19 de junho de 2021
RONALDO METEU ÁGUA. Parece-me consensual que Cristiano Ronaldo é um dos dois ou três melhores futebolistas da actualidade, se não o melhor. Qualquer apreciador de futebol lhe reconhece, como desportista e profissional, um desempenho excepcional, só ao alcance de quem é, de facto, excepcional. Pessoalmente, devo-lhe alguns momentos felizes, não só ao serviço da selecção, pelos quais agradeço. Já o desempenho como cidadão é questionável, e como figura pública, nem sempre se comporta como modelo a seguir — como muitos exigem e eu, por motivos que não cabem aqui, sempre discordei. Dito isto, o episódio da Coca-Cola, em que Ronaldo surge numa conferência de imprensa a recomendar que se beba água em vez de refrigerante, teve graça, soou bem e foi muito elogiado, mas não me comoveu. Entre outras empresas, Ronaldo é patrocinado pela Nike, várias vezes acusada, sempre com razão, de utilizar mão-de-obra escrava e infantil. Não me consta que o jogador alguma vez se tenha mostrado desagradado com tais práticas, muito menos que tenha boicotado os produtos da Nike — da qual, segundo a Der Spiegel, receberá 162 milhões de euros até 2026. Acresce que Ronaldo conhece bem as regras do universo em que se move, e não me consta que no Europeu tenham mudado. Participar num evento como o Europeu significa, à partida, aceitar as regras, pelo que se percebe mal o gesto de Ronaldo, na minha opinião irreflectido. Até porque é injusto criticar, de um modo geral, os patrocinadores, que estão lá porque foram convidados a contribuir com milhões. Não que o tenham feito por filantropismo, como é óbvio, mas porque os patrocinadores acharam um bom negócio — como achou um bom negócio quem os convidou.
14 de junho de 2021
AS MENTIRAS DE GOMES FERREIRA. José Gomes Ferreira (JGF) publicou um livro sobre História de Portugal unanimemente considerado intragável. Lidas meia dúzia de críticas e ouvido um podcast (Falando de História, para o qual chamo particular atenção), percebe-se porquê. Factos Escondidos da História de Portugal é uma mentira total. JGF (não confundir com o escritor José Gomes Ferreira, falecido em 1985) partiu para a «investigação» com ideias pré-concebidas, pelo que investigou o que se ajustava às suas ideias pondo de parte tudo o que o desviasse desse propósito — procedimento, como está bom de ver, inaceitável em qualquer investigação digna desse nome. Depois desafiou os historiadores portugueses (que acusou de estarem a mando de «agentes do Estado nomeados pelos governos» sem nunca o demonstrar) a ter a coragem de mudar o que assegurou, já se viu como, estar errado. JGF promete um segundo volume, resultante de uma «investigação» que lhe levou dois anos e meio a concluir. Convém lembrar que Gomes Ferreira é jornalista, ao que dizem prestigiado na área da economia, segundo as más-línguas uma ciência que tem o seu quê de astrologia — e que o caso em apreço parece confirmar. Mas há mais: JGF é director-adjunto de informação da SIC, pelo que as mentiras dadas à estampa, comprovadas por quantos falaram do livro, levanta uma questão presumo que embaraçosa: o que acharão deste episódio os jornalistas da casa?
4 de junho de 2021
DESTRUIR A DEMOCRACIA. O ex-presidente Trump e grande parte do Partido Republicano (PR) prosseguem a cruzada para destruir a democracia. Sim, a democracia, embora também o Partido Democrático. Não são os adversários políticos que o dizem. São destacadas figuras do próprio PR, que arriscam as suas carreiras só por dizer o elementar. A arma é a mesma de sempre: desmentir os factos comprovados todos os dias, nos casos piores repetir até à exaustão a grande mentira (a eleição de Trump foi roubada apesar de nenhuma prova e dezenas em contrário). Embora sejam a minoria do PR (mas a minoria que manda), as sondagens demonstram que há quem se dê bem com isso. Temos, assim, o que resta do PR que se conhecia resumido a meia dúzia de voluntaristas, que se recusam a engolir as patranhas do chefe e, a seu tempo, arriscam o destino da ex-número três, afastada do cargo por não alinhar na doutrina segundo a qual Trump perdeu as eleições porque foi roubado. O que resta do partido de Lincoln é um bando de cobardes, que de momento alinha com quem manda e amanhã alinhará com quem lhe suceder. Resta dizer que o outrora Grand Old Party faz falta à democracia americana.
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