19 de novembro de 2023
OPERAÇÃO RODA LIVRE. É sabido que a Justiça é célere a acusar, morosa a provar e desastrosa a condenar. Como o jornalista Pedro Tadeu lembrou a semana passada com uma dezena de casos, os exemplos sobejam. Qual é o problema de o presidente do parlamento pedir esclarecimentos ao Ministério Público (MP) sobre a Operação Influencer? É uma pressão inaceitável? Pressão pode ser, inaceitável é que não vejo porquê. Tudo o que se sabe até hoje é que o primeiro-ministro, que se demitiu alegando estar sob suspeitas sobre a sua pessoa, está na mira do MP, que não esclareceu os portugueses por que motivo. Não só não esclareceu como pôs a circular a transcrição de escutas telefónicas onde António Costa Silva, ministro da Economia, é identificado como sendo António Costa, primeiro-ministro — um erro grosseiro que custa a crer que tenha sido inocente. Depois, não se percebe que o MP tenha mandado prender cinco arguidos durante vários dias e pedido ao juiz de turno que lhes fosse imposta prisão preventiva, e o juiz não só não viu motivo para tanto como os libertou em troca de cauções irrisórias para quem terá cometido os crimes de que o MP suspeita. O MP não pode continuar a esconder impunemente a informação que é de interesse público, alegando o sempiterno segredo de justiça — graças ao qual, através das indispensáveis (e criminosas) fugas de informação, só ficamos a saber o que as partes querem que se saiba. Aos órgãos de soberania exige-se, antes de mais, transparência. Depois, que prestem contas. A procuradora-geral da República tarda em fazer o que já devia ter feito.
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