6 de janeiro de 2004
À crítica musical devo o meu interesse pela música. Mesmo aos críticos com quem nunca estive de acordo, que me obrigaram a reexaminar os meus gostos e acabaram por reforçar as minhas convicções. À crítica musical devo, ainda, a evolução dos meus gostos para outras músicas, nomeadamente para o jazz e para a chamada música clássica, neste caso por ignorá-la. De tanto ouvir os críticos, cheguei a um ponto em que estava tão cheio de preconceitos que quase não conseguia fruir a música livremente. Ouvir música quase deixou de ser um prazer lúdico para ser um mero exercício, interessante ao princípio mas cansativo depois. Hoje não leio uma crítica musical e não mexo uma palha para saber o que estou a ouvir. Assim me sinto inteiramente livre para fruir o que ouço, e estou-me nas tintas que os especialistas o considerem bom ou mau. Vem isto a propósito de Mary Black e Eva Cassidy, que estive a ouvir esta manhã e recomendo vivamente. Sei quase nada de cada uma delas, excepto que são duas vozes que não me canso de ouvir.