19 de setembro de 2003
«Padre Júlio era um padre especial, diga-se desde já. Vociferava contra os ricos e transformava cada homilia num inferno de caldeirões e almas a arder. Pregava contra os pecados da carne e do dinheiro, mas almoçava sempre em casa de boa mesa. Era visto de mãos dadas com senhoras devotas. Dizia mal da política e dos políticos, mas era membro do partido único, a União Nacional. Parecia um revolucionário, mas fazia frequentemente o elogio de Mussolini. Era um padre original. Quando Xavier lhe confessou as dúvidas sobre a existência de Deus, ele respondeu-lhe: E quem as não tem?» Eis um cheirinho de «A Terceira Rosa», de Manuel Alegre, o último título distribuído com o "Público". Trata-se de um livro que se lê com gosto, e como quem lê um blogue. E nada de preconceitos: eu não comungo das ideias de Manuel Alegre, embora concorde com ele em variadíssimos assuntos e o reconheça como um homem que pensa pela sua própria cabeça. Mas isso não me impede de recomendar o livro na mesma.