9 de maio de 2023
JORNALEIRISMO (3). Depois de incontáveis ameaças explícitas durante meses, o presidente da República quis remodelar o Governo na praça pública. O resultado é conhecido: o primeiro-ministro recusou-se a fazê-lo, e o presidente perdeu a cabeça. Os comentadores (e os jornalistas da área política de um modo geral) reagiram com um misto de espanto e indignação. Segundo eles, Marcelo Rebelo de Sousa foi «humilhado» por António Costa. O jornalista Miguel Pinheiro escreveu, pouco antes deste episódio, o seguinte: «(...) ao contrário do que muitas vezes pensam governantes e líderes partidários, os jornalistas não fazem política — fazem, como o seu próprio nome indica, jornalismo.» Foi esta a reacção do director-executivo do Observador a um comentário do primeiro-ministro, que pouco antes tinha dito não ter os media por sua conta de modo a dizer o que lhe apetece. Mas Miguel Pinheiro sabe bem que não é esse o jornalismo que se pratica na generalidade das redacções, especialmente na área do jornalismo político, onde os jornalistas misturam factos e opiniões que depois fazem passar apenas por factos. E os comentadores, que alternam o jornalismo puro e duro com a análise, mais parecem comiceiros que analistas. Sim, os jornalistas da área polícia fazem tudo menos jornalismo, e os exemplos abundam. Quem ganha com isso, não sei. O jornalismo decerto não é. O país ainda menos.
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