30 de junho de 2003
O Meu Pipi deu uma entrevista ao "Expresso", terá uma proposta para publicar um livro e já foi motivo para um (excelente) poema de Vasco Graça Moura (publicado pelo Abrupto). Quer isto dizer que o Pipi daqui a nada já foi?
Um estudo efectuado pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros concluiu que os portugueses lêem, em média, 11 livros por ano. Como sempre acontece que são divulgados números sobre esta matéria, não há comentador de serviço que não venha dizer que os portugueses lêem pouco. Ora, sem querer contestar o estudo em causa (desconheço os métodos utilizados e não sou especialista na matéria), eu não acredito que os portugueses lêem, em média, 11 livros por ano. Mas imaginemos que sim, que o número reflecte a realidade. Nesse caso, porquê tanta lamúria? Não seria um número razoável?
27 de junho de 2003
Eça de Queirós fazia, nas "Cartas de Inglaterra", o seguinte retrato de Portugal:
«Somos o que se pode dizer um povo de bem, um povo boa pessoa. E a nação, vista de fora e de longe, tem aquele ar honesto de uma pacata casa de província, silenciosa e caiada, onde se pressente uma família comedida, temente a Deus, de bem com o regedor e com as economias dentro de uma meia... A Europa reconhece isto: e todavia olha para nós com um desdém manifesto. Porquê? Porque nos considera uma nação de medíocres: digamos francamente a dura palavra — porque nos considera uma raça de estúpidos».
E depois acrescentava:
«Dir-me-ão que eu sou absurdo ao ponto de querer que haja um Dante em cada paróquia e de exigir que os Voltaires nasçam com a profusão dos tortulhos. Bom Deus, não! Eu não reclamo que o país escreva livros, ou que faça artes: contentar-me-ia que lesse os livros que já estão escritos e que se interessasse pelas artes que já estão criadas. A sua esterilidade assusta-me menos que o seu indiferentismo. O doloroso espectáculo é vê-lo jazer no marasmo, sem vida intelectual, alheio a toda a ideia nova, hostil a toda a originalidade, crasso e mazorro, amuado ao seu canto, com os pés ao sol, o cigarro nós dedos e a boca às moscas...»
Será que nos afastávamos assim tanto deste retrato?
«Somos o que se pode dizer um povo de bem, um povo boa pessoa. E a nação, vista de fora e de longe, tem aquele ar honesto de uma pacata casa de província, silenciosa e caiada, onde se pressente uma família comedida, temente a Deus, de bem com o regedor e com as economias dentro de uma meia... A Europa reconhece isto: e todavia olha para nós com um desdém manifesto. Porquê? Porque nos considera uma nação de medíocres: digamos francamente a dura palavra — porque nos considera uma raça de estúpidos».
E depois acrescentava:
«Dir-me-ão que eu sou absurdo ao ponto de querer que haja um Dante em cada paróquia e de exigir que os Voltaires nasçam com a profusão dos tortulhos. Bom Deus, não! Eu não reclamo que o país escreva livros, ou que faça artes: contentar-me-ia que lesse os livros que já estão escritos e que se interessasse pelas artes que já estão criadas. A sua esterilidade assusta-me menos que o seu indiferentismo. O doloroso espectáculo é vê-lo jazer no marasmo, sem vida intelectual, alheio a toda a ideia nova, hostil a toda a originalidade, crasso e mazorro, amuado ao seu canto, com os pés ao sol, o cigarro nós dedos e a boca às moscas...»
Será que nos afastávamos assim tanto deste retrato?
26 de junho de 2003
Se bem se lembram, o Governo decidiu contribuir com uma força da GNR para o processo de paz do Iraque. Após ter sido tomada a decisão, descobriu-se que a GNR não tinha equipamento adequado para desempenhar a missão. Agora, o ministro da tutela já fala em atrasar um mês a partida para o Iraque de molde a garantir que os nossos patrícios partam com todos os meios necessários. Ou então, diz o ministro, resta-nos pedir material emprestado aos italianos. Se esta estória tivesse moral, a moral só poderia ser esta: quando já não for precisa para nada, a nossa GNR estará pronta a actuar.
24 de junho de 2003
Só agora tive oportunidade de ler o famoso texto de Pedro Rolo Duarte sobre os blogs, no "DNA", graças a uma alma caridosa que se encarregou de fazer circular uma cópia pela Internet. Além da ignorância de Pedro Rolo Duarte acerca dos blogs, fiquei a saber que o director do DNA, se pudesse, legislaria no sentido de que os blogs só existiriam com a seguinte "reserva legal": "só a eles deveriam ter acesso os que, pelas mais diversas razões, não têm espaço próprio nos órgãos de comunicação". Alguém me sabe dizer qual é o problema de Pedro Rolo Duarte?
O presidente Bush não disse que as armas de destruição maciça do Iraque "foram destruídas pelos iraquianos antes do ataque norte-americano", como nos quer fazer crer Vital Moreira na sua crónica de hoje. O que o presidente Bush disse foi que a destruição dessas armas pelos iraquanos antes do ataque norte-americano é uma possibilidade, o que é diferente. E depois vem o senhor Vital falar de mentiras.
23 de junho de 2003
Depois do chumbo no referendo, em 1998, aí está a versão dois da regionalização. Agora com cinco regiões em vez de oito, porque os socialistas nos querem convencer de que a regionalização teria vingado caso tivessem sido propostas cinco regiões em vez de oito. "Grande parte das pessoas que defenderam o 'não' em 1998 (...) não eram contra a regionalização mas contra o modelo então proposto a referendo", garante o líder do PS/Porto. E com base em quê que Francisco Assis garante a suposta evidência? Com base em coisa nenhuma, evidentemente.
22 de junho de 2003
A Constituição Europeia, de que tanto se tem falado nos últimos dias, não é precisa para nada, garante António Barreto.
20 de junho de 2003
Manuel Villaverde Cabral escreveu, no «DN», uma crónica contra os reaccionários. Mas, afinal, o que é um reaccionário?
«Vão longe os tempos épicos em que o jornalista era associado a uma imagem de cavaleiro sem mácula, batalhando denodadamente pelo interesse público e a busca da verdade», diz Vicente Jorge Silva na sua última crónica no «Diário Económico». Por uma vez estamos de acordo.
19 de junho de 2003
Várias têm sido as pessoas que me têm perguntado porquê «Esmaltes e Jóias». Aqui vai a resposta: trata-se do título da obra de estimação de Artur Corvelo, personagem principal de «A Capital», que eu não me canso de ler e recomendo vivamente. Aliás, raramente se fala deste livro quando se fala de Eça de Queirós, o que me parece uma injustiça. «A Capital» nada fica a dever a «Os Maias», por toda a gente considerado uma obra-prima (mesmo por quem nunca leu o livro).
18 de junho de 2003
Já toda a gente sabe mas nunca é demais repetir: Francisco José Viegas tem um blog. Ou seja, outra boa notícia.
Um bordel australiano está a oferecer um desconto de 5% aos aposentados que usarem os seus serviços. A ideia é aumentar a clientela dessa faixa etária, que ao fim de semana já representa 20 por cento do total. Vinte por cento do total? Sim, vinte por cento do total. O proprietário do bordel garante que todas as funcionárias foram treinadas em primeiros-socorros e "técnicas de ressuscitamento", para o que der e vier. E ainda dizem que não há boas notícias.
16 de junho de 2003
O prof. César das Neves decretou o fim do jornalismo. Calma, é só para o ano 2020. Alguém imagina a razão do óbito? A falta de censura, pois então.
As 170 mil obras supostamente roubadas do Museu de Bagdad logo após a entrada da tropa americana naquela cidade eram, afinal, 33. Quem o disse foi o próprio director do museu e não me lembro de ter visto qualquer rectificação na imprensa portuguesa. Os pormenores estão no Washington Post do dia 8 de Junho.
13 de junho de 2003
Definitivamente que os blogs estão na moda. Depois de várias referências nos jornais, os blogs mereceram editorial no "Público" e comentários pertinentes de Pacheco Pereira no "Abrupto". Só faltou ao eurodeputado dizer que há uma espécie de "pacto estratégico" entre os blogs com o seguinte objectivo: ora agora falo eu bem de ti, ora agora falas tu bem de mim. Tirando isto, está lá tudo.
José Saramago está senil, diz Maria Filomena Mónica no "Público" de hoje. Uma crónica inteiramente dedicada ao "Fórum Social Português" que vale a pena ler com atenção.
12 de junho de 2003
"As verbas referentes à construção dos dez estádios [que vão albergar o Euro'2004] já derraparam em mais de 127 milhões de euros", diz o "Diário de Notícias" de hoje. Mas o secretário de Estado do Desporto já desmentiu. O que há, diz ele, são "ajustamentos". Não há nada como as subtilezas da língua.
11 de junho de 2003
Ainda estou a digerir a conferência de imprensa e a entrevista da dona Fátima Felgueiras. Mas, para já, posso dizer que se cumpriu o que se esperava: a senhora está inocente, não fugiu às responsabilidades, é uma vítima do (mau) funcionamento da justiça. O único dado que eu não esperava é que ela se considerasse uma "exilada política". Mas, bem vistas as coisas, o senhor Ramalho (advogado da senhora) já o tinha dado a entender. Tudo isto em directo nas televisões, em horário nobre, como num país do terceiro mundo.
10 de junho de 2003
9 de junho de 2003
Mário Soares, Ruben de Carvalho e Miguel Sousa Tavares insistem em dizer que Wolfwitz disse o que não disse, apesar de saberem que a versão que para aí circula foi deturpada. Esta gente tem tanto horror à verdade que não hesita em mudá-la de molde a servir os seus próprios desejos. Bem podem os jornais fazer desmentidos solenes, como foi o caso do "Público" e do "Guardian", que nada demove estes senhores. Sim, há a possibilidade de esta gente nem sequer se ter dado ao cuidado de ler as declarações de Wolfwitz, o que seria imperdoável mas teria atenuante. Só que, se assim for, será que vão repor a verdade nas próximas colaborações nos jornais? Evidentemente que não vão.
6 de junho de 2003
Em vez de se documentar, como seria sua obrigação, Miguel Sousa Tavares deixou-se levar pela onda de mentiras que por aí circulam e que atribuem a Paul Wolfowitz coisas que ele não disse. Depois aproveita para acrescentar mais umas "provas" que só ele conhece e ajuntar mais um chorrilho de mentiras, valha a verdade que nem todas da sua autoria. Com certeza que são respeitáveis todas as ideias, mesmo as mais disparatadas. Mas a mentira definitivamente que não é.
Finalmente aparece alguém da chamada imprensa de referência (os blogs já o fizeram há muito tempo) a repor a verdade sobre o caso Wolfowitz. José Manuel Fernandes, director do "Público" (jornal não isento de pecados nesta estória), escreve hoje sobre o caso.
4 de junho de 2003
Numa das crónicas reunidas sob o título "Cartas de Inglaterra", Eça de Queirós faz um retrato da nação portuguesa que vale a pena lembrar: «(...) vista de fora e de longe, tem aquele ar honesto de uma pacata casa de província, silenciosa e caiada, onde se pressente uma família comedida, temente a Deus, de bem com o regedor e com as economias dentro de uma meia... A Europa reconhece isto: e todavia olha para nós com um desdém manifesto. Porquê? Porque nos considera uma nação de medíocres: digamos francamente a dura palavra – porque nos considera uma raça de estúpidos». Será que o retrato do Portugal actual mudou assim tanto?
3 de junho de 2003
O professor Abdelilah Suisse disse hoje, no "Público", que a Al-Jazira tem tido um «excelente papel informativo e didáctico na mentalidade dos cidadãos árabes, tornando-se, sem dúvida, o modelo ideal da boa informação». Modelo ideal da boa informação? Foi o que ele disse. A teoria do sr. Abdelilah fez-me logo lembrar o artigo da capa da última "Spectator", que aconselho vivamente.
2 de junho de 2003
O "Público" de hoje publicou uma curiosa rectificação de Maria José Nogueira Pinto. Segundo ela, não é verdade que tenha dito que também teria fugido para o Brasil caso estivesse na mesma situação que Fátima Felgueiras, como o "Público" noticiou em primeira página. Se lhe perguntassem o que faria numa situação dessas, Maria José teria respondido assim: «a única resposta séria é talvez». E deu-se ela ao trabalho de fazer uma rectificação para nos dizer isto.
1 de junho de 2003
«Se (...) as armas [de destruição maciça] não forem encontradas, então esta guerra [do Iraque] não teve qualquer legitimidade», disse Mário Soares numa conferência. Quer isto dizer que a guerra teve legitimidade se as tais armas forem encontradas? Tudo indica que sim. Assim sendo, trata-se de uma evolução da "teoria" do dr. Soares sobre a guerra. Primeiro, era ilegítima. Depois, passa a sê-lo se forem encontradas as armas.
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