4 de setembro de 2019
NOVILÍNGUA. Lembro-me de Ricardo Salgado, já com o BES em queda livre, dizer, nas televisões, que o banco que então dirigia iria dispensar não sei quantos colaboradores. Fiquei a pensar no verbo (dispensar) e no substantivo (colaboradores), expediente na altura pouco usado e que agora se generalizou. Mas se isto me pareceu normal vindo de quem vinha, já me chateia ver os jornalistas repetir a novilíngua dos salgados. Chateia-me que se diga dispensar em vez de despedir, colaboradores em vez de trabalhadores — e a crise mais ou menos generalizada dos media não serve de desculpa, muito menos neste caso concreto. Se há assuntos que não se justificam com as desculpas do costume, este é um deles. Mais que impotência, é puro desleixo, pelo que fariam bem os jornalistas prestar mais atenção a quem tenta vender gato por lebre, pois não o fazendo acabam por ser cúmplices. Fariam bem, já agora, escrever ou falar de modo a serem entendidos pela generalidade dos leitores, ouvintes, telespectadores, que não têm que saber vocabulário técnico. E não falo do jornalismo económico, jurídico ou cultural, embora também a este fizesse bem esforçar-se para chegar ao público em geral. Não é fácil, eu sei. Mas quem sabe realmente o que diz, descobrirá maneira de o dizer de modo a que todos entendam.
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