7 de setembro de 2004
Só agora dei conta, mas ainda vai a tempo. O José Mário Silva diz que «Os Meios de Transporte» (de Marta Cristina de Araújo) é «um livro que é preciso celebrar», pois foi escrito por uma «autora singular e muitíssimo interessante». Dá um exemplo no Diário de Notícias («O automóvel rompe o começo da noite que amacia os contornos, menos o volume das casas focadas de branco, isoladas, das fincas, onde arquitectos anónimos não registaram o invento de uma fresta de luz»), e outro no Blogue de Esquerda («O mar ali ao lado, mediterrânico, familiar, dos jantares a vê-lo adormecer do terraço, das grandes verdades sustidas na margem, árvores entre o sal e a terra, conhecidas desde a hastezinha e da estaca domadora. Jardineiro sorri entre buganvílias e gerânios, altera o estender à sombra da acácia e do chorão, Ofélia pendente sobre os rios da largura de um corpo longo, vestido de linho e algas. Parca a corrente, assim se ouvem as vozes e loucura do canto. Perto, ainda não as amaráguas do rio Verde, só na estação distante das nuvens raras.»). Face a prosa deste calibre, José Mário Silva recomenda que se goze bem o livro, pois «a essência desta escrita é a subtileza» e «tão depressa não nos deve chegar outro [livro da mesma autora] às mãos». Subtileza? Sim, ele disse subtileza, embora os exemplos transcritos me levem a crer que a prosa da senhora tenha a subtileza de um tijolo.