15 de fevereiro de 2023
PECADORES (1). Os mandantes da Igreja Católica sempre gostaram de pregar, como aparente humildade, que a Igreja a que pertencem é feita de pecadores. De facto, nota-se bastante. Como não chegassem a Inquisição e outras misérias passadas, todos os dias somos confrontados com novos episódios escabrosos, no caso em apreço ocultados pelas chefias durante décadas. O que inicialmente pareciam excepções, sabe-se agora que são mais do que se supunha. Vejamos, apenas, o caso português, que esta semana ficamos a conhecer com a divulgação dos resultados de uma investigação aos abusos sexuais de crianças na Igreja Católica. Quase cinco mil menores foram vítimas de abusos sexuais entre 1950 e 2022, um terço dos quais com idades entre os dois e os nove anos — números, como é óbvio, muito longe da totalidade dos casos existentes. Dos cinco mil, apenas 25 dos 512 testemunhos recolhidos pela comissão foram enviados para o Ministério Público, justificando a comissão tão reduzido número devido à prescrição de grande parte dos casos, por um lado, e ao anonimato das vítimas, por outro. Setenta e sete por cento das vítimas detectados pela comissão nunca apresentaram queixa à Igreja, e só 4% fez queixa judicial. Os abusos, cometidos maioritariamente por padres, aconteceram, sobretudo, em seminários, colégios internos, confessionários, sacristias ou na casa dos padres, havendo ainda casos a registar em agrupamentos de escuteiros. O pedopsiquiatra Pedro Strecht, que chefiou a investigação, alerta que não se deve confundir a parte com o todo. O problema é que são tantas as excepções que se torna difícil ver a regra. Bem ou mal, justamente ou injustamente, os pastores da Igreja Católica portuguesa arriscam-se a ser vistos pela generalidade das pessoas como suspeitos de malfeitorias da pior espécie até prova em contrário.
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