dirá se Passos Coelho fará, ou não, acordos com o PS de Sócrates, que o líder social-democrata há muito nos habituou a dar um passo em frente e dois à rectaguarda. Considero, aliás, uma irresponsabilidade dizer, no actual contexto de crise, não estar disposto a fazer qualquer acordo com o principal líder da oposição. Já disse e repeti que o PS de Sócrates não vale uma missa, mas o PSD de Passos Coelho é de bradar aos céus.
PORTUGAL DE FACHADA. É preciso dar uma imagem de responsabilidade e demonstrar aos cavalheiros que nos vão emprestar o dinheiro que somos pessoas sérias e competentes, diz-se em uníssono. Temos, portanto, que é preciso fazermos de conta que somos credíveis, responsáveis, competentes. E eu a julgar que precisamos de ser mesmo sérios, mesmo responsáveis, mesmo competentes.
RENTES DE CARVALHO, DE NOVO. Depois da entrevista esquecível, uma entrevista que dá gozo ouvir.

25 de abril de 2011

25 ABRIL. O 25 de Abril pôs fim a uma ditadura. Razão, portanto, para o assinalar, que a queda de uma ditadura merece ser assinalada. Apesar de todos os defeitos e de ter levado o país à situação em que se encontra, o regime que daí resultou é infinitamente melhor que a mais leve das ditaduras. Duvido de muita coisa, mas nunca duvidei disto.
ERROS DE PALMATÓRIA. Passaram dois dias sobre a publicação da notícia e o DN insiste no «bem-intensionado».

22 de abril de 2011

RENTES DE CARVALHO. A entrevista chega, de facto, a ser enervante, como aqui foi dito. Mas o entrevistado, J. Rentes de Carvalho, que leio desde os tempos da Periférica e agora sigo no Tempo Contado, é um senhor. É o maior escritor português vivo? Não li um único dos seus romances (só há pouco se tornou possível adquiri-los graças à reedição da Quetzal e fora de Portugal é quase impossível encontrá-los), e mesmo que tivesse lido provavelmente não saberia responder. Gabo-me, no entanto, de ter sido dos primeiros bloggers a chamar a atenção para a excelência da prosa de Rentes de Carvalho, que em boa hora o Francisco reeditou.

21 de abril de 2011

COISAS EXTRAORDINÁRIAS. Manuela Ferreira Leite, António Capucho, Mota Amaral, Pedro Santana Lopes, Morais Sarmento, Leonor Beleza, Marques Mendes, Luís Filipe Menezes, Pacheco Pereira. O que há de comum entre estas pessoas? A resposta é conhecida: são ilustres militantes do PSD que, por uma razão ou por outra, não integram as listas sociais-democratas às próximas legislativas. Para um partido que se prepara para ser Governo (tudo assim o indica), para um líder (Passos Coelho) que foi eleito com a esmagadora maioria de votos, não deixa de ser extraordinário.
CAVACO E O FACEBOOK. Não sei se o silêncio do Presidente da República começa a ser excessivo, como alguns acham, e não me espantaria que Cavaco se queira abrigar o mais possível da tempestade que por aí vai. Mas há uma coisa que não compreendo: o presidente acha mesmo que o Facebook é o meio mais adequado para falar com os portugueses?

19 de abril de 2011

CRUEL DILEMA. «O que fazer quando nos obrigam a escolher entre Sócrates e Passos Coelho para primeiro-ministro? O que fazer quando nos querem obrigar a escolher entre um Governo de bananas liderados por um aldrabão ou um governo de aldrabões liderados por um banana? O que fazer quando nos obrigam a escolher entre a forca e a guilhotina?» José Vítor Malheiros, Público de hoje

18 de abril de 2011

NOBRE, MAS POUCO. Um homem que promete renunciar «imediatamente ao cargo» de deputado caso não seja eleito presidente da Assembleia da República (entrevista ao Expresso) e dois dias depois diz que ajuizará na altura «o lugar mais adequado» caso isso suceda (entrevista à RTP) não pode, evidentemente, ser levado a sério, embora a promessa feita há um mês de jamais aceitar um cargo partidário e de num curto espaço de tempo ter apoiado o Bloco e o PS ilustrem bem a massa de que é feito. Fernando Nobre ainda não entrou na política a sério, e já tem o que nela há de pior. Bem pode o PSD dizer que houve «unanimidade» na constituição das listas que não esconde o óbvio: o convite a Fernando Nobre foi um erro, e um duplo erro nos termos em que foi feito.
TIRO PELA CULATRA. A pretexto de trazer independentes para a política, o PSD convidou Fernando Nobre a integrar as listas sociais-democratas porque entendeu que Fernando Nobre lhe trará mais alguns votos (não esquecer que Nobre teve quase 600 mil votos nas presidenciais). Se dúvidas há que isso aconteça (é mais ou menos consensual que os votos não são transferíveis), pelo rumo que as coisas estão a levar ainda lhe vai subtrair alguns votos. A ver vamos o que vai suceder, mas tudo indica que os embaraços que Nobre há-de causar ao PSD ainda estão no início. Como diz o outro, cada um tem o que merece.

15 de abril de 2011

DA CEGUEIRA. Que importância terá o facto de a TVI proibir a difusão da gafe de Sócrates em São Bento? O episódio demonstra excesso de preocupação do primeiro-ministro com a imagem? Provavelmente. Mas, a ser assim, vale tudo, e quando mais embaraçosas forem as imagens, melhor ficamos a conhecer quem nos governa. Percebe-se que as TVs tenham posto no ar as imagens por acidente, mas já não se percebe que se queira passar por notícia o que não é notícia. Só mesmo na cabecinha de Manuela Moura Guedes, que tem um conceito de jornalismo muito peculiar, e contas a ajustar com meio mundo.
HUMOR INVOLUNTÁRIO. A notícia que nos dá conta do negócio entre a Sonae e a filha do presidente Eduardo dos Santos, que visa instalar uma rede de hipermercados em Angola, tem um detalhe que é uma delícia: «A parceria está sujeita à apreciação final das autoridades angolanas.»
BEM PREGA FREI TOMÁS. El eurodiputado que desató la guerra contra la clase business, cazado volando en primera

13 de abril de 2011

DE MAL A PIOR. Passos Coelho admite governar com o PS mas sem Sócrates? Confesso que este PSD não pára de me surpreender. Desconhecerá o líder social-democrata que Sócrates acaba de ser reeleito, quase por unanimidade? Que o PS fez um congresso onde Sócrates foi praticamente entronizado? Não será isto evidência bastante para o líder social-democrata perceber que a haver negócio com o PS passará, inevitavelmente, por Sócrates? Ou estará ele à espera que o PS, sabe-se lá com que artimanha, afaste Sócrates e lhe apresente um interlocutor à sua medida? Quando é que Passos Coelho acerta uma?

11 de abril de 2011

FERNANDO NOBRE (3). Convém lembrar que o senhor que ainda há um mês garantia não aceitar lugares partidários, como as televisões largamente vêm relembrando, acha que os membros do Hamas não são terroristas mas «resistentes», como se pode ver aqui. Um pequeno detalhe, bem sei, mas que é todo um programa.
FERNANDO NOBRE (2). A decisão de encerrar a página do Facebook, onde estavam a ser colocadas mensagens de desagrado com a decisão de se candidatar nas listas do PSD, aparentemente por quem votou nele nas presidenciais, é mesmo o que parece: Nobre convive mal com a crítica, para não dizer com a democracia. A explicação do ex-director de campanha (Artur Pereira alegou que a página foi encerrada porque se transformou uma coisa digna numa coisa indigna) não tem, evidentemente, ponta por onde se lhe pegue.
FERNANDO NOBRE (1). Um independente que conquistou quase 600 mil votos (14%) numa eleição presidencial tem todos os motivos para permanecer independente. Afinal, tudo indica que os eleitores que votaram nele fizeram-no, essencialmente, por ser independente, como os inúmeros protestos bem o demonstram. Contrariamente ao que Nobre possa pensar, não se vislumbra que a sua entrada na política partidária, mesmo com o estatuto de independente, seja uma mais-valia para o PSD, muito menos para a política e para o país. Pelo contrário, só vem descredibilizar ainda mais a política e os políticos.
OS DEPUTADOS QUE TEMOS. Quando as viagens de avião dos eurodeputados eram pagas ao quilómetro, eles escolhiam ir em turística. Depois, passaram a ser reembolsados só mediante a entrega do bilhete e começaram a viajar em executiva.
A IRONIA É SÓ PARA QUEM PODE. Como um professor tem obrigação de saber, uma vírgula fora do sítio pode fazer toda a diferença.
POIS NÃO. «Um país incapaz de afinar o discurso quando está à beira do abismo não consegue o respeito dos seus pares.» Editorial do Público de domingo
OLHA A NOVIDADE. Decisão de condenar gestores é "uma história de ficção"

8 de abril de 2011

O PRÓXIMO PROBLEMA. Parafraseando o outro da bola, quem chega a secretário-geral do PSD arrisca-se a ser primeiro-ministro. Passos Coelho arrisca, portanto, formar governo após as eleições de Junho, embora as sondagens apontem uma espantosa proximidade entre PS e PSD, e os adversários internos, muitos e bons, tudo farão para o impedir. Apesar de Sócrates, a quem as mesmas sondagens dão uma votação impressionante (e que poderá melhorar após o confronto directo com o líder do PSD), é o cenário mais plausível. Infelizmente, o líder do PSD tem vindo a demonstrar não saber o que quer, que ora quer o que ainda ontem jurava não querer — e a situação do país requer que se saiba o que fazer e determinação para o fazer. Obviamente que só o tempo dirá se Passos Coelho é o homem certo no lugar certo na altura certa, mas nunca as minhas expectativas foram tão baixas.

7 de abril de 2011

ESTOU A LER. As I Walked Out One Midsummer Morning, cuja primeira edição data de 1969 e conta uma viagem do autor (Laurie Lee) pela Espanha de 1935, está a ser uma bela surpresa. Para começar, fez-me lembrar os relatos de viagens de Camilo José Cela reunidos em Vagabundo ao Serviço de Espanha, Journey to the Alcarria, Viaje al Pirineo de Lerida e Del Miño al Bidasoa, como os títulos sugerem o primeiro lido em português, o segundo em inglês, e o terceiro e o quarto (por terminar) em espanhol. E fazer-me lembrar os relatos das viagens de Cela, para mim o que há de melhor na literatura do género, não foi pouco.

5 de abril de 2011

GAIN IN TRANSLATION. Os espanhóis apreciam mais a obra de Saramago que os portugueses? Não admira. Afinal, nuestros hermanos leram a obra de Saramago em espanhol, e qualquer obra de Saramago que não seja na língua original melhora substancialmente.

1 de abril de 2011

VENHA O DIABO E ESCOLHA. Se dúvidas houvesse, a vitória «norte-coreana» de Sócrates nas «directas» do PS demonstra que o primeiro-ministro em funções está aí para as curvas. O timing da demissão foi perfeito para o primeiro-ministro? Tudo indica que foi. Toda esta novela foi pensada por Sócrates de modo a que assim sucedesse? Tudo aponta para aí. Foi um golpe do primeiro-ministro destinado a provocar eleições, como defende António Barreto? Tudo leva a crer que sim. Mas todo este filme de série B veio pôr a descoberto o que há muito se suspeitava: a oposição com pretensões a ser governo não está preparada para governar, o que é uma péssima notícia. Demonstrou mais: os que acusam Sócrates de recorrer a processos pouco ortodoxos para se manter no poder são os mesmos que ainda há pouco sugeriram métodos pouco ortodoxos para correr com ele. A chefia de um «governo de salvação nacional» (ou lá como se chama) por outra pessoa que não Sócrates (chegou a falar-se de Jaime Gama e de Luís Amado), como alguns sugeriram, é um bom exemplo do que digo, embora a forma como surgiu só podia ter redundado em fracasso. Queiramos, ou não, Sócrates é um osso duro de roer, e só vai sair de cena quando o voto assim o ditar. Pelo andar da carruagem, não tão cedo como seria desejável. Que Passos Coelho se prepare, portanto, para engolir o que disse quando disse não estar disposto a fazer alianças com Sócrates. Aliás, o líder social-democrata já nos habituou aos recuos, para não lhe chamar outra coisa.